Capítulo 8: Separação

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Aquele era o primeiro domingo em dez anos que eu não estaria curtindo a família. Depois de tanto tempo vivendo com alguém a gente meio que desaprende a pensar no individual.

Sim, claro que eu ainda tinha a minha filha, mas quem é mãe de adolescente sabe que eles quase não param em casa, especialmente num final de semana.

Mas esse era um domingo atípico, pois minha filha estava em casa e não pretendia ir a lugar algum. Eu não queria ser o motivo pelo qual a Lisa ficaria em casa num domingo, mas ela estava determinada a não sair do meu lado. Ela sabia o quanto eu estava sofrendo com tudo o que havia acontecido e sabia que eu precisava de todo amor possível.

Dinah também não saiu do meu lado, cuidou de mim desde que retornei da pior viagem da minha vida.

Por minha vontade eu ficaria na cama até a segunda-feira, mas minhas companhias não me deixavam curtir minha dor, então decidi sair do quarto e fazer uma limpeza em minha vida, começando pelo closet.

Desci para tomar café da manhã com Dinah e Lisa, elas tentavam me animar falando bobagens, coisa que era especialidade da minha melhor amiga, foi quando a campainha tocou. Nós três nos olhamos como se perguntássemos uma às outras quem poderia estar na porta.

- Eu atendo. - foi quando Lisa decidiu verificar.

Poucos segundos depois Lisa retorna para a cozinha e logo atrás dela está Lauren, com cara de cachorro arrependido.

- Bom dia! - Lauren cumprimentou-nos, mas apenas Dinah respondeu.

Eu levantei da cadeira onde estava sentada em volta da ilha e saí do cômodo, eu não queria olhar para Lauren muito menos responder seu "bom dia". Bom dia para quem? Só se fosse para ela, já que ela estava me trocando por uma novinha.

Subi rapidamente para o quarto e quando empurrei a porta para fechar, Lauren pôs o pé para impedir que eu fechasse. Eu soltei e ela entrou no quarto.

- O que você quer? - perguntei num tom irritado.

- Só quero conversar, por favor me escuta.

- Não tenho nada para escutar, sai daqui.

- Amor, por favor, me deixa explicar.

- Explicar? Você acha que sou burra? Que sou incapaz de interpretar uma cena tão clara quanto aquela?

- Amor, aquilo tudo não passou de um engano.

- Eu não quero ouvir suas mentiras, Lauren. Não gaste seu latim comigo.

- Não vim contar nenhuma mentira, aquilo foi uma armação.

- Armação? - ri com desdém - Você realmente acha que eu sou idiota, não é?

- Eu sei que é difícil de acreditar, mas e a verdade. Aquela garota imbecil estava fazendo algum tipo de brincadeira idiota. Eu não dormi com ela, eu juro.

- Eu não acredito em você.

- Amor, por favor!!! Olha, deixa eu te contar como tudo aconteceu...

- Eu não quero ouvir. Eu só quero que você me deixe só.

- Eu não vou sair, aqui é minha casa também.

- Bom, então saio eu. - fui em direção ao closet e peguei uma mala, comecei a colocar minhas roupas dentro dela.

- Para com isso, você não vai a lugar algum. Só me escuta. - continuei a jogar as roupa na mala. - Eu cheguei do trabalho aquele dia super cansada, entrei para tomar um banho e demorei la dentro da banheira, quando eu saí me deparei com aquele cenário. Eu não sei como a Yasmin entrou em meu quarto.

- Ah é!!! - soltei as roupas de qualquer jeito e comecei a aplaudi-la - Com certeza eu acredito nisso. Você realmente quer que eu acredite que aquela garota entrou no SEU quarto sem ser convidada, tirou a roupa e se deitou na SUA cama sem ser seduzida?

- Quero sim, porque foi exatamente isso que aconteceu.

- MAS EU NÃO ACREDITO EM VOCÊ. Você esquece eu que te conheço bem, que conheço a sua fama de pegadora. EU FUI UM DAS SUAS PRESAS.

- Não sou essa mulher desde que me comprometi com você.

- Agora tudo faz sentido... Agora entendo porque chega em casa cada vez mais tarde, porque trabalha até nos dias de final de semana, porque está sempre viajando, porque nesses anos todos você nunca quis se casar comigo. Agora tudo faz sentido.

- Isso é loucura. Nada disso é verdade. Amor, eu sei que tenho andando muito ausente, mas eu juro que é por causa do trabalho. Eu nunca te traí nesses anos todos. E quanto ao casamento, nós já discutimos isso.

- Lauren, sai você ou saio eu? - aquela discussão já estava me deixando exausta, nada do que ela me dissesse me convenceria do contrario.

Ao ouvir minha pergunta, vi o semblante de Lauren mudar para derrotado. Eu a conhecia muito bem e sabia que ela não me deixaria sair e foi exatamente o que ela respondeu.

- Eu vou. - respondeu desanimada, quase sem energia. - Deixa só eu pegar algumas roupas.

Eu apenas assenti com a cabeça e me retirei do quarto, eu não queria passar mais nenhum segundo naquele ambiente e tendo que encarar aquela cara de culpa dela. Desci as escadas me deparei com Dinah.

- E aí? Vocês se acertaram?

- Resolvemos sim, ela vai embora.

- O que? Mila, você tem certeza?

- Absoluta! Não quero mais ter que olhar para aquela mulher e por favor não quero mais falar nesse assunto. - minha amiga levantou as mãos em sinal de rendição.

Voltamos para a cozinha para terminar a refeição. Puxamos um assunto qualquer, só para amenizar o clima tenso na casa. Depois de cerca de meia hora, Lauren surgiu na cozinha puxando uma mala.

- Eu vim me despedir. - disse ela.

Minha filha olhou para ela, depois para mim e eu pude ver a interrogação em sua testa. Ela foi capaz de entender o meu olhar frio, ela soube ali que eu estava decidida. Correu para os braços da minha ex namorada e a abraçou demoradamente. Eu não olhava para elas, mas pude notar pela visão periférica. Comecei q ouvir um fungado de choro e percebi que as duas se entregaram às lágrimas.
Ouvi minha filha sussurrar um "Eu te amo" para Lauren que a abraçou ainda mais forte. E em resposta ela sussurrou: "Eu te amo, filha".

Ouvir aqui provocou em mim uma vontade de chorar, mais eu piscava para espantar as lágrimas, não me permitiria ser fraca naquela hora.

Depois de um longo abraço elas se afastaram, então Lauren foi até Dinah e a beijou, abraçou e agradeceu, depois pediu-lhe para cuidar de mim e da Lisa. Então ela veio em minha direção parando ao meu lado. Eu ignorei sua presença, continuei tomando o meu café. Ela entendeu então deu um beijo em minha cabeça e foi embora.

A essa hora minha filha já chorava de soluçar e me perguntava porque tinha que ser assim. Eu nada respondi, apenas continuei comendo. Eu também teria que reaprender a ser mãe solteira.

Remember Love (Gay Panic Part 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora