40 - Se preparando para enfrentar o passado

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Nancy e Severo estão em seu quarto, Severo tira suas botas e Nancy pede-lhe ajuda para abrir o zíper do seu vestido, ela se senta na cama para tirar suas sandálias e aproveita a acaricia seus pés cansados do salto alto, Severo está parado na janela, com as mãos nos bolsos da calça olhando os jovens conversando lá embaixo.

- O que você está fazendo aí? – Nancy o abraça por traz.

- Olhando as crianças.

- Quem? – Olha para baixo e vê Marry e Zé Neto conversando, Helena batendo em Renê e Renê bravo se desvencilhando dos tapas de Helena – Crianças? Onde você está vendo crianças ali meu amor? São todos adultos.

- É, eu sei, o tempo passa depressa demais amor, parece que não acompanhei o crescimento deles.

- Acompanhou sim, tanto acompanhou que sua filha já foi pedida em casamento por um jovem peão que cresceu correndo neste quintal.

- E Renê vai noivar daqui duas semanas.

- Vai. E se prepara, porque depois de quase 26 anos, você vai ter que encarar seu passado de frente sorrindo pra você e pra mim também, eu não sei até onde isso é bom pra gente, mas você sempre fez questão de manter Renê próximo demais de você... Da gente, agora ele não abre mão da nossa presença nos momentos importantes da vida dele, a culpa não é dele, é sua, você sempre quis assim.

- Eu senti algo estranho na fala dele durante aquele convite, o olhar dele estava frio.

- Impressão sua, foi o susto que você levou, é natural que tenha passado um filme na sua cabeça, afinal de contas provavelmente aquela casa está cheia de lembranças de você e Marisa juntos, de repente vamos até nos sentar no sofá onde Renê foi concebido, vai saber.

- Nancy...

- Nancy o que Severo? Estou errada? Falei alguma coisa errada? Não foi exatamente isso que te passou pela cabeça quando Renê te fez aquele convite?

- Sim, você tem razão quanto a isso, mas a história do sofá é exagero.

- Pode até ser, mas eu também não me sinto confortável com tudo isso, mas preciso aceitar por Renê, que por culpa sua, tenho ele como sendo parte de mim também – resmunga em seguida – Eu e esta minha mania de aceitar tudo que vem de você.

- Não saberei nem o que dizer quando chegarmos lá, você não sabe como Marisa ficou quando disse a ela que eu tinha ido lá para terminar o noivado – Disse com o olhar perdido – Eu desci do cavalo e ela veio correndo me abraçar, achei ela mais feliz naquele dia do que nos dias anteriores, quando ela veio para pular no meu pescoço como fazia sempre que eu chegava, eu fiz sinal para que ela parasse onde estava e coloquei minhas mãos nos bolsos, o sorriso dela foi se desfazendo e dando lugar a um olhar de pânico, raiva e tristeza, ela não deixou eu terminar de falar, me expulsou da casa dela aos prantos, me disse para sumir da frente dela, eu tentei acalmá-la, mas ela me empurrou e saiu correndo, eu decidi que daquele dia em diante jamais a procuraria, e foi exatamente o que eu fiz, agora estou aqui, sem saber o que fazer, e nem como chegar na casa dela e muito menos, como olhar pra ela de novo.

- Você fez uma escolha meu amor, as consequências das nossas escolhas sempre aparecem, mais cedo ou mais tarde.

- É, eu sei, e ultimamente elas estão aparecendo de pencas para mim.

- Eu nem sei o que dizer meu amor, vi Marisa algumas vezes, ela nunca me olhou nos olhos, até tentei algumas vezes me aproximar quando ela vinha buscar Renata aqui em casa, mas ela nem descia do carro, do jeito que chegava ela saía.

- Com Dirceu tenho pouquíssimo papo também, a não ser na época da escola que éramos colegas de turma, mas ele era apaixonado por Marisa e eu era o namorado dela, então nós não tínhamos grande amizade.

- Meu bem – Nancy beija as costas do marido – Vai ficar tudo bem, se acalme, hoje tivemos uma noite maravilhosa, não vamos estragar com o que já passou ou com o que ainda está por vir, venha cá – Nancy o vira de frente para ela e começa a desabotoar os botões de sua camisa, dando beijinhos envolta da boca do marido.

- Vamos esquecer tudo isso agora, eu preparei um presente de aniversário especial e vou entrega-lo agora a você, vem – sai puxando o marido pela camisa e o leva para o banheiro.

- Meu presente é? Estou louco para terminar de desembrulhá-lo.

No outro dia de manhã.

- Bom dia papai, sua bênção.

- Deus abençoe meu filho.

- Bom dia minha mãe, sua bênção.

- Deus abençoe meu filho.

- Papai, mamãe, tenho um assunto sério e ao mesmo tempo chato para tratar com vocês, eu pedi Helena em casamento.

- Ah! Que bom meu filho, parabéns! Estou muito feliz, Helena é uma boa moça, vai saber cuidar bem de você e com certeza, você também saberá cuidará muito bem dela. – Disse Marisa se levantando e abraçando o filho.

- Parabéns meu filho, fico feliz por vocês, mas eu como seu pai, me preocupo com seu bem estar e com as suas ações, mesmo conhecendo você, sabendo que você é muito sensato e justo, não posso deixar de me preocupar com o bem-estar da moça também meu filho.

- O que o senhor quer saber meu pai?

- Quero saber se você esqueceu de fato Maria Rita, e ama Helena?

- Não meu pai, não esqueci, e também não amo a Helena, ainda, mas preciso seguir com a minha vida assim como ela está fazendo, não podemos ficar parados no tempo esperando um milagre do céu.

- Eu sei disso meu filho, mas você não acha cedo demais para noivar com a Helena, e ela sendo tão próxima a Marry? Você não acha melhor deixar o tempo passar, as coisas esfriarem e você de repente encontrar alguém para amar de verdade? Corre o risco de você fazer esta moça sofrer meu filho.

- Meu pai, conheço Helena a muito tempo, e é claro, como já disse, eu não a amo, mas tenho muito carinho por ela, não se preocupe, vai ficar tudo bem.

- Ok meu filho, vocês são adultos, devem saber o que estão fazendo.

- Sim meu pai e tem mais, Helena já conhece toda a história, ela sabe de tudo, fica mais fácil pra ela me ajudar a seguir a vida, com outra garota eu ia ter que explicar e reviver tudo isso de novo, é doloroso demais pra mim e ainda corre o risco dessa outra garota não entender esta história e eu sofrer de novo – Fica pensativo e respira fundo - Mas o assunto que eu quero tratar com vocês é outro.

- Vai, manda aí a parte chata. – Diz Dirceu se encostando na cadeira.

- Convidei Severo e Nancy para jantar conosco no dia do noivado, um jantar simples só nós e eles e claro os pais de Helena.

- Meu filho, não posso negar que esta informação me pegou de surpresa, há muito tempo não vejo Severo e jurei nunca mais colocar meus olhos naquele homem, mas se você quer assim meu filho, que assim seja.

- Desculpe minha mãe, sei que é delicado para senhora e para o papai, mas eu quero que seja assim, não quero cortar os laços de amizade, mesmo porque, tenho muito apresso a memória de seu Adolfo e ele sim, era quem eu gostaria que estivesse aqui, neste momento tão importante da minha vida.

- Meu filho, estou te entendendo, já desconfiava que você e Severo teriam uma conversa esclarecedora para você, eu criei você e te educando para nunca deixar assuntos pendentes, e você sempre foi assim, de resolver seus problemas na fonte como sempre te ensinei, então eu vou fazer um esforço e por você e por Helena, receberei Severo e Nancy aqui.

- A Nancy não tem culpa de nada, ela acreditou nas palavras do homem que amava, é natural, assim como recebo Marry aqui e Cibelly, receberei Nancy, Já Severo meu filho, não farei questão de recebe-lo, deixo esta tarefa para você e seu pai.

- Pode deixar mãe, obrigado. – Beija os pais e sai.

Da Infância ao Sim.Onde histórias criam vida. Descubra agora