VINTE E TRÊS

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“Eu sou feminina, eu sou masculina
Eu sou o qualquer coisa que quero ser
Eu posso te ensinar, eu posso te amar
Se você entendeu, deixa rolar...”
I Am Woman - Emmy Meli

LANA
TEMPOS DEPOIS

Eu estava feliz.
Estava incrivelmente feliz.
Tinha meu emprego, um lugar para morar e estava estudando. Tudo ia tão bem que mal dava para acreditar.
Mesmo depois de tanto tempo eu ainda fazia terapia, tinha me ajudado tanto que largar era um pouco difícil. Jay dizia que eu não precisava mais, porém conversar com ela fazia eu me sentir bem.
Com o trabalho e o estudo ir até o abrigo havia se tornado meio difícil, eu comparecia apenas nos finais de semana. Sentia falta de estar com aquelas crianças todos os dias.
Confesso que estava cada vez mais apegada em Sabrina, ela era tão doce e carinhosa. Sinta-me triste por talvez não conseguir adota-la. Eu queria muito que desse certo, mas Jay me aconselhou a não dar entrada nos papéis ainda, pois eu precisava estar cem por cento comigo mesma antes de cuidar de outra pessoa. Ela estava certa.
Mas agora, eu me sinto pronta. Quero ter minha própria família.
Desde o dia que vi Jaxson no consultório com aquela mulher, ele tentou se apaixonar de mim algumas vezes e todas eu o afastei. Não preciso de mais problemas para minha vida.
Sinto que ainda tenho sentimentos por ele, entretanto, já não são tão fortes como antes. Em todas suas tentativas de aproximação eu deixei bem claro que não daria certo nem mesmo sermos amigos. Ele acha que estou errada, mas não me importo com o que ele pensa.
Achei que ele era maluco em querer estar perto de mim, estando com a mulher da clínica. Acontece que ela é sua irmã.
Não sabia que ele tinha uma irmã.
Na verdade, não sei nada sobre ele. Jaxson nunca me contou nada. Eu era apenas um brinquedo sexual, e eu deixava que me usasse, mas esses dias acabaram.
Não sou mais aquela menina que queria atenção dele não importava como fosse.
Aprendi me amar... me valorizar.

— Lana, você pode pegar um lanche para mim no outro lado da rua? — doutor Augusto pergunta.
— Claro que sim.
— Obrigado. — agradece. — Quero um sanduíche de peito de peru e um capuccino. — ele entrega seu cartão.
— Algo mais?
— Apenas. Muito obrigado.
— Volto já.
— Quer algo também? — pergunto ao Matheu.
— Não loirinha.

Saio da clínica e vou até a lanchonete.
Entro na enorme fila, todos os dias a fila é grande. Não julgo, essa lanchonete servem os melhores sanduíches.

— Lana é você? — reconheço a voz. Meu corpo retesa.
— Zoe, como vai? — por incrível que pareça não sinto vontade em sair correndo.
— Muito bem e você? — ela me olha sorrindo.
— Estou bem.
— Minha nossa... olha só para você! Está linda.
— Hum, obrigado. — não gosto muito de elogios.
— Estou feliz em te ver. Você trabalha na clínica aqui em frente?

Deveria ter colocado um casaco por cima da blusa da clínica.

— Eu trabalho.
— Que legal.
— É sim. — Zoe está sendo tão legal, me sinto uma idiota por querer que a conversa acabe logo.
— Agora que sei onde trabalha vai ser mais fácil encontrá-la novamente.
— Hum, sim. — repondo sem jeito.
— Preciso ir agora, não gosto de ficar tanto tempo longe da minha filha.
— Teve uma filha? — questiono surpresa.
— Sim, Hillary.
— Com Santiago?
— Sim, nós nos casamos. — ela mostra a aliança
— Meus parabéns.
— Obrigado.
— E como vai a Valentina?
— Não está mais por perto.
— Que bom.

Zoe ri sem humor.

— Longa história. — diz suspirando. — Tenho que ir agora, mas qualquer dia apareço na clínica para conversarmos.
— Tudo bem.
— Tchau, Lana. — aceno em despedida.

Pensei que se um dia eu visse novamente algum deles na minha frente teria uma crise de pânico ou algo parecido, mas não. Foi até que normal.
No começo fiquei um tanto incomodada, pois pensei que as lembranças do passados invadiriam minha cabeça, mas não fizeram.
Realmente estou superando tudo.
Como diz a doutora Jay, um passo de cada vez para minha liberdade emocional.

MEU DESEJOOnde histórias criam vida. Descubra agora