MEU DESEJO

SEIS

" Me diga algo que eu preciso saber
Depois tire meu fôlego e nunca deixe ir
Se você me deixar invadir seu espaço
Eu ficarei com o prazer, junto com a dor..."

Love Me Harder - Ariana Grande

LANA

- Hei, você está bem quieta hoje. - David senta ao meu lado.

Hoje é meu dia de folga.
Não costumo sair, prefiro ficar dentro de casa. Dona Marieta fala que estou sendo boba, que tenho que aproveitar minha vida.

- Estou com um pouquinho de dor. - falo. - Já tomei uma aspirina, logo passa.
- Sabe, tem algo que quero te perguntar faz uns dias.
- O que é?
- Você quer sair comigo? Tipo, ir num barzinho e beber alguns drinks.
- Quer sair comigo?
- Sim, eu quero.
- Porque?
- Como assim por quê, você é bem bonita e legal.
- Eu...não sei o que dizer.
- Diga que aceita.

Eu poderia sair com David, deixar rolar. Mas e se não desse certo, não queria perder sua amizade. Fora que estou morando na casa da avó dele.

- Eu aceito, com uma condição.
- Qual?
- Iremos como amigo.
- Fechado.
- Certo.
- Te pego às oito.
- Okay.

O bar onde nós estávamos era bem legal, um pouco barulhento de mais.
Havia um caraoquê, várias pessoas tinham ido cantar.

- Deveria ir cantar. - David fala antes de virar seu shot de tequila.
- Hum, não. Eu passo.
- Podemos fazer um dueto.
- Vai por mim, não quero prejudicar a audição das pessoas aqui. Não fui feita para cantar.
- Você foi feita para que, Lana?
- Eu... - não sabia o que responder. - Não sei, na verdade.
- Você é cheia de segredos.
- Não costumo me abrir com as pessoas.
- E, porque não?
- Porque elas acabam usando isso contra mim.
- São uns estúpidos quem fez isso com você.
- Não importa mais.
- Mas é lógico que importa. Da pra vê que ainda te machuca esses sentimentos.
- Podemos mudar de assunto?
- Certo.
- Obrigada.
- A oferta de cantar ainda está de pé.

Depois de algumas cervejas e tequilas, David e eu cantamos no caraoquê. Uma tragédia, mas bem divertido.
Ele faz com que eu me sinta solta, posso ser eu mesma com David.

- Acho melhor não cantarmos mais. - falo rindo ao ver algumas pessoas bravas.
- Que se danem, esse é um bar com caraoquê. Quem não quiser ouvir ninguém cantando é só ir embora.

Ele tinha razão. Mas o melhor era não procurarmos problemas.

- Vou ao banheiro, já volto. - informo.

Entro no banheiro, vou até a cabine desocupada. Assim que saio, lavo as mãos. Passo um pouco de água no rosto, seco o molhado e limpo a maquiagem borrada.

- Oi, eu vi você com o David. - uma menina baixa e loira, diz.
- Gabriela, não é uma boa ideia. - a garota ao seu lado tenta puxá-la.
- Um conselho, se afaste dele. - a tal Gabriela murmura. - David não é um cara legal, não espere ser tarde de mais para se afastar.

Ela levanta a blusa e vejo uma enorme cicatrizes em seu estômago.

- Ele...fez isso? - sussurro.
- Vamos sair daqui! - às duas saem do banheiro.

Estou abismada.
Fico enjoada só de pensar na hipótese que David tenha feito aquilo com a menina. Quero saber a verdade, preciso perguntar a ele.
Mas e se for mentira dela? Talvez, ela seja uma ex namorada que não superou o fim do término.
Decido não confrontá-lo, pelo menos não hoje.

- Você está um pouco estranha. - David comenta assim que entramos no carro.
- Me desculpa, estou enjoada. Não costumo beber tanto. - minto.

Na verdade, não consegui esquecer o que a garota contou.

- O erro foi meu, não deveria ter te deixado beber muito.
- Tudo bem.
- Quer comer alguma coisa?
- Não. Só preciso deitar.

O percurso até a casa de dona Marieta foi feito rapidamente. Agradeci mentalmente por não demorar.

- Te vejo depois? - solto o cinto de segurança.
- Lana, me diverti muito hoje.
- Eu também.
- Sabe, ganhei dois convites para um baile de máscara daqui alguns dias, quer ir comigo?
- Onde será?
- Aqui em Houston mesmo.
- Como arranjou os convites?
- O senhor Marlon sempre vai ao restaurante, diz que o Saylor é o melhor. Sempre que ele da esse baile me convida.
- E, você foi?
- Sim, é bem legal. Você vai gostar.
- Posso pensar?
- Claro que sim.
- Depois te dou minha resposta.
- Okay, vou estar esperando.
- É melhor eu entrar.
- Tenha bons sonhos, Lana. - ele segura minhas mãos e as beija.
- Obrigada, David.
- Tchau.
- Até depois.

Minha cabeça está um turbilhão de pensamentos. Esse David carinhoso e educado, não pode ser o mesmo que deu uma enorme cicatriz naquela garota.
Tem algo errado nessa história, ela provavelmente estava mentindo.