VINTE E DOIS

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“Então, amor, me diga sim
E eu serei toda sua esta noite
Então, amor, me diga sim
E eu lhe darei tudo
Eu estarei bem ao seu lado...”
The Cure — Lady Gaga

LANA
TEMPOS DEPOIS


— Tia Lana! — às crianças gritam assim que entro no abrigo.
— Boa tarde! — abraço-os.

Faz algum tempo que não moro mais no abrigo, vivo sozinha numa casa simples. Doutora Jay me deixou morar na sua antiga casa, ela disse que não se importava se eu fosse viver lá.
Agora tenho onde morar, pago o aluguel e as contas com o salário que ganho na clínica. Consegui um emprego na clínica que ia com Miriam. Ela teve sua bebezinha, e ela é perfeita.
O abrigo passou por reformas, um doador misterioso fez uma generosa doação. Não era preciso ser tão inteligente para saber quem foi que doou o dinheiro.
Jaxson tem se mantido afastado, mas as vezes tenho a sensação de que ele está por perto.
Não me sinto pronta para vê-lo, ou conversar com ele. Doutora Jay disse que é normal, que com o tempo minhas cicatrizes se fecharam, e eu, estarei pronta para ter um relacionamento saudável com alguém.

— Querida, que bom vê-la. — Coralina me abraça.
— Bom te ver também.
— Dia de consulta?
— Sim, mas antes ficarei um pouco com as crianças.
— Elas sentem sua falta.

Mesmo morando longe e tendo um emprego fixo ainda venho ao abrigo quase todos os dias, gosto de ficar com as crianças. E, duas vezes por semana tenho consulta com a doutora Jay.

— Adoro estar com eles.
— Principalmente com Sabrina não é?
— Ela é especial.

Sabrina é uma joia. Uma menina tão especial.
Não posso negar que me apeguei, dói quando tenho que ir.
Queria poder ter recursos para adota-la, mas antes de querer seguir com a ideia tenho que arrumar minha vida.

DIA SEGUINTEO

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DIA SEGUINTE
O

trabalho na clínica é bem tranquilo, eu gosto. Todos são educados.
Fiz amizade com Matheu, ele é tão engraçado. Vive contando sobre seu casamento, seu marido também é legal. Os dois fazem um casal muito bonito.

— Loirinha, pode fazer uma pausa se quiser. — ele ronrona no meu ouvido.
Dou risada.  Matheu sempre me chama de loirinha, lógico, só quando estamos nós dois.
— Pode ir primeiro, se quiser.
— Tem certeza?
— Sim, eu tenho.
— Obrigado, preciso de cafeína.
— Então, vá se entupir de café.
— Volto logo, loirinha.
— Okay.

Cinco minutos depois, sirvo café e biscoitos para o doutor Augusto. Ele é obstetra, foi ele quem me contratou. É um grande amigo da doutora Jay.
 
— Pelo que vi terei apenas mais uma paciente hoje. — diz.
— Posso confirmar se quiser, quem está com sua agenda é o Matheu.
— Você ficou com os compromissos de Priscila?
— Sim.

Ele revira os olhos.
Ninguém é muito fã da doutora Priscila.

— Estarei na recepção, se precisar.
— Certo, obrigado pelo cafezinho.

Volto para a recepção, arrumo os papéis que Matheu deixou espalhado. Ele é um pouco bagunceiro.

— Lana! — a voz surpresa me trava.

Respiro fundo.
Meu coração parece um trator.

— Como vai, Jaxson? — respondo educadamente, mesmo que minha vontade seja de correr para longe.
— Você... parece bem. — ele me olhade cima a baixo.
— Obrigada.
— Lana, eu... — nesse momento entra uma mulher que se agarra nele.
— Jax, da próxima vez seja um cavalheiro e me espere! — ela rosna. — Estou grávida, e por isso mais lenta.
— Pode deixar. — ele deposita um beijo na testa dela.

Sinto que posso desmaiar a qualquer momento, meu coração que bate descompensado está prestes a sair pela minha boca.

— Olá, sou Marcelle. — ela tem um lindo sorriso. — Vim para a consulta com o doutor Augusto.
— Hum, claro. — digo meio sem jeito. — Aguarde um momento, por favor.
— Está bem.

Corro até a sala do médico com os papéis dela. Para minha sorte ele não demora para chamá-los.

Engulo em seco.
Sinto medo.
Conto até dez, mentalmente.
Repito até me acalmar.

Eles entram na sala.
Para minha salvação, Matheu volta.

— Ainda bem que voltou.
— Tudo isso por um cafezinho. — ele brinca. — Eu disse que poderia ir antes.
— Não é isso, eu só... preciso fazer essa pausa.
— Certo.

Corro para a sala de descanso.
Pego minha bolsa, o celular e disco.
Ligo para a doutora Jay.

— Lana, aconteceu alguma coisa?
— Eu... sinto-me nervosa.
— Conte-me o que está acontecendo?
— Jaxson está aqui na clínica.
— Entendo.
— Vê-lo me deixou apreensiva.
— Porque?
— Foi como levar um soco no estômago.
— Explique-me melhor.
— Por mais que não queria ele ainda mexe comigo, não sei lhe explicar muito bem... só que ele ainda invade minha mente. E, ele está aqui com uma mulher linda que está grávida.
— Lana, como eu disse antes precisamos trabalhar mais em sua confiança. Você acha todas moças são mais bonitas, precisa parar com essa negatividade sobre si mesma.
— Eu sei. — suspiro.
— Fugir após vê-los também não é certo.
— Não fiz isso.
— Me ligou assim que os viu não foi? Isso é fugir. Precisa encarar seus problemas de frente, não pode fugir para sempre.
— Tem razão.
— Enfrente seus problemas de frente, e lembre-se, nada será como antes.
— Obrigada.
— Se precisar estarei aqui.
— Certo, preciso ir.

Desligo.
Ela está certa, tenho que perder esse medo bobo.
Passou da hora de vestir minha calcinha de garota grande e enfrentar meus problemas.

Saio da clínica às sete da noite

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Saio da clínica às sete da noite.
Como a doutora Priscila ficou até tarde, tive que ficar também.

— Boa noite, Lana. — me assusto.
— Jaxson.
— Indo embora?
— Hm... sim.
— Venha, vou levá-la.
— Não é necessário.
—Não me importo em te acompanhar.
— Disse que não é necessário, posso ir sozinha. Mas obrigada.
— Lana... por favor.
— Certo, vamos então.

Meia hora depois, chegamos em frente a minha casa. O caminho foi feito em silêncio.

— Está morando com quem?
— Sozinha.
— E, como conseguiu?
— É de uma amiga.
— Você está diferente. — ele tenta tocar meu rosto mas me afasto.
— A vida me fez mudar.
— Entendo.
— Bom, obrigada pela carona.
— Precisa de algo?

Reviro os olhos, e bufo irritada.

— Não preciso de nada. Estou trabalhando, tenho uma casa, voltei a estudar.
— Isso é bom.
— Maravilhoso, na verdade.
— Sabe onde me encontrar se precisar de alguma coisa.
— Tchau, Jaxson.
— Só me ligue se precisar de qualquer coisa.
— Obrigada.

Homens e seus jeitos de acharem que sempre precisaremos dele para tudo.
Posso cuidar de mim mesma, estou provando que sim. Continuarei provando que não preciso dele nem de ninguém.

MEU DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora