Mil anos

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Úrsula estava fora de si. Dirigia dando voltas pela cidade, tentando decidir o que fazer e para onde ir. Isadora a todo momento fazia perguntas, o que estava a deixando irritada.

- Mamãe, já estamos indo para casa?

- Já falei que sim, Isadora! Pare de fazer perguntas a todo momento! - Dirigia impaciente.

Ela estava decidida a fazer o que fosse preciso para se vingar de Violeta, a mulher que destruiu seu casamento. Nunca amou Isadora, muito pelo contrário, sempre achou péssima a ideia de Eugênio de eles adotarem uma criança. Segundo ela, eles dois já era mais do que suficiente, mas ele insistia em aumentar a família.

Na escola de ballet, estavam todos na sala de Violeta. Eugênio já havia acionado a polícia e Leônidas mandou seus homens ficarem atentos caso vissem Úrsula em algum lugar com Isadora.

Já anoitecia quando o telefone tocou. Era um funcionário avisando para Leônidas que Úrsula havia sido vista em uma loja de roupas com Isadora, não muito longe dali. Os quatro saíram em disparada, chegando em poucos minutos.

A intenção de Úrsula naquela loja era comprar roupas e até mesmo algumas perucas para conseguir sair do estado sem ser reconhecida. Após isso, iria para o mais longe que conseguisse e abandonaria Isadora na estrada, longe dos pais, assim os três iriam sofrer.

Quando chegaram, viram o carro de Eugênio do outro lado da rua. Violeta estava desesperada, queria correr até lá e arrancar a filha dos braços daquela megera, mas Eugênio a conteve, pois Úrsula poderia ter uma crise ao vê-la. A polícia chegou junto, e cercaram o local para impedir que ela fugisse.

Lá dentro, ela segurava Isadora pela mão o tempo todo, com medo da menina perceber algo e fugir. Assim que pagou as compras, passou em frente a uma janela e percebeu a movimentação estranha lá fora, já sabendo do que se tratava.

- Droga! - falou, nervosa.

- O que foi, mamãe? - Isadora estava assustada.

- Nada, Isadora! Já disse para não fazer perguntas, que inferno!

Pensou por alguns instantes e achou melhor tentar sair pelos fundos. O que ela não contava era que Eugênio e Violeta a estavam esperando ali. Quando saiu pela porta, deu de cara com eles.

- Não se aproximem! - Segurava o braço de Isadora com uma mão, enquanto a outra estava dentro da bolsa, fazendo menção de estar com uma arma ali dentro.

- Úrsula, por favor... - Eugênio disse, se aproximando.

- Já falei para não se aproximar! - Gritou.

- Mamãe, me solta! Quero ir com meu pai!

- Você não vai a lugar nenhum, garota insuportável!

- Não fale assim com ela! - Violeta gritou, nervosa.

- Ah é? Vai fazer o quê?

- Úrsula, podemos resolver isso como pessoas civilizadas. Um desquite não é o fim do mundo...

- Como não é o fim do mundo, Eugênio? Depois de anos de esforço, de amor e de carinho você me troca por essa sirigaita!

- Nosso casamento já estava arruinado há muitos anos, Úrsula! Você toda semana viajava, mal tinha tempo para mim e para Isadora, era impossível que isso funcionasse bem!

- Eu fazia tudo isso para ficar cada dia mais linda para você, meu amor... - disse transtornada - Queria ficar mais linda e mais jovem para que você me amasse cada dia mais...

- Solte Isadora e prometo que conversaremos com calma, podemos chegar a um acordo de paz onde ninguém saia machucado... - Deu mais um passo para se aproximar.

- Parado aí! Pensa que sou idiota? Você não vai fazer acordo nenhum comigo que eu sei! A única coisa que qu... - Nesse momento Leônidas chegou por trás dela, a rendendo e a jogando no chão, segurando suas duas mãos. 

O plano era que Eugênio a distraísse o máximo possível para que ele conseguisse rendê-la. Com o impacto do ato, Isadora também caiu. Assim que a menina desabou, Violeta foi correndo abraçá-la.

(A ouvir:  Christina Perri - A Thousand Years - Tradução) 

O coração bate forte

Cores e promessas

Como ser corajosa?

Como posso amar quando tenho medo de cair?

Foram dez anos esperando pelo dia que finalmente abraçaria sua pequena Helena... Aquela menina com olhinhos curiosos e meigos estava ali na sua frente, assustada, com medo. Tudo que Isadora mais precisava, naquele momento, era de sua mãe por perto...

Mas te observando sozinho

Todas as minhas dúvidas de repente se vão, de alguma forma

Um passo mais perto...

 Passava um filme na cabeça de Violeta enquanto ela corria de encontro à sua pequena. Era tão indefesa quando nasceu, mas ao mesmo tempo tão forte... Uma criança perfeita, que desde o primeiro momento que se reencontram, sem saber da relação que as unia, foi muito amada e acolhida. A sensação de preenchida que sentia quando estava com Isadora não era coisa de sua cabeça. Aquela criança fazia seu coração transbordar de amor desde sempre.

Eu morri todos os dias,

Esperando por você

Amor, não tenha medo

Eu te amei por mil anos

E te amarei por mais mil...

Um amor intenso, profundo, que foi capaz de superar a dor da ausência e da separação. Aquela menina era o grande amor da vida de Violeta, era seu coração fora do peito. Se jogou no chão, abraçando forte a menina, enquanto chorava todas as lágrimas que podia. Era um choro de emoção, saudade, felicidade... Mal podia acreditar que estava abraçando sua filha! E sem dúvidas, como diz a música: "eu te amei por mil anos, e te amarei por mais mil...". Sua pequena, que desde sempre foi amada, estava ali. A amou quando estava na barriga, a amou durante esses dez anos de saudade, a amou sem mesmo saber que era sua filha... E agora estavam ali, abraçadas, juntas, como sempre deveria ter sido.

Isadora também chorava, assustada com o que estava acontecendo, sem entender nada. Após longos minutos de um abraço de dez anos de saudade, Violeta se separou, pegando o rosto da menina com as mãos, a olhando nos olhos.

- Minha princesa, você está bem?

- Sim... Mas o que está acontecendo, Violeta? Por que levaram a minha mãe? - Chorava. Nessa hora Eugênio se aproximou, abraçando a filha. Foram horas angustiantes, sem saber onde ela estava. Isadora também era o amor de sua vida, amava aquela menina mais que tudo. Jurou sempre protegê-la, e dessa vez não foi diferente.

- Está tudo bem, meu amor... vai ficar tudo bem, eu prometo... agora vem, levantem-se, temos ir para casa pois temos muito o que conversar... - deram um abraço triplo, ali mesmo no chão, como a família que sempre foram.

Laços de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora