Voyeur

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Eu achei que a minha vida já estava estranha o suficiente, mas essa situação passou de todos os limites que eu poderia imaginar.
Smiley costurava meu pescoço enquanto eu apenas olhava para o nada, torcendo para voltar a conseguir mexer meu corpo.

— Preciso de uma explicação científica pra isso. — ele resmungou, após dar o último nó na sutura.

— Você acha que eu não? — analisei a costura no pequeno espelho em minhas mãos — Me sinto um alien.

— Com uma cabeça desse tamanho... — Tim parecia entediado enquanto era cuidado por Ann na outra maca.

— Não vou discutir com você hoje, tenho coisas melhores pra fazer.

— Ah é, tipo o que?

— Chupar o pau do seu amigo. — me levantei, fitando sua cara de nojo — Pelo menos minha regeneração já curou bastante para mexer meu corpo. Não inveje, Tim. Aposto que alguns aqui adorariam estar com você.

Ele apenas revirou os olhos. Saí pela porta o quanto antes e busquei algumas coisas em minha bolsa ao entrar no quarto. A mansão estava silenciosa e pacífica como nunca antes, então aproveitei para pegar um pouco de tabaco na minha bolsa e fazer um cigarro. Havia largado a nicotina faziam anos, então vez ou outra acendia tabaco para saciar meus pulmões com um pouco de fumaça.

Sentia-me bem olhando a paisagem, a solidão que me rondava era acolhedora. Mas se tratando de onde eu estava, não me surpreendeu sentir alguém se aproximar.

— Não estou fazendo nada ilegal, não se preocupe. — disse, sem olhar para meu tio.

— Acha que sou burro? — um sorriso travesso surgiu em meus lábios — Pense bem antes de responder, Ery.

— Burro? Não. — me virei para ele — Antiquado, manipulador, frio, tirano e insensível? Talvez.

— Não preciso da sua definição sobre mim. Pode ser minha sobrinha, mas ainda é minha subordinada.

— Compreendo, você sempre faz questão de me lembrar disso. — traguei profundamente.

— E você faz questão de não entender. — o fitei novamente — Tenho uma missão para você, Hoodie e Masky. Passarão alguns dias fora para levar um documento importante.

— Chato... — revirei os olhos entediada.

— A criatura se chama Asgaror, mora há três cidades daqui. — ele ignorou meu comentário — Partirão amanhã cedo, não falhem.

Assenti sem ânimo com a cabeça e o vi desaparecer. Suspirei e joguei a guimba do cigarro fora, adentrando novamente a casa e pegando algumas facas para ir até a casa de Nergo, pois meu carro havia ficado com eles.

Como não queria ir sozinha, acabei chamando Timothy para ir comigo. Os outros não estavam na residência, então só sobrou ele.

Não trocávamos muitas palavras, por mais que tentássemos. Apesar de estarmos sempre nos provocando, eu achava ele legal. Claro que preferia morrer do que admitir isso, mas meu sentimento por ele não mudava apesar de tudo.

Paramos ao mesmo tempo no caminho pela floresta. Ele conseguiu sentir a mesma presença que eu e me fitou por trás da máscara. Estalei o pescoço e respirei fundo, logo reconhecendo a energia familiar que pairava perto de nós.

— Ora ora, Profeta. — me virei para olhar o mascarado que nos seguia — Quase senti sua falta.

— Uma pena que não posso dizer o mesmo, Ery.

— Ah, eu sei que sente saudades de mim. — me aproximava vagarosamente e ele deu um passo pra trás — Te intimido, Daniel?

— Prefiro que mantenha distância. Não estou aqui para brigar, apenas rondando.

Ery | Slender's ProxyOnde histórias criam vida. Descubra agora