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𝓜uito eloquente, Nora prosseguiu:

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𝓜uito eloquente, Nora prosseguiu:

— Eu diria que os pergaminhos do Mar Morto são maiores em importância. E até mesmo a biblioteca de Nag Hammadi.

— Será? Javier Loyola diria o contrário. E qual foi o interesse específico do Ravacini?

— Queria saber minha opinião sobre o achado de Domingos Casqueira.

— E o Domingos, é só um personagem?

— Ainda não sei.

— Mas logo saberemos, meu escritório está investigando.

Nora comentou, acerca de Ravacini:

— Será que estivemos falando com um morto? Quando jovem, diziam que eu tinha mediunidade — brincou.

— Mas daí eu também teria que ser médium — riu, aproveitando a deixa para mais um galanteio: — Se era jovem, ainda continua.

Nora gostou. Jogou os cabelos para trás:

— Jovem, eu? Já estou com meus quarenta e...

Bruno a interrompeu, com delicadeza:

— Psiu!, não precisa dizer. Totalmente irrelevante.

Nora adorou:

— Gentileza sua. E você é um homem maduro, mas também bastante jovial...

"E bonito", veio-lhe o pensamento como um raio.

— Se maduro não quiser dizer 'velho', eu concordo.

— Velho? Jamais!

Contemplaram-se por alguns instantes, até que Bruno quebrou o clima:

— Crê na existência do documento "Q"?

Nora não pestanejou:

— Não só creio, como tenho certeza de que existe. Ou existiu. Muitas pesquisas já foram realizadas, é algo mais do que provável.

Bruno beliscou um biscoito, enquanto solicitava um cappuccino:

— Foi o que Javier disse a Omar Khaled, e relatado no manuscrito: "Q" possui um pressuposto científico.

— Exatamente!

— Diga-me uma coisa, o evangelho "Q" é mesmo canônico? Pergunto, porque o manuscrito de Domingos diz que os textos de Nag Hammadi são gnósticos, mas afirma que "Q" não é.

Nora não pensou muito para responder:

— Eis aí uma pergunta que o falso Ravacini também me fez... Olha, dificilmente poderíamos considerar "Q" como um texto de conteúdo gnóstico, afinal, se "Q" deu origem a partes comuns em Mateus e Lucas, que são canônicos, "Q", logicamente, há de ser canônico. Mesmo sem o ter nas mãos, temos conhecimento de seu conteúdo.

— E quantos versículos "Q" 'emprestou' a esses dois evangelhos?

Nora bebeu seu último gole do expresso:

— Aproximadamente 250.

— E isso representa quanto, em porcentagem... Ah, quer mais um expresso?

— Um cappuccino.

— Garçom...

Nora aguardou-o fazer o pedido e continuou:

— Mateus e Lucas possuem cerca de 1000 versículos cada um.

— Então é da ordem de 25%.

— Isso mesmo. "Q" representa 25% em cada um deles. Assim, na teoria das duas fontes, Marcos teria contribuído com aproximadamente 70% dos versículos e "Q" com 25%, restando outros 5%, que são de material diverso e próprio de cada autor.

Bruno prosseguiu:

— E como surgiu essa teoria?

Nora adorava falar do assunto:

— Derivou de uma abordagem da Crítica Literária e Textual e começou a ser aventada entre os séculos XVIII e XIX. Foi o chamado problema sinótico...

— Problema sinótico?

— Sim, mas essa é uma expressão que só estudiosos conhecem. Evangelhos canônicos são os que estão na Bíblia. Se não estiverem na Bíblia, são chamados de apócrifos. Já os evangelhos sinóticos, são aqueles que, estando dentro da Bíblia, possuem aspectos em comum. Dos quatro evangelhos (Marcos, Mateus, Lucas e João), somente João não é sinótico.

"O problema sinótico se funda na constatação de que os três primeiros evangelhos da Bíblia (Mateus, Marcos e Lucas), apesar de diferentes, possuem muitos aspectos em comum. Os pesquisadores então se concentraram no que era igual, não no que divergia.

"Sinótico vem do grego synopsis, quer dizer: visão de conjunto. Por isso surgiu a denominação de evangelhos sinóticos. O que os estudiosos fizeram? Colocaram os evangelhos lado a lado, versículo por versículo e foi nessa visão de conjunto que notaram a inequívoca existência de duas fontes: Marcos e 'Q'!

"Se encontrado, o documento 'Q' também poderá ser considerado como sinótico, além de canônico."

— Mas e essa questão da primazia? O manuscrito tece uma teoria conspiratória. "Q" teria o poder de abalar as estruturas da Igreja?

— Ah, sim. Javier Loyola... Um sujeito sinistro, não? Eu o conheci.

— Sério?

— Sim, depois te conto, mas primeiro deixa eu explicar a questão da primazia...

"Marcos é menor que Mateus. Se Marcos é menor e está dentro de Mateus, é quase evidente que veio antes, pois quem conta um conto, aumenta um ponto, já diz o ditado. E é importante, nesse caso, entender como a escrita dos relatos funciona. Geralmente do menor para o maior, com a transmissão oral precedendo a tudo."

— Fascinante. Mas... me fala mais do Sr. 'Sinistro'.

Nora riu:

— Bela definição. Foi há dois anos, na Espanha. Tive o desprazer de ser abordada por esse senhor...

A Fonte QOnde histórias criam vida. Descubra agora