Capítulo DEZ

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KOR

Kor estava sentado na velha cadeira em sua varanda depois de passar a manhã e parte da tarde com Faye. Foram as horas mais intrigantes e assustadoras de seus últimos anos. Quando viu ela tremer por causa do tempo que começou a esfriar sugeriu encerrar o dia. Ela concordou e teve a impressão de que ela não queria ir. Não soube se por causa do lugar ou por causa dele. Isso o deixou frustrado.

Frustração definia bastante como se sentia naquele momento. Ter seu corpo molhado e agarrado ao dele foi pura tortura. Pensou que fosse explodir naquele momento, queria agarrá-la e deita-la na primeira pedra que encontrasse.

Mas não fez nada disso.

Ele podia ser um morto-vivo, mas era o mais controlado entre os irmãos. Havia um entre eles, todavia, que vivia na borda. Era só questão de tempo até que o irmão fosse dominado pelo lado selvagem do lobo. O clã podia não estar preparado quando esse dia chegasse.

Os pelos do seu braço se arrepiaram, ele sabia que uma tempestade de verão estava a caminho. Eram imprevisíveis e violentas.

Galhos e folhas secas sendo esmagadas, sinalizaram a chegada de dois visitantes. Um rosnado de alerta saiu de seu peito e ambos pararam.

–-Kor.--Stone o cumprimentou.

–Quem é esse?

–Luca.--a outra voz falou. Luca era irmão de Kate. Kate, a ruiva que Charlie encontrou em cativeiro quando foi pega por Beur. Ela tentou salvar Charlie quando Beur a atacou e por isso tinha respeito alto de Roan. Ela provavelmente era a fêmea mais bem protegida do clã depois de Charlie e Hanna. Mas a ruiva não estava prosperando no clã até onde sabia. Algo nela não encaixava e isso vinha incomodando Kor. Claro, não estava incomodando tanto ele quanto estava incomodando Stone.

–O que fazem aqui?--ele quis saber, irritado.

–Norm voltou a aparecer.--Stone disse.--Um vigia pegou o cheiro nas fronteiras, pensamos que você iria reportar, mas não foi o caso.

Kor endureceu.

–Quando?

–Hoje.

–Eu não estava em casa.--falou, sentindo desconforto por deixar isso passar. Se Norm voltou a rondar as terras do clã e se atreveu a chegar perto de seu território, havia algo mais nessa história que eles não sabiam.--Por que ele continua voltando?

Os dois lobos se entreolharam.

–Achamos que ele quer minha irmã.--Luca disse entredentes. Kor ficou intrigado.

–Ela sabe?

–Não.--Stone negou, cruzando os braços atrás das costas.--Estamos discutindo a maneira de dizê-la.

–Minha irmã está lidando com muita coisa no momento. Não quero piorar seu progresso.

–O que vejo são dois homens tentando decidir se devem ou não contar algo que diz respeito a uma mulher. Deixe-a decidir o que aguenta ou não.--Kor olhou para Stone.--Nós dois sabemos que nada de bom vem de adiar certas conversas.

Stone endureceu, lançando um olhar ameaçador em sua direção. Kor não piscou. Eles erraram e sabiam disso. Repetir os mesmos erros seria estupidez.

–Vou ficar de olho e correr por aí.--Kor continuou, encerrando o assunto.--Saiam.

–Luca vá na frente.--Stone disse.

Luca tinha a posição de vigia em seu antigo clã e quando veio para Mayce, Stone o trouxe para debaixo de sua asa. O vigia havia se adaptado rapidamente ao clã Licant. Stone se aproximou da cabana contra os rosnados de advertência de Kor.

--Você cheira a sua vizinha. Charlie sabe que anda farejando a garota?

–Não vejo como isso seja da sua conta.--Kor disse.--Por que não presta mais atenção a sua companheira e por que ela não te reconhece.

–Cuidado.

–Sim, cuidado.--Kor concordou levantando. Ele e Stone tinham a mesma altura. Mas enquanto Stone era mais magro, Kor era só músculos. Isso poderia soar uma desvantagem se não fosse o lado selvagem de Stone a flor da pele. Numa luta, eles eram igualmente letais.

–O lobo está confuso.--Stone confessou.--Kate é... uma bagunça.

–Ela sobreviveu a Beur. Claro que ela é uma bagunça. Mas isso importa? Ela é sua e com o tempo irá lhe reconhecer. As coisas vão se resolver.

–Faye sabe que você está interessado nela?--Stone mudou a conversa. Kor o fitou em silêncio.--Roan conquistou Charlie apelando para o lado dos costumes humanos, talvez deva fazer o mesmo com sua Faye.

–Talvez deva ir embora.--ele sugeriu cansado da conversa.

–Kor...

–Vá embora, se Norm voltar irei entregar a cabeça dele para Roan.

–Deus.

Kor mudou a forma assim que Stone foi embora. Não se preocupou com o tempo prestes a mudar, ou mesmo com a escuridão. Ele facilmente se mesclava as sombras mesmo em sua pelagem clara. Norm ter entrado em seu território era um insulto e uma provocação. Sabia que o sentinela estava testando os pontos fracos do clã. Kor não podia deixar que ele pensasse que havia um.

Iria reforçar o domínio em suas terras e alertar os outros vigias e sentinelas pelo caminho. Era hora de extinguir qualquer ideia de força que os sentinelas de Beur achavam que ainda possuíam.

O Coração de KorOnde histórias criam vida. Descubra agora