Cap 26 - O Encontro Na Enfermaria

41 9 78
                                    

Dom Extensivo: galaceanos que se materializam em outros locais

Duna: pessoas não galaceanas

Gote: cavalo alado com chifre perolizado

Miússa: espécie de coelho

Praga-viva: termo ofensivo aos não galaceanos

Disputando com as folhas das árvores, alguns raios solares invadiram o quarto da enfermaria da SOTE. Marguel experimentou o calor aquecer o corpo, acamado há quase duas horas. Havia recobrado a consciência cinco minutos após o desmaio, mesmo assim, o estresse e a desidratação colaboraram com sua condição morosa. Parecia que os músculos retomavam o grau de inanição quando esteve dentro de Nylda.

A cantoria dos pássaros foi a grande aliada a despertá-la da sonolência. E, embora os olhos permanecessem fechados, os sentidos se aguçavam na recuperação. Ao identificar passos ecoando pelo ambiente, o coração bateu na garganta e ela se estabilizou de vez.

— Olá, garotinha — apesar de simpática, a voz a arrancou da ilusão de estar na segurança no lar. — Como se sente?

Ao invés de responder, Marguel preferiu entulhar a vista no branco do teto. Sabia estar sendo rude, porém, optou por fingir-se ausente. Então, mais lerda que uma lesma de jardim, levou a mão ao peito. Segurou o suspiro ao agarrar o medalhão da família que a mãe lhe dera antes de embarcar. Com a lembrança, o rosto de poucos amigos pestanejou um par de vezes e desviou-se — úmido — à janela.

Ao ver folhas cor de rosa balançando do lado de fora, confirmou a realidade do pesadelo: estava longe de casa. Sentiu-se aliviada com o silêncio da enfermeira que decerto compreendeu seu estado de espírito. Conversa fiada era o que menos desejava por ora. Permitiu, contudo, que colocasse o termômetro debaixo do braço.

— A febre está baixando, querida — limitou-se a dizer após o aparelho apitar. Ainda assim, colocou um pano fresco na testa pequenina. — Em breve poderá receber visitas.

"Visitas?" — Falseando a ideia num sorriso meia lua, experimentou um nó apertar o estômago.

— Sim — a mulher ajeitou o travesseiro e a criança cogitou que escutava pensamentos. — Há uma porção de bisbilhoteiros querendo conhecer — disse parecendo ler o título de um livro de sucesso — a menina que venceu Telfork.

Lá fora as árvores rebateram os galhos no vidro. Marguel se virou num pulo e, ao ver garras atrás da cortina, se protegeu com o lençol. Imaginou que tipo de gente gostaria de vê-la e a montanha de perguntas que despejariam.

— Não quero ver ninguém — a enfrentou com os punhos na cintura e a encarando por baixo. Depois, empinou o nariz ao bate-bate na janela. — Ainda mais gente enxerida.

— Bom, se lhe faz se sentir segura, parte do ambulatório foi isolado — ignorando a rispidez infantil, sorriu ao apontar o crachá bordado no peito. —Ah, meu nome é Vynanda.

Os olhares se encontraram e ela retirou o pano da testa. Mantinha as sobrancelhas unidas em piedade e isso a incomodou. Contudo, supôs que, assim como os outros, deveria estar louca para ouvir a verdade. Espremendo o sobre lençol entre os dedos, desejou que a deixasse em paz.

— Fique tranquila, meu bem — a enfermeira parou ao lado da cama com as mãos cruzadas na barriga e uma feição que não permitiu transparecer os reais sentimentos. — Poucos têm a permissão de entrar aqui. E alguns conselheiros da SOTE já foram avisados. Estão a caminho.

Marguel assentiu com a cabeça. A boca torcida no canto presumia ser o centro de um alvoroço. Ao menos, o número de curiosos seria controlado, pensou encolhendo-se na cama.

Galácena E Os EscolhidosOnde histórias criam vida. Descubra agora