Depois que entrei no quarto, a minha vontade foi descer novamente — para ir atrás da Rachel — e expressar o quanto a ameaça não me amedrontou, muito embora eu tenha ficado surpresa por não esperar que depois de toda as falas mansas, mesmo quando eu estava atacando-a sem nenhuma razão específica, ela fosse me abraçar tão falsamente, dizendo aquelas palavras ameaçadoras e frias.
No entanto, por mais tentada que eu estivesse, por estar em um ambiente em que tenho mais pessoas que não gostam, do que gostam de mim, fiquei quieta e só adiantei meu banho para não fazer absolutamente nada; quando eu saí do banheiro e coloquei uma roupa leve e fresca por causa do calor que ainda estava fazendo, olhando de um lado a outro percebi que tinha esquecido a sacola com os remédios e os doces no carro. No entanto, agora que já se passou um tempo desde que cheguei, decido descer para buscar, mas, antes de me aproximar da maçaneta, a porta recebe batidas leves e quando autorizo a entrada, uma menina com sobrancelhas erguidas, dando a ela uma expressão de espanto no rosto muito jovem, com traços ainda infantis, entra parcialmente, estendendo o braço e em sua mão está pendurada o saco pequeno de plástico com a logo da farmácia em que foi comprado os medicamentos.
— Não precisa ter medo de mim... — Digo um tanto confusa por ela estar agindo como se eu fosse alguém a se temer.
— Não tenho medo da senhorita, eu só... — Ela olha para mim rapidamente quando eu me aproximo e abro a porta completamente, pegando a sacola da farmácia com gentileza, agradecendo-a por ter trazido. O meu agradecimento a faz arregalar os olhos e as suas sobrancelhas levantam-se ainda mais. — Eu não posso conversar com quem fica acima de mim e... não precisa me agradecer, é minha obrigação servir ao que me mandam fazer.
— Ah não, comigo não precisa dessa formalidade toda. Não ligo para qual função você exerce e sempre que você fizer algo para mim ou a mando de alguém para trazer algo, vou agradecer. — Digo tranquilamente, o que a faz me olhar estranhamente como se eu estivesse falando coisas absurdas. — Quem ditou essas regras para você?
— É uma regra antiga, senhorita. Minha mãe disse que eu preciso seguir sem maiores perguntas, ou poderíamos perder nossas funções e como ela disse, não existe um segundo plano para empregados de uma família como essa. Sabemos demais, logo nunca podemos fazer por onde sermos expulsas.
— Compreendo, mas comigo não há necessidade. Não vou ocupar o seu tempo, imagino que tenha muita coisa para fazer. Mais uma vez, obrigada por trazer. — Elevo a mão, sacodindo a sacola. — Eu já estava me ajeitando para ir buscar.
Ela balança a cabeça, ainda me olhando estranhamente e com um meio sorriso no rosto infantil ela se vira e antes que se afaste, a chamo e dou a ela os bastões de açúcar azedo.
Até ela aceitar, tenho que insistir. E vencida pela minha persistência, pega e sai sem deixar de demonstrar o quanto um doce a fez ficar bastante feliz.
Entro no quarto, olhando os horários dos remédios e organizo as caixas no criado mudo, esperando apenas o horário para tomar.
Olho para o quarto sem graça, caminhando de um lado a outro, sem ter nada para fazer e soltando um enorme suspiro entediada, me sento na cama e fico passando o pé no carpete vermelho que não combina em nada com o quarto, comigo e com a própria casa; vendo um fiapo levantado na linha da emenda, levanto da cama e me abaixo, ajoelhando-me, sentindo um pouco de desconforto pelos joelhos ainda estarem um pouco machucados, mas me concentrando no fiapo, começo a puxar, a desfazer o carpete e quando vejo o tom amadeirado natural do piso, meus olhos até brilham de entusiasmo e quando dou por mim, o quarto, a cama, e os moveis ficam uma bagunça de carpete rasgado e pedaços enormes apoiados em cima de tudo que dava para ir colocando.
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SUBJUGADA PELAS LEIS DA MÁFIA - SEQUÊNCIA I/FAMÍLIA COSTELLO I
Roman d'amourSerena Pellegrini, uma garota criada dentro de uma redoma resistente, mas que está prestes a declinar depois que verdades foram descobertas e passados trazidos à tona, vai tentar de tudo para não cumprir com a obrigação de ter que seguir com os mand...