Capítulo DEZENOVE

665 72 2
                                    

FAYE

O jantar sempre havia sido desconfortável, mas hoje estava particularmente com uma atmosfera diferente. Tentei ignorar a nova contusão no braço da minha mãe, forçando o pedaço de carne pela minha garganta. Cane nos fitava por sob os cílios, com a mesma expressão de sempre, crítica e irritada. Qualquer coisa poderia fazê-lo surtar. Então, mantivemos a cabeça baixa e sem fazer qualquer barulho. Mas ao que parece, naquela noite, não era o suficiente.

Cane deixou os talheres caírem de repente, nos fazendo sobressaltar. Mamãe continuou comendo, e eu engoli em seco, ao sentir sua atenção focada em mim.

–Você irá pedir demissão do restaurante.--ele disse. Fiquei confusa, e por fim, balancei a cabeça.

–Por que?

–Eu falei para sua mãe desde o início que esse trabalho era uma má ideia.--ele falou, apontando a faca para mim.

–Você conheceu as pessoas que trabalham lá.--apelei, olhando dele para minha mãe.

–Você saiu para um turno à noite quando especificamente disse que não podia. Esse trabalho, essas pessoas, estão te dando ideias.

–Ideias?! Deus me perdoe por ter ideias.--exclamei. Vi seu rosto ficar vermelho e recuei, sabendo que tinha ido longe.--Eu preciso do dinheiro, estou guardando para a faculdade.

–Esse dinheiro será usado para outros fins.--ele discordou.--Você vive sob meu teto, não paga nada, come da minha comida, está na hora de eu receber algo em troca.--Cane riu para si.--Mas como você é filha da minha mulher, não pense que não cuido de você, e é exatamente isso que estou fazendo.

–Tirando meu emprego? Pegando meu dinheiro?

–Meu irmão virá para a cidade no próximo final de semana.--ele anunciou, levantando e indo até a gaveta da cozinha, retirando alguns papéis e os passando para mim. Encarei as letras que começaram a se embaralhar sob meus olhos.

–Não entendo.

–É a licença para seu casamento com Roy.--ele explicou.

–Casamento?

–Você irá casar com meu irmão.--continuou falando, enquanto um ruído começou a soar em meus ouvidos.--Vai descobrir que ele é exatamente o que você precisa.

Calafrios subiram pelo meu braço e um soluço escapou dos meus lábios.

–Eu não quero me casar. Eu não irei.

–Você não tem dinheiro ou para onde ir.--Cane disse, alisando meu cabelo.--Você fará o que eu mandar.

........................................................................................................................

–Faye, você me ouviu?--Dianna estava parada na minha frente, com um olhar confuso. Pisquei, olhando ao redor. O barulho de pratos e conversas animadas da manhã voltando a se infiltrar em meus ouvidos.

–Desculpe, estava distraída.--murmurei.--Precisa de algo?

–Você está bem, querida?

–Não tenho dormido bem.--confessei.

–Posso ver em seu rosto. Por que não vai para casa mais cedo? Posso dar conta do que falta.

–Não, eu quero ajudar.--disse.

–Você estava olhando para o nada por vinte minutos.--ela franziu.--Você precisa descansar.--ela insistiu, me empurrando para fora. 

Quando parei em frente a minha cabana, fiquei surpresa ao ver Charlie na varanda, me esperando. Desci, e corri até ela, parando bruscamente ao ver um lobo preto deitado aos seus pés.

O Coração de KorOnde histórias criam vida. Descubra agora