FAYE
Quando abri os olhos, a luz do sol me cumprimentou, e tudo que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas me fez arquejar e sentar na cama. Só que eu não estava na minha cama, nem no meu quarto. Olhei em volta para o cômodo espaçoso e limpo, com uma cadeira de madeira feita a mão e minhas roupas dobradas da noite anterior em cima. Olhei para mim mesma, avaliando a camisa xadrez velha, grande e confortável que eu usava. A cama era maior, bem maior, comparada à minha. Tudo parecia maior agora. Minhas mãos tocaram o lençol de lã que me cobria, buscando conforto e me acalmando aos poucos.
Depois de tomar a sopa, Kor me ofereceu uma muda de roupa e sugeriu que fossemos dormir. Não discuti com ele, estava muito cansada e apaguei imediatamente. Agora, á luz do dia, sentia que ainda tínhamos muito o que conversar, mas ao mesmo tempo, queria ficar naquela cabana escondida com ele para sempre.
–Você acordou.--sua voz me tirou dos pensamentos. Ele já estava arrumado para o dia. Como sempre, não me passou despercebido o quão bem ele ficava em um jeans e camisa simples. Era quase injusto ser tão atraente. Sorri, eu não precisaria mais esconder esses pensamentos para mim. Afinal, Kor era meu.
–Somos companheiros.--falei. Ele piscou com minha exclamação e se aproximou, sentando ao meu lado.
–Você ainda parece estar lidando muito bem com tudo.
–Deveria estar correndo?
–Acho que sim. Você acabou de descobrir que existem homens lobos e que é companheira de um.
–Não tive a melhor experiência com humanos ao crescer.--dei de ombros.--Todos aqui são tão unidos e gentis, o fato de serem mais que humanos, não é algo que me assusta. Quem vocês são aqui, é o que importa.--falei, tocando seu coração. Kor sorriu e pegou minha mão, a cheirando e beijando. Suspirei.--Como é meu cheiro para você?--perguntei. Ele mordiscou meu pulso e sorriu, me olhando.
–Comestível.
–Hum.--corei.--Eu sou virgem.--disparei, arregalando os olhos.
–Como eu disse, temos tempo.
–Mas eu não quero esperar.--confessei. Senti meu coração acelerar e um tremor passando por meu corpo. Kor rosnou, suas narinas dilatadas.
–Eu estou tentando ser forte, Faye.--ele balançou a cabeça, com humor.
--Aprecio isso.--falei, me inclinando em sua direção e tocando meus lábios nos seus. Kor agarrou meu cabelo e aprofundou o beijo, me fazendo gemer. Senti seu corpo cobrir o meu e minhas pernas envolveram sua cintura. Tempo? Esperar? Do que ele estava falando? Seria impossível. Se beijá-lo já me tirava o fôlego, como seria dormir com ele?
–Você tem que trabalhar em vinte minutos e eu tenho dois vigias me esperando na varanda.--Kor disse contra minha boca, a mordendo e me fazendo dar um grito. Ele se afastou e me ajudou a levantar.
–Tem dois lobos na varanda?!--exclamei.
–Sim.
–Posso vê-los?
–Claro. Se vista e estaremos lá fora.--ele concordou.--Vou te levar em casa.
–Ok.
–Vou me reunir com Roan e Stone mais tarde, mas quero vê-la de novo essa noite.
–Eu vou estar aqui.
–Eu vou até você. Não quero que ande na floresta tão tarde.
–Tudo bem.
–Temos que conversar sobre Cane e sua segurança.
–Entendo.--engoli em seco.
–Vai ficar tudo bem.--ele afirmou e eu assenti.
Sim, ficaria tudo bem. Sorri, começando a me vestir e aguardando ansiosamente a noite se aproximar.
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–Seu sorriso está me dando náuseas.--Hanna me disse, quando subiu no carro comigo, após encerrarmos o dia no restaurante. Mordi o lábio, ocultando o humor.
–Kor sabe que você tramou tudo.--falei. Ela me olhou surpresa e por fim revirou os olhos.
–Bem, se os homens desse clã não fossem tão presos em suas próprias mentes eu não precisaria me intrometer.
–Então é verdade. Você realmente não deixou "escapulir".
–Claro que não.--ela bufou, olhando para a janela.--Por que não estamos andando?
–Ele não vem?--perguntei, olhando para Luca que estava na porta do restaurante, encarando Hanna. Ela fez uma careta.
–Não. Ele vai correr.--ela disse, cruzando os braços. Vi Luca franzir o cenho para ela e balançar a cabeça.
–Ele me disse que está respondendo a você.
–Não vejo a hora de Stone o aceitar de volta.--ela disparou.--Ele é um garoto brincando de ser sentinela.
–Uau. De onde veio tudo isso?--perguntei confusa com seu tom magoado.
–Podemos ir? Estou com dor de cabeça.
–Claro, quer que eu te deixe em casa?
–Não, posso ir andando da sua cabana.
–Tem certeza?
–Sim, vai ser bom um ar fresco, talvez eu vá na cachoeira.--ela disse.--Bem, então me conta, vocês se resolveram?
–Sim, nós conversamos e acho que ficaremos bem.
–Finalmente.--ela sorriu.--Vocês são fofos juntos, e Kor merece toda felicidade.
–Obrigada, Hanna. Obrigada por nos ajudar.
–Eu só quero que todos eles sejam felizes, sabe?--ela disse, com uma expressão melancólica.
–Mas e quanto a você?--quis saber, sondando. Ela me olhou, dor em seu olhar.
–Não parece que vai acontecer tão cedo ou nessa vida.
–Hanna...
–Eu sou forte.--ela disse.--Minha loba não vai aceitar nada menos que isso. E aparentemente eu tenho um péssimo gosto para homens.
–Stone?
–O que?--ela enrolou o cabelo no dedo, corando.--Não. Isso é passado. Ele seguiu em frente. Estou me referindo a burrada que fiz.
–O que você fez?
–Eu misturei as coisas e acabei me envolvendo com alguém que não é inteiramente do clã. Cuja lealdade ainda está indefinida.
–E isso é ruim.
–Isso quer dizer que ele pode sair. E eu simplesmente não posso deixar meu irmão ou Charlie, ou Kor.--ela disse.--Ele sabe disso, eu sei disso, e mesmo assim, ultrapassamos a linha.
–Você gosta dele?
–Ele é bom de cama.--ela deu de ombros irritada consigo mesma.--Ok, ele abalou meu mundo. Mas não posso passar por isso de novo. Não quero me apaixonar por alguém que pode desaparecer no dia seguinte ou que possa encontrar uma companheira ao virar a rua.
–E o que ele sente?
–Ele disse que não vai a lugar nenhum. Mas eu não confio nele, a loba não confia.
–Sinto muito Hanna.--falei, parando em frente a minha casa.--Mas por que não conversam de novo?
–Não há muito mais a dizer.--ela disse, abrindo a porta. Sai do carro e parei ao seu lado.--No final do dia, não é pra ser.
–Han...–um barulho alto cortou minhas palavras e minha mente demorou a processar quando Hanna tropeçou para trás e caiu no chão. Me ajoelhei na sua frente e vi a mancha escura se espalhando em seu abdômen.--Hanna!--gritei, tentando pressionar o ferimento. Ela me olhou de olhos arregalados, surpresa e medo em seu rosto. Um clique contra minha têmpora me fez congelar.
–Eu te avisei.--a voz maliciosa e familiar falou.--Eu disse que iria te encontrar
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O Coração de Kor
WerewolfUm vive preso na dor do passado. Kor viveu dia após dia esperando vingar a morte de seus pais e irmã, quando enfim conseguiu, o vazio que ficou quase o fez se entregar ao seu lado animal para sempre. Mas o destino tinha outros planos para ele. Uma...