Remember Love (Gay Panic Part 2)

Capítulo 21: Interpretações

Ler o nome da ex na tela do celular da Lauren me fez questionar se ainda havia algo entre elas. Olhei para a minha esposa e ela tinha a cara de culpada.

De repente um filme se passou em minha cabeça, a lembrança daquele encontro no shopping vieram como um rolo compressor. Lembrei a atitude desconsertada da Lauren diante daquela mulher, lembrei do prazer estampado na cara da Tina quando viu minha expressão de surpresa ao saber que ela era a tal ex que quebrara o coração da minha atual, lembrei das vezes em que minhas amigas falaram da única mulher que havia despertado em Lauren o sonho de casar.

Fui tirada da minha breve revista ao passado por Lauren em frente à mim, pedindo que eu lhe desse uma chance para explicar. Eu joguei o telefone contra seu peito e corri para o meu quarto, onde me tranquei.

Se Lauren tinha algo para me explicar é porque havia algo acontecendo entre elas. Para mim era difícil acreditar, já que nas últimas semanas Lauren tinha se mostrado mais presente na nossa família, nossa chama sexual até deu uma aquecida considerável, parecíamos que estávamos novamente no inicio da relação, onde tudo era tão intenso.

Ouvi toques na porta, mas não respondi, pois acreditava que seria Lauren tentando me contar alguma mentira. Foi quando escutei a voz da Dinah chamar o meu nome.

- Mila, sou eu. Abre, amiga!

Demorei um pouco, mas abri a porta para ela. Antes verifiquei se ela estava sozinha. Dinah me abraçou demoradamente e me deixou molhar a sua blusa com minhas lágrimas. Depois de um longo tempo a ouvi dizer:

- Mila, você não pode concluir as coisas sem dar a chance da Lauren explicar o que está acontecendo.

- Eu não quero olhar para a cara, quiçá ouvir a voz da Lauren agora, D.

- Eu sei, Mila, mas talvez isso tudo não passe de uma infelizmente coincidência.

- Como pode ser coincidência a Lauren receber chamadas da ex dela? Você sabia que recentemente ela comprou um novo telefone celular? Por que ela precisa de dois telefones? Será que era para não confundir os aparelhos na hora de atender a ex talvez atual?

- Mila, eu sei que a reação mais natural é buscar respostas que a coloquem na posição de culpada, mas eu peço que não faça isso novamente. Você lembra daquela situação em Washington? Você lembra que nem tudo era o que parecia? A Lauren sempre foi reservada, sempre foi de resolver seus problemas sozinha por medo de machucar as pessoas que ela ama. Tente ouvi-la, por favor.

- D, você quer me dizer que se estivesse no meu lugar você teria uma reação diferente da minha, é isso?

- Não, claro que não. Eu provavelmente teria a mesma reação, mas eu tenho o privilégio de, neste momento, estar na posição de amiga das duas e poder enxergar a situação de um outro ângulo. E do ângulo que estou, que não é o mesmo seu nem o da Lauren, eu vejo que vocês podem resolver isso com o diálogo.

- Por que sempre que eu e a Lauren estamos bem algo acontece para nos abalar, D? Por que não podemos ter uma vida normal? - Dinah apenas me escutava. - Antes de tudo isso acontecer, naquela hora que eu fui buscar os petiscos, eu e a Lauren tivemos um momento tão intenso, sexy, que me fez agradecer aos céus por ter uma mulher tão maravilhosa. Agradeci por, apesar de já ter se passado dez anos, ainda termos essa conexão, esse fogo. Mas é sempre assim, quando estou feliz com a minha vida conjugal algo acontece para estragar isso. Desculpa, D, mas não dá para ignorar o fato de que a Lauren está mantendo um tipo de contato secreto com a ex, não dá para voltar lá e continuar com um sorriso no rosto sabendo que a minha esposa esconde algo de mim.

- Tudo bem. - ela olhou para as horas em seu relógio. - Que tal fazermos assim? Já são quase 18h, está escurecendo. Eu vou lá embaixo, encerro a festa, mando a criançada embora, arrumamos tudo e depois deixamos você e a Lauren a sós para conversarem sem interrupções. O que acha?

- Pode ser, mas até lá eu não quero ver a Lauren. Preciso de um tempo sozinha para pensar.

- Ok. Então eu vou. Fica bem e se precisar de mim, chama. - ela foi até a porta, me deu uma última olhada e saiu.

Eu aproveitei esse tempo para tomar um banho relaxante e vestir uma roupa confortável. Depois deitei-me em minha cama e fiquei a pensar em tudo.

Talvez a Dinah tenha razão, talvez seja uma infeliz coincidência. Mas eu não consigo esquecer a cara de culpa da Lauren quando ela percebeu que eu sabia de quem era aquele nome na tela do seu celular.

Quase duas horas depois de Dinah ter saído do meu quarto, novamente ouvi duas batidas na porta e sua voz logo em seguida. Destranquei a porta e deixei que ela entrasse.

- Como você está? - ela me perguntou.

- Mais calma.

- Ok. Então, a casa já está limpa e arrumada, as crianças foram embora, inclusive a Lisa foi para a casa de uma das amigas e dormirá lá esta noite. A Lauren está lá embaixo só esperando o meu sinal para vir até aqui e poder explicar tudo. E então, posso chamá-la?

Eu respirei fundo e então concordei com um aceno de cabeça. Dinah se aproximou de mim e me deu um beijo na cabeça, se despedindo em seguida. Não demorou para a Lauren entrar no quarto.

Em sua cara eu podia notar aquela mesma expressão de culpa que vi mais cedo, mas agora ela tinha também os olhos vermelhos e inchados, parecia que havia chorado.

Eu não falei nenhuma única palavra, apenas esperei que ela começasse a falar. Ela se aproximou, dando a volta na cama e se ajoelhando à minha frente. Lauren segurou em minhas mãos um tanto receosa.

- Amor, me perdoe por não ter te falado nada antes. Eu não queria te preocupar, nem colocar nossa família em risco. - eu nada falei, nem a encarei. - Eu tenho esse jeito estranho de lidar com meus problemas, não gosto de preocupar você à toa. Mas esse meu jeito só me trouxe mais problemas, porque agora você está magoada comigo.

- Por que a sua ex está te ligando, Lauren? - foi a única vez que a encarei.

- Amor, ela está me chantageando. Toda aquela história de Washington tinha o dedo dela. Ela planejou com a Yasmin, que agora descobri ser sua sobrinha, criar um cenário onde eu apareceria como uma assediadora para me ter nas mãos e conseguir me obrigar a participar do seu plano diabólico de dar um golpe em seu atual marido. Depois daquele dia que a encontramos no shopping, ela apareceu em meu escritório e me ameaçou. Desde então, a Tina fica me cercando, ligando, aparecendo no meu local de trabalho e até me perseguindo nas ruas. Amor, eu não te contei nada antes porque não queria te preocupar e nem te colocar na mira daquela mulher. Por favor, me perdoa!

Eu não respondi nada de imediato porque precisava refletir sobre tudo o que eu acabara de escutar. Eu não sabia se podia confiar em Lauren, mas essa história parecia cabeluda demais para ser fruto de sua fantasia.

Apesar de ser difícil de acreditar, Lauren não tinha o hábito de mentir, então decidi lhe dar o benefício da dúvida.

- Está bem, Lauren! Eu te perdoou. Mas com uma condição...

- O que você quiser, meu amor.

- Nunca mais, mesmo sendo a história mais absurda, você irá me esconder nada que possa representar um risco para nossa relação.

- Eu prometo. - beijou minhas mãos em agradecimento.

- Mas agora eu quero ficar um pouco sozinha, preciso pensar, digerir tudo o que ouvi aqui.

- Tudo bem, eu vou te dar espaço. Obrigada por me perdoar.

Lauren levantou-se, beijou minha cabeça e se retirou do cômodo, me deixando sozinha com meus pensamentos. Eu voltei a deitar-me e me pus a pensar sobre toda aquela história. Eu precisava encontrar uma forma de ajudar a Lauren.