Ren nunca acordou tão cedo

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O Sol já raiava no quarto compartilhado designado a Ren, a luz dourada irritante machucaria seus olhos se não fossem seus cílios longos protegendo-os. No dia anterior, chegou à clínica e se enfiou no quarto, não estava afim de fazer um tour, então leu até que pegasse no sono, terminando um livro, não tendo a oportunidade de conhecer seu colega de quarto. Entretanto, iria matá-lo por ter escancarado as cortinas às... oito da manhã.

Quando Ren esticou-se para conferir o horário, viu que seu colega tinha cabelos azuis e estava fazendo flexões às oito horas da manhã. Para a infelicidade de Yamazaki, seu movimento fez barulho no estrado da cama e o outro homem, homem não, garoto, levantou a cabeça.

— Oi — ele arrumou os cabelos para trás e seus olhos azuis refletiram o Sol — Eu sou Luca.

Ren apenas o olhou ainda com os olhos inchados e nem um pouco disposto a proferir uma palavra.

— Te acordei? Foi mal. Sabia que exercícios físicos são bons pra saúde mental? E, se for ficar aqui por um tempo, você vai perder um pouco dela — ele tirou a camiseta suada e foi pegar outra em seu armário — Você tem corpo de quem malha, acertei?

— Não — Ren colocou os dois braços atrás da cabeça e fechou os olhos.

— Então você é abençoado geneticamente, que inveja. Você tá com fome? Fiquei sabendo que você não jantou ontem.

Apenas um dos olhos afiados de Ren fitou o outro, o que deu a entender que continuasse.

— Bom, o refeitório é bem vazio esse horário.

Não precisou de mais argumentos, Ren se levantou e espreguiçou-se, o que fez o outro sorrir. Preferia comer vidro do que ter interações sociais pela manhã, seu humor não melhorara nem um pouco desde o dia anterior.

O Yamazaki seguiu o colega pelo corredor. Ele não parava de falar nenhum minuto, fazendo uma mini tour não solicitada para o outro.

— Aqui é onde eles fazem a gente moldar alguma coisa tipo uma vez por semana — o dono dos cabelos azuis que precisavam de um retoque na raiz apontou para uma sala arejada e iluminada pelas grandes janelas de vidro temperado.

— Moldar?

— É, arte terapia e tal — continuaram a andar — Antes era pintura, mas um paciente tentou se — ele fez um gesto com a mão passando o polegar pelo pescoço — Com uma espátula, então aboliram isso.

Ren levantou as duas sobrancelhas. Céus, esse lugar era pior do que ele pensava.

— Ali fica a biblioteca, ninguém usa muito lá, então ela é meio deserta.

Bingo. O lugar preferido de Ren foi detectado.

— Bom dia, Luca — uma das meninas que trabalhavam na cozinha sorriu.

— Bom dia, esse é meu amigo Ren. A gente divide o quarto.

Amigo?

— Bom dia, Ren — a garota recebeu apenas um grunhido em resposta.

— Acho que esse é o “bom dia” dele, ainda estamos nos conhecendo.

Luca pegou uma bandeja e começou a se servir, Ren o seguiu e os dois se sentaram em uma mesa. Realmente não tinha muitas pessoas acordadas, apenas alguns gatos pingados que mais pareciam morto-vivos.

— A quanto tempo você tá aqui? — Ren observava a fumaça sair do seu copo de café enquanto Luca devorara um lanche natural.

— Ontem recebi minha ficha de cento e vinte dias — os olhos de Ren arregalaram-se e ele limpou a boca — Não é tão ruim quanto parece, aqui é um lugar legal, o que me faz falta é ver minha sobrinha.

𝐄𝐮 𝐧𝐮𝐧𝐜𝐚...Onde histórias criam vida. Descubra agora