Poison

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Estava chovendo bastante naquele cinco de janeiro, então era o melhor dia para ficar de tocaia nos arredores da mansão. Eu sempre usava meu antigo uniforme e sempre me arrependia: uma cropped regata, calça jogger e um all star, todo o conjunto na cor preta. O bornal em minha perna estava diretamente ligado ao meu cinto enquanto as tiras laterais se mantinham firmes ao redor da minha coxa direita. A pequena adaga pendurada em meu colar balançava pelo vento frio que passava por entre as árvores.

Meus longos cabelos loiros estavam escuros e molhados, meu nariz começava a ficar vermelho e eu tinha total certeza que pegaria um belo resfriado. Se Blader me visse nessa situação, provavelmente me daria um longo sermão por não estar agasalhada. A mesma passava pelos arredores vez ou outra, mas nunca chegava perto de onde eu estava. De alguma forma eu sabia que ela podia me sentir no local.

Já estava anoitecendo quando virei as costas para voltar para casa, até um grito familiar me botar em alerta.
Miriam. Ela estava perto da saída da floresta sendo puxada pelos cabelos por uma mulher que eu reconheceria em qualquer local: Cristal Amaterasu.

Escondi minha energia e me aproximei vagarosamente. Minha cunhada estava com dor e visivelmente machucada com hematomas e feridas nos braços e pernas. Coloquei a mão no bornal e retirei um soco inglês, andando em passos lentos até conseguir ouvir a discussão que tinham.

- É só dizer onde Ery está e você não vai se machucar mais. - ela sorria cínica - Braco estará seguro também, nem ele e nem Nergo ficarão desprotegidos, a assembléia vai acolhe-los.

- Acha que ficarão felizes ao saber que seu pai vai dar uma recompensa para aquele que lhe trouxer a cabeça dela?! - Miriam gritava, sua expressão era totalmente furiosa - Ainda mais oferecer a mão da própria filha, mas não me impressiona uma vagabunda mimada como você se vender tão fácil por pura birra.

Senti meu sangue gelar ao vê-la levantar um punhal para acertar a ruiva que estava caída em sua frente. Me teleportei para entre as duas e acertei o rosto de Cristal em um golpe forte, mas não fui rápida o bastante para evitar o golpe com a lâmina que pegou no meu abdômen. A morena cambaleou e caiu para trás ficando desnorteada.

Peguei Miriam pelo braço com minha mão esquerda e fiz uma força que mal sabia que conseguia para fechar suas feridas.

- Corra para casa e avise Braco, eu vou ficar bem.

- Não vou te deixar aqui sozinha, ficou maluca?!

- Você não tem forças pra me ajudar no momento e eu treinei a vida toda como uma escrava pra situações como essa. - o sangue saía da minha boca em uma quantidade assustadora - Tenho o básico de primeiros socorros comigo, consigo me virar.

Ela me olhou pela última vez com os olhos totalmente negros e beijou minha mão que a segurava. Soltei-me ao sentir arder e a mesma correu para não perder mais tempo.

Cuidar de uma família exige sacrifícios e, infelizmente, alguns fatos devem ser omitidos em situações como essa. A lâmina que me acertou estava enfeitiçada e nada do que eu fizesse fecharia aquela ferida, não tinha mais forças para usar magia.
Corri novamente para dentro da floresta e tendo a clara sensação de estar sendo perseguida. Eu perderia a consciência em breve, provavelmente havia algum veneno alucinógeno e eu já estava completamente fora de mim, até uma voz me fazer arrepiar o suficiente para acordar um pouco:

- Ery! - aqueles cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo eram reconhecíveis por mim em qualquer ambiente. Blader soltou as armas quando me viu naquele estado e eu tentei correr até ela, mas no meio do caminho meu corpo paralisou sem aviso prévio e eu caí em agonia na terra molhada.

Ery | Slender's ProxyOnde histórias criam vida. Descubra agora