DEZENOVE

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“Sei que há esperança nessas águas
Mas não consigo me convencer a nadar
Enquanto eu estou afogando neste silêncio...”
Easy On Me — Adele

LANA


— Preciso de sua ajuda. — Coralina parece nervosa.
— O que aconteceu?
— Carolyn não veio, ligou e disse que não se sente bem.
— Mas o que ela tem.
— Disse que comeu algo que não fez bem.
— Porque precisa da minha ajuda?
— As crianças estão na sala, esperando por Carolyn...pensei que poderia ir, e auxiliá-las hoje.
— Eu? Mas, não sou professora.
— Eu sei, não tem problema. Preciso apenas fique com os menores, ajude com os desenhos.
— Hoje é o dia da pintura?
— Isso mesmo.
— Certo, eu vou.
— Obrigada, Lana.

Entro na sala, as crianças me olham estranho. Provavelmente não sabem que Carolyn não vem ajudá-las.

— Oi, sou Lana.
— Cadê a professora? — uma menininha pergunta.
— Não está se sentindo bem, então não conseguira vim. Vou ficar no lugar dela.
— Ela vai voltar?
— Amanhã.
— Eu vi você. — um menino diz. — Estava com a tia Coralina, na cozinha.
— Geralmente é lá que fico.

Às outras crianças parecem curiosas.

— Bom, sei que o tema é livre. Podem pintar o que quiserem. — entrego uma caixinha com tinta para cada um.
— Tia Carolyn sempre pintava com a gente, você também vai?
— Eu...nunca pintei. Não sei desenhar.
— Sabrina pode fazer um desenho para você, aí só vai precisar pintar. — o mais baixinho diz.
— Hm... não sei. Não parece certo, cada um tem que criar seu próprio desenho.
— Mas nem todos sabemos.
— Certo, façamos assim. Cada um faz seu próprio desenho, sem pedir ajuda para o colega. Vou fazer um também.
— Mas e se alguém rir? — a menina loira pergunta.
— Ninguém irá rir, não deixarei.
— Vai mesmo fazer um?
— Sim, eu irei.
— Então, combinado.

Pego algumas folhas e uma caixinha de tinta, procuro um lugar para ficar.
Não tenho ideia do que fazer, não sei desenhar. Mas terei que criar alguma coisa.
Tempo depois, todo mundo terminou.
Chegou a hora de mostrar as obras.

— Quem vai primeiro? — indago.
— Você! — todos dizem.
— Certo.

Mostro meu desenho, as crianças ficam encarando a folha como se não entendessem.

— Que lugar é esse? — um pergunta.
— Onde eu cresci. — respondo. — Era uma casinha pequena de madeira branca, em volta tinha o jardim. A cadeira de balanço dos meus pais e o pneu onde eu me balançava entre as árvores.
— Onde estão os seus pais? — é Sabrina quem pergunta.
— Já faleceram.
— Os meus também.
— Sinto muito.
— Minha tia cuidou bem de mim, até me largar aqui.
— Ela abandonou você?
— Sim, disse que estava difícil cuidar de mim e dos filhos dela. Eu não liguei de morar aqui, pelo menos ninguém tentou me tocar contra minha vontade.

Perco o chão.
Meus olhos queimam.

— Ninguém fará mal a você.
— Tia Carolyn, Coralina e Jay sempre dizem isso.
— E elas estão certas.

A menina da um grande sorriso.
Sabrina é linda, sua pele jumbo combina com seus cabelos cacheados.

— Bom, quem é o próximo! — falo para mudarmos de assunto.

Todas as crianças levantam a mãozinha.
Dou risada pois ninguém queria ir antes.

— Fez um bom trabalho com as crianças hoje

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— Fez um bom trabalho com as crianças hoje. — Jay me elogia.
— Obrigada.
— Como se sentiu ao ficar com eles?
— Bem.
— Teve vontade de ir novamente?
— Hm, sim.
— Então, volte.
— Não vai dar.
— Porque não?
— Eles tem alguém que os ajuda, Carolyn volta amanhã.
— Pode auxiliá-la.
— Não sei, talvez ela não queira.
— Só saberá se falar com ela.
— Quando eu vê-la falo a respeito.
— Bom, precisa de algo para ocupar a mente.
— Já disse isso antes.
— E, continuarei dizendo.
— Vou indo, preciso ajudar na limpeza da cozinha.
— Aproveite que estará na cozinha e coma, anda muito magra.
— Pode deixar.
— Falo sério.
— Eu também. — minto.
— Anda tomando as vitaminas?
— Todos os dias.
— Continue com elas.
— Okay.

Uma batida na porta, interrompe nossa conversa.
Agradeço, pois é difícil mentir para Jay. Ela sempre descobre.
Jay levanta-se para abrir a porta.

— Que surpresa! — ela parece feliz.
— Infelizmente, não pude vir antes. Alguns contra tempos.

Sinto uma louca vontade de me esconder. Não tem lugar.

— Entre!

Levanto e vou para o canto. Às duas entram.

— Lana! — doutora Suelen exclama surpresa.
— Se conhecem? — Jay questiona.
— Sim, ela era minha paciente.
— E, agora é minha.
— Meu Deus! Está morando aqui? Tem ideia de como estamos procurando por você? Jaxson...
— Não! — grito. — Não fale que me encontrou.
— Ele está louco de preocupação.
— Eu não quero vê-lo.
— Mas...
— Por favor, não conte.
— Lana, ele tem que saber. Jaxson está perdido, procurou seu nome até em obituários.
— Ele me magoou.
— E, está arrependido.
— Você vai contar não é? — pergunto. — Você vai!

Uma onde de desespero começa a crescer.
Minhas mãos tremem.
Sei o que vem a seguir, ansiedade.
Sinto falta de ar.

— Respire, querida. — Jay pede. — Apenas, respire fundo.

Faço o que ela diz.
Aos poucos vão me acalmando.

— Isso, querida. Já passou, está tudo bem.
— Ela vai me entregar. — sussurro.
— Você não quer ver esse homem?
Balanço a cabeça, negando.
— Então não verá.
— Obrigada.
— Jay, vamos conversar. — doutora Suelen exige.
— Vou deixá-las sozinhas.

Saio correndo.
Mesmo a doutora Jay dizendo que ficará tudo bem, sei que não vai.
Não estou pronta para vê-lo, as feridas ainda estão em aberto. Não sei um dia irão se curar por completo.

MEU DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora