1- Superlativo absoluto

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Estreito os olhos enquanto piso em frente ao muro da vergonha.

Meu reflexo surge no vidro transparente: o rosto triangular simétrico e bonito, contornado por cabelo ondulado na cor loiro dourado. Meus olhos são na cor âmbar e estão levemente maquiados.

Com o dedo mindinho, acerto o contorno do gross em minha boca, gesto que não consigo evitar. Sou vaidoso, preciso sempre checar a minha imagem em qualquer reflexo, mesmo segundos antes de olhar para a folha presa por tachinhas douradas no feltro verde-escuro do quadro de avisos ao lado da classe, expondo minhas notas.

Meu. Deus. Isso não pode estar acontecendo. Uma pedra chamada "estou encrencado" desce pela minha garganta. Engulo em seco com dor. Minhas notas estão horríveis.

Não que seja novidade, afinal, não pertenço ao tipo que abdica da vida social por tardes de estudo no quarto ou na biblioteca, mas esperava que todo esforço dos últimos dias tivesse servido para modificar meu cruel destino.

- Oh-oh. - Tae agarra meu braço com força e finca as unhas na minha pele. Ele está com os olhos escuros bem abertos e a boca em um perfeito círculo de surpresa nada agradável. - Você está ferrado - sentencia.

Taehyung apenas olha alternamente do quadro de notas para mim, diversas vezes, ligando o nome que está no papel à pessoa que realmente tem as piores notas da classe.

- Eu sei, eu sei! - choramingo e faço bico - Não acredito que o professor de história não me deu uma boa nota mesmo eu entregando o trabalho!

- Era um trabalho sobre a ONU e você escreveu sobre a Tomada da Bastilha - Tae lança com seguro, a sobrancelha direita um pouco erguida como se não pudesse acreditar em como eu fui burro.

- Pesquisei na internet sobre a Declaração dos Direitos Humanos e foi isso que apareceu na Wikipédia! - Bato os ombros e coloco as duas mãos na cintura.

- Esse tipo de atitude vai colocar você no colégio público - Tae me condena, balançando a cabeça de um lado para o outro, chacoalhando os cabelos.

Um frio atravessa minha espinha e gela os pelos da minha nuca. O castigo. Tae tinha que me lembrar do castigo! Bufo, enchendo as bochechas de ar.

Não é justo que meus pais tenham me ameaçado dessa forma. É cruel e desnecessário. Já não basta terem tirado minha mesada e dificultado ao máximo minha sobrevivência?

Meus pais se uniram contra mim. Acham que minhas notas estão horríveis e que eu não me esforço o suficiente para passar de ano, e isso, em parte, é verdade. Mas caramba! Eles são "pais", e uma das coisas que os pais devem fazer aos seus filhos é pagar-lhes os estudos.

Não importa se o colégio é caro e o filho não estuda, pois enviá-lo para uma escola pública não vai melhorar a educação para início de conversa! Não que eu me importe com o tipo de educação, eu receio mesmo é ser desmoralizado publicamente.

E acredite, ir para o colégio público é pedir para ser desmoralizado. Eu, Park Jimin, o mais provável candidato a se tornar rei do Baile de Primavera, prestes a virar um simples plebeu, porque meus pais decidiram que, caso eu não passe o semestre, serei enviado para a escola pública.

Colégio público? Nem pensar. Preciso dar um jeito de passar de ano. Colar na prova não deu certo, como tentei na aula de matemática. A professora viu e me colocou para fora, com um belo zero. Vou precisar tirar dez se quiser passar. É o fim do mundo, estou te dizendo! Eu não sou o tipo de garoto que tira dez em matemática!

- Ai, meu Deus, estou ferrado! - Mordo a unha - Preciso de um milagre, Tae!

- Vocês vão ficar aí para sempre? - uma voz nos interrompe.

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