Girl's Night

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Voltei no banco de trás do carro, estava cansada após a noite anterior, porém saciada. Admirava a paisagem e ria com um comentário ou outro que os dois soltavam durante a viagem.

A volta foi tão rápida que me surpreendi ao ver a mansão de meu tio entrar no nosso campo de visão. Me alonguei ao sair do carro e sentia alguns músculos doloridos por passar tanto tempo parada.

— Agora preciso voltar para a enfermaria, vai ser um longo dia. — cocei os olhos quando estes arderam pelo sol.

— Tente não mandar ninguém pra lá. — Tim sorriu — Se bem que, pelo seu bom humor, duvido que vá ferir alguém por algum tempo.

— Você não conhece ela mesmo. — Brian disse  quando passamos pela porta.

Me despedi de ambos e bati no quarto de Jeff, que provavelmente ainda estava dormindo pela ausência de resposta. Abri a porta de seu quarto devagar na esperança dele estar vestido.

Por sorte, seu corpo estava coberto pelo edredom e um pijama quente. O sacudi de leve e o mesmo se virou para mim, ainda adormecido.

Um riso escapou de meus lábios quando vi a máscara de dormir que ele usava. Nesta haviam os dizeres "não estou morto, apenas dormindo". Eu havia lhe dado de presente há alguns anos e o mesmo guardou durante todo esse tempo.

— Ei, Jeff. — sussurrei o sacudindo com um pouco mais de força — Acorda, preciso cauterizar essas cicatrizes. Enrolamos tempo demais!

— Só mais cinco minutos. — respondeu com a voz sonolenta.

— Anda, preciso te examinar logo. Hoje é dia de treinamento da Blader, a enfermaria vai encher. — tirei a coberta de seu corpo, mostrando o moletom que vestia.

Meu amigo resmungou alguns palavrões e se levantou devagar. Retirou a máscara e a colocou em cima do travesseiro, me fitando em seguida.

— Prometo fazer um bom café da manhã pra você por te acordar tão cedo. — coloquei uma mão em suas costas e o guiei para fora do quarto.

Ele assentiu ainda com sono e fomos até a enfermaria, onde se deitou na maca e aguardou que eu vestisse o jaleco e higienizasse as mãos. Peguei um bisturi e fui até ele, que parecia que dormiria a qualquer momento.

Fiz a limpeza da área e apliquei a pomada anestésica, mesmo sabendo que doeria de qualquer forma.

— Queria muito dizer que vai ser tranquilo, mas isso vai doer um pouco.

— Era pra eu ficar calmo? Não funcionou. — debochou de mim.

— Engraçadinho. Pense bem antes de abrir esses cortes novamente.

Esquentei a lâmina com uma pequena chama em meu dedo e virei seu rosto para mim. Mesmo sendo resistente a dor por conta da pele, as feridas ainda se mantinham sensibilizadas, então Jeff me xingava toda vez que eu tocava a lâmina quente em sua pele.

As pomadas aplicadas após o processo fizeram Jeff relaxar. Anestesiavam a dor e deixavam uma sensação de refresco.

— Como foi a missão? — ele me perguntou e um calor agradável percorreu meu corpo pelas lembranças.

— Normal, a mesma merda de sempre. — respondi enquanto examinava seus olhos.

— Você é uma péssima mentirosa, sabia? — sorri com sua fala — Não sei o que aconteceu, mas seu olhar mudou assim que perguntei.

— Às vezes é melhor nem saber. — sorri e arqueei uma sobrancelha.

— Timothy deve ter ficado triste de ser a vela. — comprimi os lábios e ele notou — Ery...

— Sem julgamentos. Sei de coisas sobre sua vida sexual que fariam o Slender te botar pra fora daqui. — ele riu pelo nariz.

Seus olhos estavam normais, o colírio que o dei na última consulta estava fazendo bem a ele. Por tê-lo acordado tão cedo, fiz um sanduíche para seu café da manhã e ele comeu com dificuldade pela medicação em seu rosto.

O dia na enfermaria foi bem movimentado. Provavelmente maninha estava de mau humor e descontou nos moradores que treinaram com ela.

Enquanto costurava o braço de Toby, uma ideia me veio na cabeça. Blader e eu nunca tivemos um momento juntas para descansar, então planejei tudo enquanto terminava de tratar meu colega.

Por sorte, as duas que eu mais queria ver no momento, entraram na enfermaria.

— Precisava mesmo falar com vocês duas. — me virei para Jane e Clockwork — Amanhã é domingo, então hoje quero fazer uma noite das garotas.

— Se chamar a Nina eu to fora. — Jane cruzou os braços.

— Eu disse garotas, não pirralhas. — elas riram pelo nariz. — Vamos fazer as unhas, assistir filmes e falar mal dos outros.

— Vejo vocês no meu quarto às 20:00. — Clock disse, saindo pela porta de vidro.

Sorri animada dando o último nó na sutura. Toby estava inconsciente e ficaria sob os cuidados de Smiley na minha ausência.

Às 19:30 estava liberada, então peguei um pijama confortável e fui me banhar para relaxar. Depois, passei novamente no quarto e botei um travesseiro e um cobertor embaixo do braço, quase saltitando de felicidade até a última porta do corredor.

Bati e logo uma morena entediada a abriu.

— Você não vai dormir aqui de novo, se resolva com Brian. — ela ir fechar a porta, mas impedi com meu pé.

— Nem você. Noite das garotas, anda. — ela revirou os olhos — A Jane fez brigadeiro.

Um quase sorriso brotou em seus lábios e Blader pegou o necessário, me seguindo até o quarto de Clockwork.

Todas colocamos a cor preta nas unhas enquanto um filme qualquer passava na televisão. Eu conseguia arrancar alguns risos de Blader com meu humor questionável, mas ainda sim ela parecia um pouco frustrada.

Já passava das duas da manhã quando nos deitamos. Maninha e eu ficamos no chão e as outras duas na cama.

Notei que ela parecia mais inquieta do que de costume.

— No que tanto você pensa? — sussurrei para ela.

— Lins, Zalgo, Slenderman... — ela respondeu no mesmo tom — tá difícil colocar a cabeça no lugar com tanta coisa acontecendo.

— Eu entendo. Também tô preocupada com meus primos, não tenho um bom pressentimento da situação. — suspirei — Não toco violino, mas se quiser posso cantar pra você dormir.

— Fala sério, Ery. — um riso escapou de seus lábios.

— Tenho a música perfeita pra você. — ela arqueou a sobrancelha — "Seu pai não é um homem bom, nem cheio de bem querer. Você é filha dele, mas o que tem nele não tem em você."

— Acho que a música não era assim. — ela disse após tirar a cara do travesseiro para conter a gargalhada.

— Agora é, acabei de compôr pra você. — ela tentava não fazer barulho enquanto ria — Viu? Vai achando que é só teu namorado que te tem como musa inspiradora.

— Você não tem jeito. — soltou um longo bocejo — Até que a canção funcionou.

Me certifiquei que ela estava dormindo para tentar pegar no sono. Foi uma noite divertida e de descontração que eu gostaria de repetir sempre.

Ery | Slender's ProxyOnde histórias criam vida. Descubra agora