MEU DESEJO

DEZESSEIS

“ Tudo o que nós tínhamos se foi agora
Diga a eles que eu era feliz
E meu coração está partido
Todas as minhas cicatrizes estão abertas...”
Impossible — Shontelle

LANA

— Diga-me, como você realmente está? — doutora Suelen pergunta.

Sorrio.

— Muito bem!
— Então, está se dando bem com Jaxson?
— Muito, ele tem sido incrível.
— E perdeu o medo de que tudo vá acabar?
— Infelizmente, não.
— Lana, é normal se sentir desta forma. Você passou por muito, e ainda terá um caminho para que consiga esquecer tudo. Só não pode focar nisso, porque é apenas um medo que sua mente está projetando.
— Eu sei. — suspiro. — Estou trabalhando nisso.
— Isso é bom.
— Segui seu conselho e vou voltar a estudar.
— É mesmo? Fico feliz.
— Obrigada.
— O que escolheu fazer?
— Designer de interior.
— Incrível. Se precisar treinar, fique a vontade para mudar meu apartamento.
— Olha que cobrarei. — rimos.

Conversamos por mais um tempo.
Saio do consultório, vejo uma farmácia. Entro nela e peço um teste de gravidez.
Tenho estado mal nos últimos dias, pode ser que seja apenas algo que não me fez bem. Mas preciso tirar essa dúvida.
Contei para doutora Suelen, e ela me aconselhou a fazer o teste junto do Jaxson. Só que eu não irei, melhor não encher a cabeça dele com ideias.
Nunca conversamos sobre filhos, até hoje ele não teve nenhum, talvez não queria ter nunca.
Meu celular toca.

— Olá.
— Onde está?
— Na rua, acabei de sair da consulta.
— Vai para casa?
— Na verdade, quero andar um pouco. Vi uma loja nova de doces, acho que vou comprar alguns.
— Você e o vício em doces. — ele ri.
— Não é meu único.
— Porque não compra aquele vestido que vou e gostou?
— Eu...
— Deixe-me reformular. Compre o vestido com o cartão que deixei com você, e uma sandália.
— Mas...
— Te levarei para sair.
— Hoje?
— Amanhã. Mas compre tudo que precisa hoje.
— Okay.
— Até depois.
— Até, beijo.

Guardo o teste na bolsa e vou as compras.

Chego em casa, a primeira coisa que noto é a música baixinha.
Estranho.
Pois o carro do Jax não está estacionado na garagem.
Deixo as sacolas sobre o sofá.
Vejo pétalas de rosas vermelhas espalhadas pelo chão. Vou seguindo o rastro, elas param na porta do quarto dele.
Engulo em seco, com medo.
Abro a porta, e fico petrificada. Susan está na cama, de lingerie.

— Quem é você? — ela rosna. — Te conheço, é a garota do restaurante!
— Que faz aqui?
— É minha casa.
— Não. A casa é do Jaxson.
— Querida, somos casados. Tudo que é dele é meu também.
— Deveria ir embora.
— E, por quê?
— Jaxson não vai gostar se souber que está aqui, ainda mais assim.
— É mesmo? — ironiza. — Porque então ele vive me procurando?

Um calafrio percorre meu corpo.
Uma onde de náusea.

— Estão juntos? — ela pergunta.
— Sim.
— Desde quando?
— Não interessa!
— Oh, querida. — ela ri. — Desculpa informar, mas você não é a única que está com ele.
— Mentira.
— Pergunte a ele.

Escuto a porta sendo aberta com um estrondo.

— Sabia que ele estava vindo? — indago.
— Claro. Jaxson pediu para mim esperar por ele aqui.

Nesse momento ele entra no quarto.
Ele nos encara.

— É verdade? — pergunto.
— Lana, eu posso explicar.
— Pediu para ela não sair? Te esperar aqui?
— Sim, eu pedi mas...
— Não precisa explicar. — A ronrona. — Não deve satisfação. Não é da conta dela se nós fodemos.
— Cala a boca! — rosna irritado.
— É verdade? — questiono baixo. — Vocês estão dormindo juntos?
— Lana...
— Apenas responda.
— Fiquei com Susan duas vezes.
— Nesse tempo que estávamos juntos?
— Sim.

Perco o chão.
Como eu fui uma idiota.
Nunca fui a única.

— Lana... — ele tenta se aproximar mas eu me afasto.
— Não encoste em mim, nunca mais!
— Vamos conversar.
— Quero distância de você.
— Menina, não faz isso.

Corro para meu quarto, tranco a porta.
Choro igual uma criança.
Odeio-o.
Jaxson quebrou meu coração.
Minha confiança.
Apenas quero que tudo acabe.

Fico trancada no quarto, sem coragem para encará-lo.
Jaxson chama várias vezes, apenas ignoro.
Ele não faz ideia de como me destruiu.
Simplesmente, juntos meus cacos para quebra-los de novo.

— Menina, fale comigo. — pede do outro lado da porta. — Estou arrependido, acredite em mim.

Queria mesmo acredita nele, mas não consigo.
Minha confiança se foi.

— Escute, preciso ir na delegacia. Quando voltar nós conversaremos.
Ignoro-o.

O enjoo me atinge, corro para o banheiro e despejo tudo.
Lembro do teste, infelizmente minha bolsa ficou na sala.

A casa está silenciosa, destranco a porta do quarto e desço para pegar minha bolsa. Corro para cima, entro no banheiro e pego o teste. Faço xixi no palito e espero, minutos depois tenho o resultado.
Negativo.
Fico um pouco aliviada.
Uma criança só dificultaria as coisas.
Chegou há hora de ir.
Junto um punhado de roupa numa mala, pego minha bolsa com documento.
Com o resto de dignidade que me resta, vou embora.