A luz natural vinda do início da tarde da última sexta-feira da vida não universitária de Mahina entrava pelas grandes janelas de seu quarto, cômodo cujo “chiqueiro” seria um elogio ao defini-lo. Sua mala aberta mais as peças de roupas esquecidas na hora de arrumá-la ocupavam boa parte da cama, o restante do móvel era coberto por utensílios de banheiro que provavelmente não seriam tão usados como a loira imaginava. Quero dizer, qual é? Você levaria cinco tipos de hidratantes para seu dormitório da faculdade?
Sua poltrona, que antes era lugar de refúgio para sua cadelinha Estopinha, apoiava seu computador e a biblioteca particular que Hina comprara umas semanas atrás, quando a ficha de que de fato iria cursar enfermagem numa das melhores faculdades do Japão, assim como sua mãe, caiu. A euforia e o desejo de finalmente ouvir as palavras “estou orgulhosa de você, filha” da mais velha foram tanto que a lista de materiais necessários para o curso foi riscada até o último semestre.
A recém-universitária estava sentada no chão de seu quarto, separando os CDs que ficariam como moradia para as aranhas de seu novo armário quando viu a cabeleira loura-acobreada de seu pai na porta.— Estou entrando. – o mais velho anunciou sua chegada ao cômodo com os olhos fechados e as mãos os cobrindo.
— Pode abrir eles, pai. – Hina se levantou cambaleando, rindo da entrada exagerada do pai.
O mais velho sorriu e seus olhos encheram-se d'água quando pararam nas bagagens desnecessárias da filha.
— Você realmente vai sair de casa. – sua voz chorosa fez a mais nova franzir a testa e se aproximar.
— Pai... sabe que se o senhor chorar, eu choro.
— Desculpe, mas... você é minha menininha.
Hina sorriu e abraçou o mais alto, sentindo seu coração apertar mas ao mesmo tempo acelerar de ansiedade para conhecer o mundo sem a superproteção de seu pai e a visão rígida de sua mãe. Ela estava contente, apesar de que sabia que veria seus primos mais novos com uma frequência absurdamente menor, o que também a fazia sentir uma pontada no peito.
O abraço não durou muito, apenas o suficiente para que o pai se desmanchasse em lágrimas, consequentemente levando sua filha consigo, e se sentisse seu maior protetor nesses últimos cinco minutos onde sua pequena estava em seus braços e não nos braços de um veterano canalha que com certeza a machucaria – claro, essa última parte não passou de seus pensamentos.
— Se divirta, não esqueça de nós e sempre se lembre que eu te amo nesse e em todos os outros universos. – ele disse, moldurando o rosto da filha com ambas as mãos da forma mais delicada, como ele fez quando a segurou em seus braços pela primeira vez no hospital.
A menina sorriu ao ouvir a declaração de seu pai, a qual era usada por ambos entre si desde que ela era muito novinha, já que seu pai a contava sobre teorias da conspiração que iam de alienígenas até multiversos.
— Também te amo nesse e em todos os outros universos. – sorriu pela última vez antes de se desvencilhar do último abraço com o mais velho e foi em direção aos CDs. Os colocou em sua ecobag branca e fechou o zíper que fora costurado por sua avó antes da mesma falecer. — Acho que peguei tudo. – colocou sua bolsa no ombro e se direcionou à porta, sendo seguida pelo homem que carregava as outras malas.
Encontrou sua cadelinha dormindo no sofá e sentou-se ao seu lado, dando um milhão de beijos em sua cabecinha, o que fez o animal balançar o rabinho e retribuir os beijos, em forma de lambidas, obviamente. As risadas se cessaram quando viu sua mãe sair da cozinha com um semblante sério no rosto, segurando uma caixa pequena de vidro com uma flor de lótus dentro.
Ah, a flor de lótus vermelha, seu terror de adolescente, novamente perante seus olhos. Mahina se levantou do sofá e arrumou a postura indo em direção à mãe enquanto passava as mãos na roupa com o intuito de tirar o máximo de pelos caramelos que conseguia.
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𝐄𝐮 𝐧𝐮𝐧𝐜𝐚...
Fanfiction❝𝗨𝗺𝗮 𝗱𝗮𝘀 𝘂́𝗻𝗶𝗰𝗮𝘀 𝗰𝗲𝗿𝘁𝗲𝘇𝗮𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝘁𝗶𝗻𝗵𝗮 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗼 𝗾𝘂𝗲 𝗲𝘀𝘁𝗮𝘃𝗮 𝗮𝗰𝗼𝗻𝘁𝗲𝗰𝗲𝗻𝗱𝗼, 𝗲𝗿𝗮 𝗾𝘂𝗲 𝗻𝗮̃𝗼 𝗵𝗮𝘃𝗶𝗮 𝗶𝗱𝗼 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗮 𝘂𝗻𝗶𝘃𝗲𝗿𝘀𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲 𝗽𝗿𝗲𝘀𝗲𝗻𝗰𝗶𝗮𝗿 𝘂𝗺 𝗰𝗿𝗶𝗺𝗲.❞ Onde Mahina...