KOR
Não podia acreditar!
Como pode deixar algo assim passar?!
Em um minuto, tinha um anjo em seus braços e no próximo estava voando pelo ar e pousando no chão. Começou a correr na direção do invasor, rasgando sua camisa com as mãos e forçando sua transformação em tempo recorde. Suas quatro patas aterrissaram no chão levantando terra e uivou chamando os vigias que sabia estarem há alguns quilômetros de distância. Três uivos lhe responderam e o lobo rosnou satisfeito.
Era hora da caça.
Os quatro seguiram o cheiro do invasor por mais de cinco quilômetros até que Norm se jogou no rio que dividia as terras com o estado vizinho. Leo tentou segui-lo, mas Kor se jogou contra ele, o impedindo. Os lobos rosnaram um para o outro ainda envolvidos na adrenalina da caça.
–-Puta que pariu!--Luca gritou, frustrado. Kor estava encostado contra uma árvore, com semblante fechado alguns minutos depois, quando voltaram para dentro de seu território.--Ele escapou, de novo!
–O filho da mãe é escorregadio.--Vaugh concordou, chutando uma pedra na sua frente.
–Ele está brincando conosco.--Luca andava de um lado para o outro. Leo levantou a cabeça, ainda em sua pele de lobo, deitado no chão, olhando para seus irmãos.
–Kate já sabe?--Kor perguntou a Luca.
–Stone está na cidade, estou esperando voltar para contarmos.
–Talvez não tenha esse tempo.--pensou, coçando o queixo.--Precisamos saber se ela sabe o que o faz voltar. Se é sobre ela ou sobre a pequena.
–Seja o que for, ele não tem direito.--Luca pisou duro, inquieto.--Prefiro morrer antes de Norm chegar perto da minha irmã. Eu falhei com ela uma vez, não vou falhar de novo.
Kor entendeu o desespero do jovem lobo. Ele podia se ver em Luca. Podia entender o sentimento de falha.
–Isso não vai acontecer. Kate tem todo o clã a protegendo. E você tem a todos nós para lhe ajudar.--garantiu. Luca parou e o fitou, tremendo.
–Você o deixou entrar essa noite, quem me garante que não irá cometer esse erro novamente?
Os vigias rosnaram para Luca, protegendo o sentinela que respondiam. Kor escondeu como aquelas palavras o afetaram, resolvendo ignorar o lobo insubordinado.
–Você pode ser novo em nosso clã, mas é do clã enquanto desejar. Se não está satisfeito e acha que pode proteger sua irmã e sobrinha sozinho, vá em frente.--falou, se aproximando de Luca. O macho cerrou os dentes, permanecendo parado, seu sangue reconhecendo que estava diante de um macho mais forte que ele.--Mas se escolher ficar, então deve aprender sobre respeito. Sei que Beur governava usando o medo e a dor contra vocês. Não somos assim, prezamos pela lealdade e respeito. Se vocês nos respeitam, respeitamos vocês.--ele olhou para seus vigias e voltou a encarar Luca.--É uma via de mão dupla. Se você sangra por nós, nós sangramos por você.--continuou, fazendo Luca baixar a cabeça.--Stone e Roan viram algo em você, um lobo forte e com um futuro promissor. Eles estão errados? O cheiro que sinto é de um lobo inteligente ou de um lobo estúpido?
–Eu...
–Não punimos nossos vigias, pelo menos, não como está acostumado.--Kor o cortou.--Você vai voltar para a comunidade e responder a Hanna.
–Hanna?--Luca ficou confuso. Sabia que Hanna era a irmã de Roan e líder das mulheres. Mas o que ela tinha a ver com os vigias?
Vaugh riu, o fazendo se retesar.
–Vai descobrir que todos importam aqui, mas as mulheres, são a base do clã. São ferozes e protetoras.--Kor falou, com um olhar satisfeito no rosto.--Elas sabem exatamente como colocar certos lobos no lugar. Acredite, é infalível.
Luca engoliu em seco, de repente incerto. Mas preferiu ficar calado, sabendo que havia ultrapassado os limites. Ofendeu um sentinela, e se fosse no clã de Beur, teria acabado morto. Se viu quase aliviado e surpreso quando não foi o caso. Pedindo licença, deu meia volta e partiu em direção a comunidade.
–Idiota.--Vaugh cuspiu. Kor o cortou com um olhar.
–Vão para casa, Norm não vai voltar essa noite.--disse.--Eu vou permanecer aqui até amanhecer.
–Quer companhia?
–Não, eu... deixei minha companheira na casa da árvore.--disse. Os dois vigias assentiram e partiram para casa.
Kor subiu pela corda, com receio do que ia encontrar, mas para seu alívio, uma Faye apagada sobre a manta o esperava. Ele notou que ela havia guardado a comida e deve ter adormecido o esperando. Havia ficado fora por muito tempo. Havia estragado o encontro deles. Ele havia sumido depois do beijo que compartilharam. Aquele beijo iria ser protagonista de todos os seus sonhos a partir daquela noite. Quem sabe seriam poderosos o suficiente para afastar os pesadelos vermelhos que o assombravam à noite? Sentou no lado oposto ao dela, para ficar de olho na floresta ao redor e na sua companheira. Seria uma longa noite, mas pelo menos não estava sozinho.
Somente por aquelas horas, iria fingir que tiveram uma noite perfeita, que depois do beijo, voltaram para a manta e terminaram a refeição que Hanna e Charlie prepararam. Que se abraçaram, em silêncio, e observaram as luzes da cidade noite adentro até que os olhos ficassem pesados e sonolentos e por fim adormeceram, seguros, um nos braços do outro.
Mas o vento gelado em seu rosto, o acordou do devaneio e o obrigou a encarar a realidade. E a realidade era que errou. Baixou a guarda, e isso poderia ter custado a vida dela. Norm penetrou o território do clã bem debaixo de seu nariz, passando pelos vigias. Ele poderia ter sentido o cheiro de Faye, podia usá-la contra o clã, como moeda de troca. Ou apenas a machucado por puro prazer de destruir um ser inocente. A amava, a amava tanto que sabia que não poderia arriscar sua vida. Não enquanto houvesse ameaças pairando contra o clã.
Esse teria que ser o primeiro e último encontro dos dois.
Iria se afastar, permitir que se fosse. E se o criador fosse justo, conseguiria recuperá-la.
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O Coração de Kor
LobisomemUm vive preso na dor do passado. Kor viveu dia após dia esperando vingar a morte de seus pais e irmã, quando enfim conseguiu, o vazio que ficou quase o fez se entregar ao seu lado animal para sempre. Mas o destino tinha outros planos para ele. Uma...