EPÍLOGO

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KATE

Ela olhou para o sentinela que escutava com toda a atenção a menina. Aiden estava cada vez mais ligada a ele, de uma forma que vinha a deixando apreensiva e desconfiada. Ele riu para ela, que pulava ao seu redor falando sem parar sobre a escolinha. Algo dentro de Kate amoleceu ao ver o lobo sorrindo com sua filha. Eram poucas as vezes que o viu sorrindo. Não para ela, nunca para ela. Ele sempre parecia frio e distante em sua presença, mas com Aiden, ele parecia genuinamente feliz. Se não soubesse melhor, diria que eram do mesmo sangue. Recuou quando o pensamento a fez reviver uma memória ruim.

Vivia de memórias ruins agora. Tentando descobrir uma nova forma de viver, onde não tinha que ficar 24/7 em alerta. A verdade é que havia se acostumado com o terror e a dor. Principalmente com a dor. Apertou as unhas, fechando suas mãos em punhos, sentindo uma pontada afiada e o cheiro de sangue subir em seu nariz. Então, abriu as mãos e as olhou, notando as marcas das unhas profundas em sua pele já cicatrizando. Abaixou a cabeça envergonhada com suas ações e pensamentos. Como podia ajudar a sua filha a florescer se ela estava secando de dentro para fora? Como podia ser uma boa mãe se, se sentia perdida e machucada? Como iria contribuir para algo nesse clã se não podia ficar longe do dormitório sem sentir um ataque de pânico? Estava quebrada, destruída, não havia volta para ela. Talvez fosse melhor desistir agora. Agora, que sabia que Aiden teria pessoas que poderiam cuidar dela. 

Voltou sua atenção para o macho em questão e levou a mão ao pescoço quando seu olhar colidiu com o dele. Ele não sorria, e parecia quase irritado com ela. O que havia feito para ele a odiar? Ele também a considerava uma péssima mãe? Ele a queria fora do clã? Desde que o viu, naquele fatídico dia em que o clã de Beur caiu, sentia que ele estava em todo canto mas ao mesmo tempo, a evitando. Quem era ele? Por que ele sempre estava por perto? Por que ele era tão bom para Aiden?

–Ele está de volta.--a voz de Geeny a fez saltar e seu olhar se afastou do macho.

–Sim.--ela respondeu, franzindo o cenho. Geeny sentou ao seu lado no banco da janela.

–Aiden está apegada ao sentinela.--ela comentou, olhando de sua filha para Stone. Ele que estava empurrando-a no balanço. Um nó se formou na garganta de Kate.--Isso é incomum.

–Ela sente falta de Luca.--Kate argumentou, mesmo que soasse fraco em seus ouvidos.--Ele tem estado longe. É isso, apenas isso.

–Kate.--Geeny negou.--Você sabe que não é isso. Aiden se comporta como se Stone fosse...

–Não.--a interrompeu, se levantando.--Ela tem a mim. Ela é minha e apenas minha.--saiu de forma rude, o mal estar trazendo náuseas enquanto saía porta afora em direção aos dois.--Aiden.--a chamou. A menina gritou ao ver a mãe e correu em sua direção, alegre.--Vá para dentro, por favor. Preciso conversar com o sentinela.

–Mamãe?--ela fez um biquinho, mas Kate não cedeu. A menina então correu para dentro, sendo recebida por uma Genny preocupada. Kate se voltou para o sentinela que a fitava, esperando.

–Algum problema?--ele perguntou, colocando as mãos para trás, em uma posição formal.

–Acho melhor que não veja mais Aiden.--ela disse.--Não quero que ela pense que pode contar com sua presença sempre, para que isso mude sem aviso, e ela se magoe. Ela precisa de estabilidade.

–Não faria isso com a menina.

–Você não tem como saber ou prometer isso.--ela cruzou os braços.--Ela está esperando você todos os dias e quando não vem, ela foge para lhe achar.

–Eu posso conversar com ela sobre me seguir e ela está segura em nossas terras.

–Ela nunca vai estar segura.--Kate gritou e pôs a mão na boca surpresa com sua explosão. Stone a encarou surpreso e se aproximou dela.

–Você está projetando seus medos nela.

–O que?

–É isso que está fazendo, Ruiva.

–Não me chame assim!

–Por que não me diz do que isso realmente se trata?--ele a pressionou, com voz fria e calculada. Kate engoliu em seco, balançando a cabeça.

–Isso foi um erro. Tudo isso. Esse lugar... é tudo uma ilusão.

–Pare com isso, ruiva.--ele rosnou, percebendo que ela estava se perdendo em sua cabeça.--Fale comigo, do que isso realmente se trata?

–Você não entende...–ela se abraçou, lágrimas ameaçando transbordar de seus olhos.

–Tente.--ele pediu.--Posso te surpreender.---Stone a viu prestes a negar e continuou a falar para tranquiliza-la.--Foxy está explorando outras cidades ao redor de Mayce, iremos encontrar Norm. E mesmo que ele consiga entrar em nossas terras, ele não irá longe, temos tudo cercado. Você está segura e Aiden também.

–Não é verdade.--ela o surpreendeu quando agarrou sua camisa. O lobo em sua mente rosnou, com o cheiro dela tão próximo a ele.

–Me conte qual o seu medo. Seja o que for, posso arrancá-lo de sua mente.--ele exclamou.

–E do meu corpo, você pode?--ela contrapôs.--Você pode apagar minhas memórias? A dor que passei? Você acha que tem todo o controle, vivendo com essa expressão fria e distante no rosto. Mas isso está além do que você pode controlar.

–Ruiva..

–Por favor, fique longe. Por favor.

–Aiden não precisa mais só ter você.--ele disse, e ela recuou como se tivesse levado um tapa.--Aiden está sendo um filhote, livre e feliz. Como deve ser.

Stone a segurou pelo braço, para a impedir de fugir. Estava farto, cansado.

–Você também é livre.

–Eu não sou.--ela quebrou, caindo no chão de joelhos, soluçando. Ele se ajoelhou na sua frente, a segurando.--Estou presa.

–Ruiva...

–Eu a perdi.--ela disse, entre soluços. Stone ergueu seu rosto para poder a olhar. O vazio que encontrou em seus olhos quase o fez cair para trás.--Você vê agora? Ela se foi, minha loba, se foi.

Kate desabou em seus braços, chorando desolada e destruída. Stone a segurava atônico, horror invadindo cada um dos seus poros. Seu lobo chorou, confuso, e empurrou em sua mente, sem entender a perda que estava sentindo.

Enfim, tudo fez sentido.



A HISTÓRIA DE STONE E KATE CONTINUA EM ESCRITO EM PEDRA VERMELHA! (já disponível - 2 capítulos por semana)

O Coração de KorOnde histórias criam vida. Descubra agora