9 - Venenosos

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A porta dupla de vidro se abre. Desfilo para dentro do SPA de braços dados com Tae. Outras dez pessoas do time de animadores de torcida estão lá, com duas outras que não são oficialmente do time, mas carregam toalhas e água gelada para nós.

- Jimin! Taehyung! - Yuna anuncia nossa chegada com um sorriso largo no rosto quadrado.

Ela está cercada pelo grupinho de Woo e, claro, ao lado de Woo. Apesar de sua proximidade, todos sabem que essa relação é de pura falsidade, já que Yuna odeia Woo e vice-versa, por causa da disputa pela vaga de capitão do time. Uma mulher lixa as unhas da mão dela e outra as do pé.

Pelo visto, o SPA está cheio demais para todos nós. Sento-me no sofá depois de cumprimentar uma por uma. Ao meu lado está Mia, que participou das finais da seleção comigo, mas ficou com o cargo de carregadora de toalhas. Sorrio para ela, e Mia responde de mesma forma. No entanto, para ser sincero, nunca me interessei por Mia antes.

Ser carregadora de toalhas é... uma humilhação. O singelo jeito de dizer que você quase tem beleza e quase é bom para ser animador de torcida. Pelo menos, nesse time cheio de protótipos de Barbies, é assim que funciona. Poder andar com populares do colégio, mas não fazer parte, é humilhante!

Hoje, fiquei um pouco apiedado de Mia como jamais ocorrera antes. E pensei em razões quase filosóficas que fazem as garotas agirem assim com ela. É assustador constatar esse preconceito. Mia é muito bonita, ruiva, cabelos de cor ferrugem longos e ondulados. Tem um nariz bonitinho e está no peso certo, atlética como o nosso.

Seu único grande defeito? Ter o rosto tão cheio de pequenas sardas que parece um daqueles bolos formigueiros. Como a pele é inteira manchada, ela se encharca de base para disfarçar, o que funciona bem em fotos, mas, de perto, se vêem todos os remendos.

Ainda assim, acho injusto que isso a coloque no banco de reservas dessa forma, sendo que, nos treinos, ela se destaca. A treinadora devia dar mais chance a Mia.

E provavelmente haja pessoas mais altas que a média, mais gordas que a média e outras coisas, que possam ser tão boas ou até melhores que as enquadradas no padrão, mas nunca terão chances. O mundo todo é assim... E tudo o que eu sempre quis foi me enquadrar nesses padrões.

- O que vai fazer no cabelo? - Pergunto para Mia dando uma ombrada de leve nela.

- Ah... E-eu... - ela gagueja sem acreditar que estou lhe dirigindo a palavra.

Normalmente trato as pessoas como se elas não existissem. Foi algo que aprendi quando resolvi ser popular e adentrar esse time. Busquei um tipo de aceitação que agora me parece tão superficial... Se é que tudo isso que estou pensando faz sentido.

- Luzes! - uma menina ali grita, mas acho que ela está sendo cruel com Mia.

- Luzes, talvez? - Mia não parece ter certeza do que quer.

Oh, o mundo de populares. Isso é muito chato. Sabe o que eles fazem quando não gostam de outra pessoa? Falam mal pelas costas e, na frente, se fingem de amigos, mas dão as dicas erradas. É muito podre. No time de animadores de torcida? Isso acontece o tempo todo!

Eu me lembro de que quando entrei, ficaram especialmente enciumadas dos cabelos de Tae e o fizeram cortar dois dedos dele, mas a cabeleireira errou e cortou quatro. O que antes era cheinho e com perfeitos cachos, agora é curto e ondulado como os outros. Ele chorou um dia inteiro.

- Você devia pedir que acentuassem seus cachos. - Seguro uma mecha de seu cabelo, balançando. - E não mexer na cor. Essa está linda, todo mundo morre de inveja. - Minha última frase foi endereçada ao grupinho de Woo e Yuna.

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