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Consegui finalmente puxar o ar que eu sentia faltar quando minha alma voltou para o plano material. Foi um alívio ao ver os dois rapazes de cabelos negros que eu tanto amava cuidando da minha ferida que ainda doía como se a lâmina estivesse cravada. Não conseguia dizer uma palavra, apenas chorar.

- Já cuidamos disso, tente apenas não se mexer. - Braco dizia calmamente, mas sua expressão era nervosa.

- Ery, sei que acabou de acordar e precisa descansar, mas por favor me escute. - me virei para Nergo - Estou pouco me fodendo se você é a líder, ainda é nossa caçula. Eu não vou aguentar perder mais um de nós.

Um nó se formou em minha garganta e eu apenas concordei com a cabeça, pois sabia exatamente do que ele estava falando. A morte de meu irmão foi sofrida para todos, mas me ver morrer por dentro após o ocorrido quase destruiu meus primos. Nergo passou a mão pelo meu rosto e enxugou algumas lágrimas que desciam.

- Quero ir pra casa. - minha voz saiu quase como um sussuro.

Ambos se olharam preocupados e aquela situação estava começando a ficar estranha. Nenhum dos dois falou nada, apenas continuaram a cuidar da ferida e eu me permiti apenas fechar os olhos e não questionar. A sensação estranha de que algo não ia bem tomava conta da minha cabeça.

Algumas horas se passaram e finalmente o corte não parecia tão grotesco assim. Cheirava a podre, mas a aparência era razoável.

- Em alguns dias você pode voltar para sua rotina, mas precisamos conversar sobre algo. - Braco olhava em meus olhos e sua expressão era fria - Você precisa ficar aqui, a maioria das famílias da assembléia está querendo sua cabeça, não podemos mais contar com a sorte.

- Nem fodendo. - movi apenas os lábios e Nergo revirou os olhos.

- Se você morrer, eu vou ser obrigado a matar cada um daquela assembléia e extinguir nossa raça, então por favor obedeça seu tio e seu pai até que possamos resolver a situação. - Nergo elevou um pouco a voz e eu apenas fechei a expressão e o encarei.

- O problema nunca foi meu pai. - tentei me levantar, mas falhei após sentir uma dor aguda no abdômen - Você não tem ideia do que Slenderman é capaz.

- Mas você sim, então apenas se porte como antigamente. - a criatura de face vazia apareceu ao pé da cama da enfermaria.

- Am Dhegar não te deu educação? Ouvir a conversa alheia não é muito respeitoso.

- É um prazer te receber de volta, Ery. Lembre-se das nossas conversas anteriores, ou irá para a mansão do seu pai. - ele fez uma pausa e virou a cabeça para janela - Pelo frio que está fazendo, creio que não gostaria de ter que acordar mais cedo e enfrentar a floresta para vir treinar aqui. - travei o maxilar e fechei os olhos. Por um momento, achei que ia chorar, mas acabei engolindo as lágrimas. Filho da puta, desgraçado, verme nojento... - Seus pensamentos ofensivos não me dizem respeito. Agora por gentileza faça o favor de descansar e se recuperar do ataque que sofreu, assim que estiver melhor Timothy e Lins irão lhe informar suas tarefas aqui dentro.

Respirei fundo e esperei que Slenderman se retirasse para continuar a falar com meus primos que mantinham uma expressão fúnebre. Por um momento, parecia que eu havia morrido e tudo era uma ilusão, em outro eu realmente desejava estar morta.

Infelizmente, não demorou para ambos se retirarem daquela enfermaria, me deixando apenas com Smiley e Ann que estavam quietos organizando a papelada. O estresse não me permitia descansar, então fiquei encarando o teto e contando quantas manchas de mofo meu campo de visão conseguia captar, aquele lugar estava caindo aos pedaços e provavelmente seria interditado se passasse pela vigilância sanitária.

Não sei quantas horas passei buscando algum entretenimento para esquecer minha situação, mas foi tempo o suficiente para os proxies lembrarem que eu estava ali e me trazerem um pouco de comida e água. Consegui finalmente me sentar sem muita dor graças à magia e a genética da regeneração e a bandeja foi posta nas minhas coxas.

Toby abraçou minha cabeça com delicadeza enquanto esfregava a bochecha em meus cabelos.

- Não é o melhor momento, mas eu to tão feliz de te ver! - a animação em sua voz era quase contagiante.

- Também senti falta de vocês, rapazes. - levantei um dos braços e o envolvi pela cintura.

- Melhor comer antes que esfrie, o sanduíche foi feito agora pelo seu Dom Juan. - Tim ironizou quando Toby me soltou. O lanche estava realmente com uma cara ótima.

- Coma o quanto antes, te dei medicações fortes e você pode ter refluxo se continuar de estômago vazio. - Smiley disse ao passar por nós.

Eu faria uma piada sobre a comida sair pelo meu ferimento, mas estava com muita fome. Por sorte, a dor não me impedia de comer, apenas incomodava um pouco.
Ao terminar minha refeição, Lins indicou que eu participaria de quase todas as missões como médica para qualquer emergência e ficaria na enfermaria na parte da manhã para dividir a carga horária com Smiley e Ann. Meus treinamentos seriam a tarde e, se eu tivesse um pouco de sorte, teria um dia de folga na semana.

Decidi não pensar nisso até a próxima semana, que é quando minha rotina se iniciava. Tim e Toby foram para seus quartos, visto que já estava bem tarde.

- Qual de vocês dois vai me dizer o motivo da Blader não ter vindo me ver? - alternava os olhos para os lados, fitando um de cada vez.

- Não precisamos dizer nada, você sabe bem a situação que Slender a colocou. - Brian dizia um pouco sem ânimo enquanto sentava na cadeira e se debruçava na cama.

- E meu pai? - perguntei após revirar os olhos.

- Ele foi resolver algumas coisas que não quis contar a ninguém, mas disse que volta em algumas semanas.

- Vou me retirar para que descanse, Ery. - Lins deu um sorriso amigável e colocou algo discretamente embaixo do meu travesseiro - Amanhã retornarei para ver como está.

Ele passou a mão em meu ombro e saiu pela porta de vidro. Brian continuava debruçado e com os olhos pesados, parecia que poderia dormir a qualquer momento.

- Vou esperar que adormeça e saio, prometo. - ele disse, já com os olhos fechados.

Sorri e balancei a cabeça negativamente, pois após alguns minutos ele já estava em sono profundo. Levantei um pouco o travesseiro e desembalei o que Lins havia me entregado e não pude deixar de morder os lábios para conter o riso de felicidade.

Havia um brigadeiro perfeitamente enrolado no plástico e eu sabia bem quem havia mandado. Aparentemente Slenderman não vai conseguir nos manter afastadas por tanto tempo.

Ery | Slender's ProxyOnde histórias criam vida. Descubra agora