FAYE
Não dormi naquela noite, medo paralisante me impedindo de fechar os olhos e qualquer ruído me fazendo saltar na pele. Quando o primeiro raio de sol iluminou meu quarto, meus ouvidos estavam sensíveis e meus olhos queimavam, secos. Comecei a ouvir o movimento na casa e não me atrevi a levantar até a porta da rua abrir e fechar duas vezes, indicando a saída tanto de Cane quanto da minha mãe. Levantei, sentindo meu corpo reclamar, ignorando a rigidez do meu corpo tenso. Eu não tinha um plano definido, mas eu sabia que não podia ficar mais nessa casa. Estava sozinha, e pela primeira vez na vida, teria que me escolher e deixar minha mãe para trás. Peguei minha velha mochila sob a cama e comecei a colocar o essencial nela, corri para o meu banheiro e peguei o pouco dinheiro que tinha escondido na caixa de remédios. Era o suficiente para uma passagem de ônibus. E talvez isso fosse tudo que eu precisasse, conclui, quando uma pessoa surgiu em minha mente. Uma oferta feita há não muito tempo atrás. Me apressei, vestindo minha calça jeans e quando me inclinei para pegar a blusa, minha porta se abriu bruscamente.
–Eu sabia que faria algo estúpido.--Roy exclamou, satisfeito. Arfei, me escondendo com o tecido da blusa. Os olhos dele passearam pelo meu peito à mostra e depois para minha mochila na cama. Ele fechou a porta em suas costas.--Aonde pensa que vai?
–Eu vou embora.--falei.--E você vai sair do meu quarto.
–Você tem uma boca grande, devo dizer, um pouco rebelde para meu gosto, mas sempre gostei das mais difíceis.--ele disse.
–Saia daqui Roy! Eu já disse que não irei me casar com você e estou saindo dessa casa.--exclamei. Seu rosto ficou vermelho e no minuto seguinte ele estava na minha frente, apertando meu rosto com uma mão, esmagando minhas maçãs do rosto. Gemi com a dor, surpresa e comecei a lutar com ele, tentando me desvencilhar.
–Você é minha.--ele gritou, me jogando contra a cômoda, derrubando o que estava em cima. Ouvi meu abajur caindo e vidro se quebrando.--Vocês putas acham que podem sorrir e o mundo está aos seus pés.--seu pé atingiu meu estômago e gritei, ar fugindo dos meus pulmões.--Você é uma vaca ingrata. Meu irmão foi paciente demais com você.
–Pare!
Ele me levantou pelos cabelos e sorriu ao ver minhas lágrimas.
–Você irá aprender a ser obediente.--ele me soltou e caí deitada, aos prantos. Seu pé tornou a me atingir, uma, duas, três vezes. Pontos pretos surgiram em minha visão. Eu iria perecer ali, iria ficar presa.--É bom que tenha feito uma mochila, porque você virá comigo hoje. Vai aprender a me esperar em casa, na nossa casa, de joelhos e sorrindo.
O teto girava e eu sentia meu corpo pronto para desmaiar. Minha força, minha coragem saindo pela janela, como meu futuro.
Todos os meus sonhos estavam morrendo conforme ele dizia aquelas palavras. Eu não podia aceitar isso, não iria! Algo brilhou para mim e minha mão tocou o pedaço afiado, senti uma dor afiada contra minha palma, mas ignorei. Sua sombra veio sobre mim e gritei, me lançando contra ele. Ele me olhou em choque e algo quente começou a cair em mim. Gritei em horror quando vi que o pedaço de vidro estava enfiado em seu pescoço. Ele caiu ao meu lado e recuei, me cortando nos cacos de vidro no tapete.
Oh Meu Deus.
O que eu fiz?
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Decidi que não poderia mais esperar ele vir até mim. Kor estava lutando, e eu precisava lutar por ele e por nós. Coloquei um casaco por cima da roupa de dormir que usava e saí pela porta sem me preocupar com o tempo. Charlie de fato tinha razão, uma tempestade chegou em Mayce, ou devo dizer Roan. Ou seu lobo. Continuei andando, mesmo que a forte chuva e os trovões tornassem o caminho difícil e assustador. Mas naquele momento, nada poderia me deter.
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O Coração de Kor
Manusia SerigalaUm vive preso na dor do passado. Kor viveu dia após dia esperando vingar a morte de seus pais e irmã, quando enfim conseguiu, o vazio que ficou quase o fez se entregar ao seu lado animal para sempre. Mas o destino tinha outros planos para ele. Uma...