Quando mais novo, Luca queria ser uma água-viva. Tudo começou quando seu pai decidiu levá-lo ao aquário junto de sua irmã. Sua irmã era anos mais velho que ele, então achou um saco ter que ir ver animais por uma vidro, mas Luca imergiu na atmosfera do aquário e ficou maravilhado com a quantidade de espécies diferentes que estavam ali.
Quando chegaram no tanque de águas-vivas, Luca parou por instantes a mais, o que fez sua irmã reclamar, mas ela foi silenciada pelo seu pai. O animal era lindo, o mais lindo que o menino já tinha visto. Com seus tentáculos invertebrados e sua cabeça macia, ela flutuava na água azul sem se preocupar para onde estava indo, ou o que estava acontecendo ao seu redor. Ela vivia em seu próprio mundo pacífico, sentindo a água a levar para onde a correnteza quisesse.
Terminaram a tour passando pelo leão-marinho, enguias elétricas e até mesmo pinguins, mas a mente de Luca ainda estava na água-viva que vira mais cedo. Quando chegaram em casa, foi pesquisar sobre o animal na internet, achou um blog dedicado totalmente aos animais e leu vários fóruns. Aprendeu muito sobre os animais. A água-viva não tem cérebro, o que o garoto achou a melhor coisa do mundo, imagine só, não ter cérebro. Os pensamentos dele iriam parar de atormentá-lo, a sensação de invisibilidade não iria mais incomodá-lo e ele não precisaria mais se importar com nada.
Não que os pais dele eram negligentes, mas a irmã dele era sete anos mais velha que ele e ela dizia que ele foi um acidente. Ela não falava por mal, apenas implicância de irmã mais velha, mas ele se sentia assim. A atenção era voltada para ela; quando ela tirou carteira de motorista, quando ela apresentou o primeiro namorado, quando ela decidiu que queria fazer arquitetura e quando ela começou a se inscrever nos vestibulares. Luca também recebia atenção, principalmente de sua mãe, mas a mulher não o entendia muito bem.
O mais novo geralmente ficava quieto como se fosse um telespectador da própria vida, não participava nem das conversas no jantar nem das aulas que tinha na escola. Na escola não tinha muitos amigos, se sentia diferente deles, então ouvia música no fone de ouvido e escrevia poemas que não seriam mostrados a ninguém nem se quisesse, pois ele colava adesivos em cima das palavras para o caso de alguém pegar seu caderno não caçoar dele.
Sua primeira tentativa de suicídio foi aos onze, os pais estavam discutindo por causa de sua irmã, que havia sido pega voltando de madrugada de uma festa que não tinha tido permissão para ir. Não era a primeira vez que isso acontecia, era a primeira vez que seus pais tomaram conhecimento. E Luca estava na sala de estar com sua pelúcia de água-viva que o pai havia comprado para ele. Ele não queria morrer, apenas que tudo fosse diferente. Queria mudar as coisas. E calar seus pensamentos pelo menos uma vez.
Então começou a ir frequentemente a um psiquiatra, recebia mais atenção dos pais e a irmã parou de se meter em tanta confusão — ou escondia melhor. O colégio não havia melhorado, agora que era pré-adolescente, seus colegas de classe só falavam de meninas, reais, imaginárias, artistas, atrizes de filmes adultos e as dos pôsteres que tinham colados nas paredes do quarto. Luca foi questionado por um garoto qual o tipo de menina que ele gostava, e sua resposta foi “eu gosto de água-vivas”. Ele tinha doze anos.
A partir daí, o colégio começou a ser o último lugar que Luca gostava de ir. Não que se importasse com as piadas, sua irmã as fazia também, mas era ruim estar sozinho. Ele era uma criança sociável e extrovertida, mas quanto mais crescia, mais o motivo para falar escorria de sua mente e ele o desconhecia agora.
Um dia estava na arquibancada comendo uvas sem sementes enquanto o time de futebol treinava para a próxima competição. Quando o treino acabou, os garotos suados falavam alto perto da arquibancada e alguns tiraram sua camisas. O peito nu e suado chamou a atenção de Luca, não de um jeito sujo ou desrespeitoso, mas ele corou mesmo assim. O capitão do time o olhou e riu para o amigo.
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𝐄𝐮 𝐧𝐮𝐧𝐜𝐚...
Fanfiction❝𝗨𝗺𝗮 𝗱𝗮𝘀 𝘂́𝗻𝗶𝗰𝗮𝘀 𝗰𝗲𝗿𝘁𝗲𝘇𝗮𝘀 𝗾𝘂𝗲 𝘁𝗶𝗻𝗵𝗮 𝘀𝗼𝗯𝗿𝗲 𝗼 𝗾𝘂𝗲 𝗲𝘀𝘁𝗮𝘃𝗮 𝗮𝗰𝗼𝗻𝘁𝗲𝗰𝗲𝗻𝗱𝗼, 𝗲𝗿𝗮 𝗾𝘂𝗲 𝗻𝗮̃𝗼 𝗵𝗮𝘃𝗶𝗮 𝗶𝗱𝗼 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗮 𝘂𝗻𝗶𝘃𝗲𝗿𝘀𝗶𝗱𝗮𝗱𝗲 𝗽𝗿𝗲𝘀𝗲𝗻𝗰𝗶𝗮𝗿 𝘂𝗺 𝗰𝗿𝗶𝗺𝗲.❞ Onde Mahina...