Especial de Natal

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— Jeffrey Woods, se você ousar tacar essa bola de neve em mim, te faço ficar com Garthos pela eternidade! — Blader gritou ao ver meu amigo se aproximar com as luvas esbranquiçadas.

— Essa doeu. — levei a mão para o peito, fingindo estar ofendida.

Desde que as crianças nasceram, o Natal se tornou um evento anual obrigatório e, mesmo que já tenham crescido, continuamos a comemorar como uma família normal. Claro que Jeff adorava importunar minha irmã jogando neve em seus cabelos, já que na primeira vez foi acidental e fez a pequena Mia rir até a barriga doer.

Bem, isso já fazem vinte anos.

Saímos pela floresta em busca de lenha para a lareira. Eu iria apenas com Lins e Blader para sermos rápidos, mas meu marido e meu melhor amigo sempre fazem questão de vir junto e causarem uma guerra de neve. Ano passado eu, Beryl e Lisa tivemos que cuidar de ambos que ficaram resfriados pela brincadeira.

— Os dois podem ajudar a cortar madeira ao invés de... — a fala de Lins foi cortada após ser atingido no rosto por Brian, fazendo o ruivo entrar na guerra.

— Sobrou pra gente, maninha. — anunciei para a morena, que me entregou um dos machados de Toby.

Fizemos os rapazes carregarem a madeira até a mansão, já que não ajudaram em absolutamente nada. Quando chegamos na residência, o novo trio de ouro estavam grudados um ao outro no sofá, usando o calor humano para se aquecer debaixo das grossas cobertas.

— Vocês ao menos ajudaram o tio avô de vocês com a ceia? — perguntei vendo Splendorman retirar o peru do forno.

— Você acha que o tio Splendor ia nos deixar ficar sem fazer nada? — Lisa me fitou com as orbes negras.

— Eu tenho certeza, esses babões dão muito mole pra vocês. — cruzei os braços enquanto Brian colocava a madeira na lareira para eu acender — Na minha época...

— Já fazem 84 anos. — Beryl sorriu ladino — Sabemos bem, mãe. Você sempre conta essa história.

— Garoto, eu vou te queimar vivo! — rangi os dentes enquanto as outras duas riam do primo e irmão.

— Também sei disso, é a única ameaça que você usa desde sempre. — se aconchegou entre as ruivas e fechou os olhos.

— Hora de mudar o repertório, meu bem. — Brian me abraçou por trás, beijando meu rosto.

— Tem razão. — cruzei os braços — Já que não são mais crianças, não precisam ganhar mais presentes.

— O quê?! — o trio exclamou em um unissoro.

— Ah não, tia Ery! — Mia fez o mesmo beicinho de Blader quando se chateia — Eu nem falei nada.

— Mas riu, engraçadinha. — um sorriso debochado se formou em meu rosto.

— Tudo bem, os presentes da tia Blader são os melhores mesmo. — meu filho realmente não tinha amor a vida.

Eu ia esganar minha cria, mas meu marido me levantou em seus braços e me tirou do cômodo, rindo da minha reação ao comentário de Beryl. Assim como Brian, meu filho tinha o talento único de me tirar do sério, sendo a cópia perfeita do pai.

Aparentemente, era divertido para os dois me ver brava.

Estava próximo da meia noite, então fui até o quarto e peguei os presentes que havia comprado para minha família. As três primeiras caixas eram para os pirralhos no sofá, que logo foram lançadas para os mesmos.

— Precisava de toda essa violência? — Beryl continuava com o tom de deboche.

— Teve sorte de eu não enfiar a caixa no seu rabo, moleque. — o trio riu do meu comentário — Abram logo.

Para Beryl, havia uma jaqueta de couro que ele tanto queria. O mesmo pulou e me abraçou, me rodando no ar enquanto eu gritava desesperadamente para que me soltasse. Lisa recebeu um colar que fez seus olhos brilharem, o mesmo pertencia a Miriam que havia deixado no meu antigo apartamento há muitos anos. Comprei uma pequena harpa para Mia, que mostrou um grande interesse por música desde sempre.

Dei um novo casaco para Brian já que o mesmo conseguiu destruir a peça de roupa na última missão. Jeff ganhou uma camiseta de banda, Lins um arco de violino novo, Blader lâminas novas para sua arma...

Sorri satisfeita quando vi que consegui agradar a todos.

Nos juntamos na mesa de jantar para comer, saboreando a ceia como se fosse a melhor refeição de nossas vidas. De fato parecia ser, já que a comida de Splendorman era a melhor de todas. Um a um foram se levantando para lavar a própria louça e deitar, sobrando apenas eu, maninha e meu cunhado.

Trocamos poucas palavras durante o tempo em que continuamos sentados. Logo eles também foram se deitar e eu não tardei de ir para o quarto, encontrando a família reunida ali.

— Posso saber o motivo dos dois não estarem dormindo? — arqueei uma sobrancelha, fitando Lisa e Beryl.

— Nós temos que te dar seu presente de Natal! — Lisa mantinha as mãos para trás, escondendo algo.

Timidamente, ela me esticou uma caixa perfeitamente embalada, alegando que a própria tinha feito aquilo, já que Brian e Beryl eram um desastre para qualquer tipo de trabalho manual.

Todos ali me olhavam com uma imensa expectativa enquanto eu desfazia o laço do presente, levantando a tampa e olhando com dúvida para o conteúdo de dentro.

— Uma caixinha de música? — sorri meiga, eu amava esse tipo de coisa, ainda tinha a forma de um piano.

— Dê corda nela. — meu marido sugeriu animado.

A virei e busquei pelo mecanismo que deveria rodar, fazendo o gesto para que a canção iniciasse. Demorei a reconhecer a melodia, mas meus olhos marejaram quando as memórias invadiram minha mente.

Era a música de ninar que meu avô cantava para mim e meus primos, a mesma que eu cantava para meus filhos quando eram pequenos.

Meu nariz já estava vermelho quando notei que alguns soluços me escapavam. Era um dos melhores presentes que eu já havia ganho.

— Como conseguiram a partitura da música? — disse após secar as lágrimas e abraçar os três em minha frente.

— Tio Lins deu uma ajuda. — Beryl disse enquanto afundava o rosto em meus cabelos — A gente te ama, velha.

— Vai se foder. — sorri genuinamente ao me soltar do abraço — Eu amo muito vocês!

Ery | Slender's ProxyOnde histórias criam vida. Descubra agora