Capítulo 2

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Primeiro dia de aula.

Levantei cedo pra não me atrasar. Moro bem longe da escola e dá uma boa pedalada daqui de casa até a escola.

Tinha deixado uma roupa já separada ontem e a peguei em cima da minha cadeira, saindo do quarto, indo para o banheiro que fica no mesmo corredor.

A minha casa é bem pequena e simples. Logo na entrada é a sala, virando o corredor à direita já dá pra ver a cozinha e as portas dos dois quartos e o banheiro, tem um quintal no fundo, mas que o meu pai nunca pensou em cuidar, vive cheio de tranqueira dele espalhada.

Preparei um café e vendo que já estava dando a minha hora, termino de toma-lo, pegando uma banana da fruteira, que pretendo ir comendo no caminho. Vou rapidamente para o meu quarto pegar a minha bolsa e sorrio ao ver a bandana do Eddie que guardei todos esses dias. Queria ficar com ela. Ter algo dele assim comigo, me causa uma sensação boa, mas não posso, é errado. Tenho que dar um jeito de devolver isso pra ele.

Último ano do colegial. Conhecido também como o inferno na terra, pelo menos para a minha experiência. Por isso eu tento ser sempre o mais invisível possível. Espero conseguir terminar o último ano da mesma forma.

Olhava os meus horários parada em frente ao meu armário e vejo o grupinho mais popular da escola, os atletas vindo na minha direção. Viro rapidamente de costas, fingindo estar mexendo em algo dentro do meu armário. Mas claro que eles não perderiam a chance.

- Veja só se não é a ratinha assustada – escuto o Jason falar atrás de mim, mas me mantenho firme de costas

- Deixa essa coisa esquisita pra lá – é a vez da Rainha da escola Ava destilar todo o seu veneno

Escuto as risadas dos outros idiotas e me viro, os vendo se afastar pelo corredor.

Bando de idiotas.

Respiro fundo e pego o meu fichário, fechando o meu armário. Primeira aula do dia, cálculo. Maravilha.

Estava sentada no canto da sala como sempre, bem quietinha na minha, esperando o professor entrar. Quando sou surpreendida pelo Eddie entrando dentro da sala. Ajeito a minha postura no mesmo instante e o seu olhar se encontra com o meu. Um sorriso singelo toma conta dos seus lábios e o vejo caminhar na minha direção.

- Pelo visto sobreviveu – fala parando na minha frente

Eu levanto a cabeça, o olhando meio em choque.

Ele está mesmo falando comigo?

- Você tem algum problema com conversa, ou algo do tipo – ele percebendo que não vai ter resposta faz uma careta e se afasta, indo se sentar no fundo

Xingo mentalmente. Isso Amber, faz mais papel de idiota na sua frente. Lembro da sua bandana dentro da minha bolsa, e fico pensando se vou até ele e entrego, ou não. O professor entra dentro da sala. É melhor entrar em outro momento mesmo.

Não sei se para o meu completo horror ou felicidade, mas o Eddie tem várias aulas comigo esse ano. Ele não tentou mais falar comigo, nem mesmo um único olhar. Claro, eu sempre agindo feito um bicho do mato, assustada. Aqueles idiotas tem razão de me chamarem de ratinha assustada, é isso mesmo que sou.

Estava sentada no refeitório, comendo a minha comida bem quietinha no meu canto como sempre. Um menino que não conheço, se aproxima, pedindo licença para se sentar e respondo com um aceno de cabeça e um sorriso fraco.

Passo os meus olhos pelo salão, parando na mesa do clube HellFire. Sorrio de imediato ao vê-los todos com a camisa e conversando animadamente. O Eddie falava algo muito teatralmente para os companheiros. Eles são tão incríveis. Eu nunca pensei, nem tive vontade de participar de grupo nenhum, mas a vibe deles é tão boa. Daria tudo para ser amiga deles. Os esquisitos da escola, que a maioria fala por aí que é um grupo satânico. Fala sério, os caras jogam RPG de mesa. Com toda a certeza esse seria o único grupo possível pra mim. Mas sabendo que isso nunca vai rolar, desvio o olhar deles e trato de terminar logo a minha comida.

Depois da escola, eu fui direto para a casa do Mendes. Cuidar do Brenno não é tão difícil assim. Ele tem oito anos e graças a Deus ele me obedece. De vez em quando tem uma birrinha ou outra, mas consigo me sair bem e reverter a situação.

- Tia Amber...

Escuto o Brenno me chamar e olho para trás, por cima do ombro, o vendo entrar na cozinha e caminhar até o meu lado na pia.

- Já estou quase terminando os lanches.

- Vamos dar uma volta de bicicleta depois de comer? – pergunta fazendo aquela carinha fofa que é a coisa mais linda do mundo

- Pode ser – falo terminando de fechar o ultimo lanche – Mas não podemos ir muito longe. Só algumas voltinhas pelo bairro.

- Tá bom – fala dando os ombros sem importância e pegando o prato com seu lanche, voltando para a sala

Suspiro e pego o meu pão, dando uma mordida. O Brenno me grita e pego o meu prato, colocando o lanche em cima, indo para a sala ficar com ele.

Depois de comermos, fomos dar a volta de bicicleta como havia prometido e foi divertido. O danadinho queria, porque queria, sair do bairro, mas eu bati o pé firme e não deixei. Deus me livre da senhora Mendes achar ruim e me despedir. Preciso muito desse salário, mesmo sendo pouco, vai me ajudar muito.

Estava deitada no meu quarto, com a bandana do Eddie nas mãos. Eu ainda não tive coragem de chegar nele e devolver. Falta coragem e um pouquinho de vontade também, vou admitir. Ter um pedacinho dele aqui comigo me conforta, já que sei que eu nunca vou tê-lo de fato pra mim.

- Amber!

Escuto o meu pai gritar e travo na cama. Está muito tarde, isso não é um bom sinal. Com o coração gelado, eu saio da cama, calço os meus chinelos e saio do quarto. Vejo a luz da cozinha acesa e caminho lentamente pelo corredor. Paro na entrada o vendo em pé em frente a geladeira, com um copo de água em uma das mãos.

- Cadê a comida? – fala com a voz meio embolada

Está caindo de bêbado. Suspiro e caminho até o fogão, abro o forno e tiro a lasanha que fiz mais cedo pra mim comer. Deixo a travessa em cima do fogão e o olho.

- Fiz hoje para o jantar.

- Me serve, anda logo!

O vejo caminhar cambaleando até a mesa, puxando uma cadeira bruscamente. Fala sério, vou pra escola cedo, trabalho de tarde, cuido da casa e o pouco de tempo que tenho na parte da noite para descansar, tenho que ficar servindo um bêbado vagabundo. Juro que se eu tivesse algum lugar para ir, já tinha sumido desse inferno.

Me aproximo dele e quando vou colocar o prato da lasanha na frente, o maldito escorrega da minha mão e toda a comida cai no seu colo. Ele levanta bruscamente fazendo tudo cair no chão, o prato se quebrando em pedaços e só tive o tempo de dar um passo para trás, quando recebo uma rajada de água forte no meu rosto.

- GAROTA ESTÚPIDA!

Abro os olhos ainda em choque. Ele me encarava com ódio e para o meu completo horror, esse maluco dá mais um passo na minha direção. Eu imediatamente recuo, batendo na pia atrás de mim. Não tive tempo para ter alguma reação, quando senti a sua mão forte e grande encontrando direto com o meu rosto.

Levo a minha mão até a minha bochecha esquerda, que agora lateja por conta do tapa.

- Dá próxima vez eu faço você comer a comida do chão, com prato e tudo! E limpa essa nojeira agora!

Mantenho o rosto virado, com a mão no local e o escuto se afastar. Assim que ele bate a porta do seu quarto, me permito chorar, me sentando no chão, as costas apoiadas na pia. Cubro a boca com a mão, tentando abafar os soluços para ele não escutar do quarto e vir me bater mais. Engatinho até a mesa, aonde estava o prato em pedaços e toda a comida caídos no chão.

Chorando em silêncio, começo a recolher todo o caco de vidro com cuidado para não me cortar...

Eu preciso de Você - Eddie MunsonOnde histórias criam vida. Descubra agora