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𝓤ma vez mais o sinal de pedestres virou para o verde e a passos largos Bruno atravessou a rua da Consolação

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𝓤ma vez mais o sinal de pedestres virou para o verde e a passos largos Bruno atravessou a rua da Consolação. Andou mais alguns metros, subindo os degraus de uma escada com piso em granito levigado, parando diante de moderno edifício. Com a visão ofuscada pela luz do sol, reluzindo na fachada envidraçada, avançou mais um passo, para que a porta automática permitisse sua entrada no hall nobre. Parecia antever o diálogo que se seguiria.

"— Olá, boa tarde.

"— Boa tarde, senhor. Que andar deseja?

"— Nono andar. Gostaria de falar com o Sr. Olavo Ravacini."

No entanto, a placa fixada ao painel na parede indicava: "Editora Ravacini – 10º Andar". Após os protocolos de praxe, relativos à segurança, dirigiu-se ao elevador. Durante a subida, em meio a algumas paradas, repassou no celular o estranho e-mail recebido pela manhã.

"De: Olavo Ravacini.
Para: Bruno Pereira de Souza Lobo."
"Olá, Bruno, saudações literárias. Poderia vir até a editora às 15h00? Assunto de seu interesse."
"Cordialmente,
Olavo Ravacini, editor chefe."

Na oportunidade, Bruno não contivera o espanto:

— Que palhaçada é essa, agora?

Pensou em ligar para o sócio, mas uma vez mais ele estava incomunicável, dentro de um avião. Destino? Austrália!

— Coincidência? Sincronismo? E agora José? Vou ou não vou?

A despeito do temor de uma cilada, ao mesmo tempo se sentindo em um filme do qual já conhecia o final, o afã de ter qualquer pista sobre Nora o tornava irracional. Assim, pela terceira vez naquele mês, novamente parado sobre o conhecido meio-fio, só pisou a faixa de pedestres quando teve certeza de haver tempo para atravessar a rua, sem pressa — e isso só se deu quando o sinal indicou "siga". Cruzou a Consolação tão rápido, que cogitou se inscrever na próxima São Silvestre. Os degraus levigados já o conheciam e não se intimidaram com seu pisar firme, mais determinado naquele dia, mas evitaram olhar para cima e serem ofuscados pela luz do sol, inevitavelmente reluzindo sobre a fachada envidraçada.

Era um déjà-vu. Tinha atravessado o mesmo ponto da rua da Consolação, andado sobre a mesma faixa de pedestres e até cumprimentado os degraus levigados de granito. As folhas da porta automática envidraçada quase lhe bateram continência.

— Olá, Júlio, tudo bem?

— Senhor? Como é mesmo seu nome?

— Bruno. Ah!, e vejo que o recepcionista é o mesmo. Tudo bem, Roberto? O emprego novo, como está? Se saindo bem?

O atendente via e atendia a tantas pessoas por dia, que não se lembrava mais de Bruno, estranhando a intimidade. Depois Júlio lhe refrescaria a memória: "É aquele, da editora", mas enquanto isso Bruno olhava para o painel na parede. Lá havia nova placa, dessa feita em andar superior: "Editora Ravacini – 10º Andar".

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