Awake

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•Brian•

Faziam algumas semanas desde que Ery havia iniciado o processo de despertar. Não tínhamos contato com ela e nenhum de nós sabia como chegar ao inferno para uma visita surpresa. Claro, poderíamos pedir ajuda a Zalgo, mas ele não era confiável e provavelmente nos levaria diretamente para a morte.

Apenas eu e Blader estávamos na ala proxy, o restante havia saído em missão. Nunca trocamos muitas palavras mesmo que ela fosse minha cunhada. A morena ainda era bem fechada a conversas.

Notei que coçava o nariz vez ou outra enquanto lia um livro. A clima estava frio e ambos mantínhamos agasalhos grossos como vestes.

- Vou fazer chá, aceita? - perguntei enquanto me levantava.

- Você sempre faz cara feia quando Ery está tomando chá. - ela arqueou a sobrancelha e arrumou os óculos.

- Não vou tomar, é pra você. Está ficando resfriada pelo frio lá fora. - observei a janela embaçada pela temperatura baixa.

- Certo... eu aceito. - ela me olhava como se fosse a situação mais estranha de sua vida.

- Não faça essa cara. Se fosse Ery, Lins com certeza faria o mesmo. - disse enquanto colocava a água no bule.

- Lins é muito gentil. - um pequeno sorriso se formou em seus lábios - Sei que não pareço tão amigável, mas essa postura é apenas costume.

- Ery sempre me falou muito sobre você quando chegou aqui há alguns anos. - a água já havia fervido e eu colocava as ervas no coador - Você precisava ver, era como se falasse de uma heroína dos quadrinhos que ela lê.

- Maninha sempre foi muito energética e amigável. Acompanhar a jornada dela até aqui foi interessante, mas um pouco frustrante também. - a olhei com dúvida enquanto servia o líquido quente em sua xícara - Ery sempre deu muita abertura para pessoas erradas entrarem em sua vida. Sempre estive longe, mas trocávamos mensagens e, sinceramente, dava vontade de matar cada ser que a magoou e depois dar uns tapas na cara dela pra ver se voltava pra realidade.

Não pude deixar de rir. Apesar de ser um assunto sério, Blader falou de um modo engraçado.

- Ela perdeu muito dessa inocência. Tenho medo que ela volte a ser fria como depois do incidente. - abaixei a cabeça e fitei a mesa.

- Uma vez Ery se apaixonou perdidamente por um homem. Por ser muito nova, fez escolhas erradas e ambos saíram magoados. - ela fechou o livro e suspirou - Um ano depois, ela tentou se redimir. O cara simplesmente acabou com a vida dela de um modo que ela quis dar um fim na própria.

- Me lembro disso, passei horas naquele hospital a pedido de Offenderman.

- A questão é que ela tinha um brilho único quando olhava para aquele homem de aparência mediana e procedência duvidosa. - ela tentou segurar o riso, mas o mesmo saiu pelo nariz - E eu vejo esse mesmo brilho quando ela está com você.

- Pelo menos sou bonito, já a procedência... - levei as mãos para a parte de trás da cabeça e estiquei as costas no apoio da cadeira.

- Mal posso esperar pro casamento de vocês.

- Bem, acho que isso pode demorar mais que o previsto. Ainda não consegui quebrar todas as barreiras dela.

A vi percorrer o olhar pela xícara vazia, sua mente parecia estar longe e me perguntei o que poderia estar passando pela sua cabeça nesse momento. Blader se levantou alguns minutos depois e agradeceu pela bebida, lavando a xícara na pia e subindo para seus aposentos.

•••

Um grito perturbador percorria pelo palácio de Lillith. O quarto que era usado temporariamente pela moça de cabelos loiros estava completamente destruído enquanto sua avó apenas monitorava seu comportamento após a primeira parte do despertar.

Pelo vidro, ela via sua neta fora de controle e com sede de sangue após um ritual feito.

"Ela não tentou se mutilar até agora. Eu com toda certeza a subestimei."

Ery estava diferente, com uma aparência peculiar: as orelhas pontudas, unhas longas e afiadas que lembravam agulhas negras e presas que saíam um pouco para fora de sua boca na parte superior. Também estava fisicamente mais forte e ágil.

"Ainda possui consciência, sabe que conseguiria quebrar esta porta em um soco, mas continua tentando tomar o controle."

Ela mordia a madeira da cama como se mascasse chiclete e gritava. Celynne sabia que a dor de sua neta era quase insuportável, então continuava atenta a cada movimento feito pela mesma.

Com o passar das horas, Ery conseguiu finalmente retornar a si. Olhava para os lados como se não soubesse onde está.

Ao olhar pelo vídro com o sangue saindo pela boca e as unhas extremamente doloridas, suavizou o olhar e o corpo vendo a figura de sua avó.

- Como se sente? - perguntou para a neta.

- Como se tivesse mordido um porco espinho e enfiado as unhas no concreto. - ela dizia com dificuldade enquanto tirava as farpas da gengiva superior - Mas posso superar essa questão. Quanto tempo passei nesse estado?

- Bem... - a elegante mulher olhava um bloco de anotações - algumas semanas.

- Algumas? - Ery encostou no vidro com um olhar perdido.

- Exatos três meses.

A recém desperta saiu de seu quarto, quebrando a maçaneta acidentalmente pela força excessiva.

-Lillith não ficará brava por isso, né? - as orelhas se abaixaram levemente.

- Não se preocupe. - Celynne respondeu enquanto ria - Você se acostuma com a força conforme o tempo.

- O que houve com minhas unhas? - perguntou ao olhar para as próprias mãos e ver um líquido negro pingando da ponta de seus dedos.

- Todo demônio tem uma peculiaridade. Pelo visto, a sua vai combinar bem com o talento de fogo. - segurava o pulso da neta delicadamente enquanto analisava - Pelo cheiro, esse veneno é inflamável. - Ery arregalou os olhos enquanto olhava sua outra mão - Nem toda toxina é ruim. Talvez só para os humanos.

- Farei alguns testes, mas preciso de tempo. Agora, estou faminta.

- Oh, essa é a segunda parte mais preocupante do despertar.

- Prefiro não perguntar qual seja a primeira.

- Seus instintos primais, vem logo após a fome descontrolada. - a mais velha tentava manter a calma - Seu apetite não vai ser saciado por comida comum.

Ao sentir a saliva escorrer por seus lábios e o estômago roncar, Ery entendeu que era hora de partir e caçar. Antes de tudo, lhe foi entregue um pequeno pacote com duas pequenas argolas com pingentes de aranhas. Estas eram viúvas negras e tinham pedras vermelhas na parte traseira de seus corpos.

Juntamente com o presente, um bilhete: "Sinto muito não estar presente em sua estadia. Estes brincos ajudarão a abrir o portal para o inferno sempre que necessitar. Mande lembranças para sua prima e traga-a aqui quando puder.

Lillith"

- Ethan, senhora Lillith. - disse ao terminar de ler. Pendurou os brincos nas argolas que já tinha nas orelhas, pois não queria tirar as que seu irmão havia lhe dado.

- É hora de ir, querida. - Celynne dizia em um tom triste - Não posso te ajudar no final de sua jornada, mas quero que saiba que estou muito orgulhosa de ver a grande mulher que se tornou.

Em um impulso, Ery tomou Celynne em um caloroso abraço. A súcubo mais velha não estava acostumada com tamanho afeto, então se assustou no primeiro momento, mas retribuiu de bom grado o carinho de sua neta.

- Eu volterei para vê-la, vovó. - sorriu largamente enquanto virava-se para o enorme corredor em sua frente.

Viu a neta partir apressadamente e deixou algumas lágrimas rolarem ao sentir uma mão tocar seu ombro e apoiou a sua sobre a mesma.

- Pensei que ela viria nos visitar. - o rapaz dizia triste.

- Ela não podia passar por grandes emoções agora, Garthos. - virou-se para encarar o neto - Em breve, ela poderá retornar e rever cada um de vocês.

Ery | Slender's ProxyOnde histórias criam vida. Descubra agora