Capítulo UM

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KOR

O que Kor mais gostava era correr. Não com suas duas pernas, odiava sua forma humana. Ela de nada lhe era útil. Não sabia ser humano. Parte dele se ressentia por seus irmãos serem tão confortáveis com sua forma humana. Ela foi exatamente o que quase lhes custou a vida. Kor se recusava a ceder, a se transformar se não fosse algo absolutamente necessário. Eram raras as ocasiões nos últimos dez anos que usou a forma humana, a última vez aconteceu há um mês atrás quando finalmente matou Beur, o alpha do clã que ordenou o massacre de sua matilha, sua família, sua irmã. 

A única forma que se sentia seguro era no seu verdadeiro eu. Enquanto corria pela floresta, seus sentidos muitas vezes o sobrecarregam, o deixando extasiado com tantas informações. Mas gostava de se exceder e testar seus limites. Amava ser livre. Nunca seria preso novamente. Nunca mais mostraria fraqueza. Chegou até o riacho e bebeu água direto da corrente. Era de fato um animal. Seus pelos se arrepiaram prevendo que uma tempestade estava a caminho. O cheiro que a chuva trazia de terra molhada era acolhedor. Mas naquela tarde algo mais flutuava no ar, um cheiro doce e novo. Seu nariz aguçado e seu instinto logo assumiu o controle. Suas patas pareciam voar contra o terreno irregular.

Conforme se aproximava da origem do cheiro, percebeu que estava próximo a sua casa e da antiga cabana que ficava em suas terras. Mas sabia que ninguém morava ali há muito tempo. Mal conteve o rosnado ao ver um carro passando pela estrada e entrando numa trilha estreita. Sabia onde essa trilha levava. A velha cabana de sua irmã. Lembrou vagamente de Roan pedindo a cabana emprestada, ele preferiu não ouvir o por que ou para quem. Não queria pensar nas lembranças que aquele local lhe despertava.

Finalmente o carro parou, ficou escondido entre as árvores esperando sua presa sair do carro. Não gostava de não saber o que esperar, mas tinha certeza que o que quer que saísse daquele carro, seja amigo ou não, ele estaria pronto.

A porta abriu, e um pé delicado apareceu, seguido de uma longa perna pálida descoberta. Então quando alguém pequeno e magro saiu do carro por completo, todo seu corpo foi atingido por um choque e ele chiou surpreso. Era como se todo seu sangue estivesse pegando fogo. Seus pêlos estavam arrepiados e suas presas apareceram. Tentou firmar suas patas, e olhou novamente na direção da criatura. Ela era pequena, menor até que Charlie. Era magra, e tinha um rosto fino e jovem. Muito jovem. Ela parecia um anjo com seus cabelos loiros claros, e boca rosada. Vestia um vestido leve demais para o clima de Mayce. O vento balançava seus cabelos e a barra de seu vestido. Trazendo seu cheiro diretamente em sua direção.

Ela olhou em volta, mas ele sabia que não podia vê-lo. Ficou fascinado quando ela ergueu os olhos para o céu e sorriu. Sentiu vontade de fazer parte daquela cena, de estar ao seu lado, e abraçá-la. De ser o motivo daquele sorriso. De vê-la inclinar o pescoço para ele em confiança e mordê-la, marcando seu cheiro nela.

Ela se voltou para o carro, colocando uma mochila nas costas e pegou uma mala aparentemente pesada do fundo. Notou que o carro era de Stone, e que estava cheio do que parecia uma mudança. Era absurdo, pensou, não ter ninguém para ajudá-la nessa simples tarefa.

Era absurdo ela estar ali.

A viu arrastando a mala até a cabana e se virou, fugindo dali o mais rápido possível.

O Coração de KorOnde histórias criam vida. Descubra agora