Capítulo 10: Chantagem

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O telefone em minha mesa toca e me tira a concentração da papelada que estava lendo. Pego o aparelho e o ponho encostado em minha orelha.

- Sim?

- Doutora, a Yasmin está aqui e deseja vê-la.

- Não posso falar com ninguém agora, por favor dispense-a. - aguardo alguns segundos na linha e escuto a secretária passar o recado.

- Doutora, ela disse que não irá embora sem antes falar com a senhora. - dou um soco na mesa, quem essa garota pensa que é?

- Ok, mande-a entrar. - ponho o telefone no gancho e aguardo a porta se abrir.

Logo a minha ex estagiária entrou, ela tinha uma atitude confiante, como se não tivesse sido demitida. Eu relaxei o corpo no encosto da minha poltrona e indiquei a cadeira à minha frente para que ela se sentasse, e assim ela fez.

Esperei que ela começasse a falar o que a tinha levado até ali, mas ela apenas me encarava com um leve sorriso no rosto.

- Eu não tenho o dia todo, senhorita. O que deseja falar comigo?

- Quero meu cargo de volta. - falou sem pestanejar.

- Virou piadista, garota? Ou você bebeu? Você não vai voltar a trabalhar comigo depois de ter feito aquela cena ridícula em meu quarto de hotel.

- Não, senhora. Estou muito sóbria. É exatamente isso que a senhora ouviu, quero o meu estágio de volta.

- Eu não vou te contratar novamente nem morta. - me levantei da minha poltrona e apontei em direção à porta. - Saia da minha sala.

Yasmin continuou sentada, sorrindo. Ela fez sinal para que eu sentasse para então proferir suas ameaças.

- A senhora vai me readmitir ou então eu vou processa-la por assédio. E ainda vou usar a sua esposa como minha testemunha.

- O que? Isso é mentira, eu nunca te assediei.

- As provas que eu tenho dizem o contrário.

- Provas? Que provas? Você está blefando.

- Então paga para ver. - ela levantou-se e foi andando em direção à porta, antes de abri-la, virou-se para mim e concluiu. - Amanhã às 8:00 estarei retornando às minhas atividades. Obrigada, doutora, a senhora é muito generosa! - e saiu.

Eu bufei de raiva, eu estava sendo chantageada por uma pirralha que alegava ter provas contra minha idoneidade profissional. Apesar de eu ter total certeza de que nunca a assediei, eu sabia que ela poderia usar aquela situação no hotel para me prejudicar. Que droga!! Como eu poderia me livrar dessa??

Aquele dia eu não consegui mais me concentrar no trabalho, liguei para Vero, eu precisava desabafar com alguém. Ela estava visitando um cliente, mas combinamos de nos ver após os expedientes.

Por volta das 8:00 da noite estávamos eu e Vero num restaurante onde gostávamos de ir. Aquele lugar sempre nos transmitia paz e equilíbrio, além de servir o melhor peixe da região. Eu estava mesmo precisando de ômega 6...

- O que você queria tanto falar comigo, Laur? - me perguntou minha amiga após pedirmos as sobremesas.

- Ah, sim... É que eu estou numa roubada.

- Numa roubada? É entre você e Camila? Ou é profissionalmente?

- Os dois!

- Lauren, não me diga que você transou com aquela sua estagiária gostosa?

- Não, não transei, mas o problema envolve exatamente ela.

- Ai! fala logo, está me deixando curiosa.

- Vou falar do começo... A cerca de 15 dias atrás eu precisei fazer uma viagem a Washington, a trabalho, e levei a estagiária para me auxiliar. Eu ia passar o final de semana por lá, então Camila resolveu me fazer uma visita surpresa. Mas quando Camila chegou no meu quarto ela pegou a Yasmin pelada, deitada em minha cama e eu saindo do banho, e interpretou a situação da forma errada.

- Como interpretou errado? Qual outra interpretação essa situação teria?

- Eu concordo que não tem como não pensar que eu e Yasmin estávamos tendo um caso após presenciar aquela cena. Mas a verdade é que tudo aquilo não passou de uma armação daquela garota.

- Como assim? Por que ela armaria para você?

- Camila sempre teve ciúmes dela, sempre me pediu para tomar cuidado com ela, pois ela dizia que percebia que a Yasmin era muito oferecida, mas eu não tinha essa percepção. No dia que tudo aquilo tudo aconteceu eu cheguei a pensar que Camila estava certa e que a estagiária estava interessada em mim. Claro, eu a demiti imediatamente. Mas hoje ela esteve no tribunal e exigiu que eu lhe contratasse novamente ou ela me processaria por assédio.

- O que? Como assim, Lauren? Você assediou essa garota?

- Claro que não, Vero. Mas ela diz ter provas contra mim. Eu não sei que provas ela poderia ter, mas suponho que aquela noite em Washington não foi só para destruir meu casamento.

- Claro! Ela forjou uma cena para ter você nas mãos.

- Sim. E o pior de tudo é que eu não tenho como refutar as alegações dela, pois até Camila acredita que me flagrou naquela situação.

- Puta que pariu, Lauren, o que você vai fazer agora?

- Eu não sei. Esperava que você pudesse me ajudar.

- Caralho, Laur! Você está fodida. Se eu fosse você recontratava a garota até ter alguma estratégia para se livrar dela.

- Mas como vou trabalhar com aquela garota depois disso? Eu não suporto nem olhar para ela.

- Sei lá, dá tarefas que a mantenha o mais longe possível de você. Não sei, qualquer coisa como organizar arquivos, fazer trabalhos fora do tribunal... Cria umas tarefas que a deixe bastante ocupada e longe de você.

- Boa ideia! Eu posso fazer isso. Mas como vou conseguir me livrar das acusações?

- Bom, nesse caso acho que somente Camila poderá te ajudar. Você precisa convencê-la de que aquele dia não passou de uma encenação para te prejudicar e assim você terá sua esposa como sua testemunha.

- O difícil vai ser convencê-la disso. - falei pensativa.

Depois de comer a sobremesa e conversar com minha amiga eu sentia que tinha uma chance de me proteger daquela garota, mas não seria fácil conseguir a confiança e apoio de Camila. Mas eu tinha que tentar.

Remember Love (Gay Panic Part 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora