Quando eu te conheci no verão
Ao som das batidas do meu coração
Nós nos apaixonamos
Enquanto as folhas alaranjavam
Nós podemos ficar juntos, querida
Enquanto o céu for azul
Você age com inocência agora
Mas você mentiu tão cedo
Quando eu te conheci no verão
Summer - Calvin Harris
Viajei com o olhar para Finnick mais uma vez. Meu irmão sorria de modo cativante, sem desconectar os olhos da garota com quem conversava. Sabia que não demoraria muito para ele convidá-la para ir algum lugar onde os dois pudessem ter mais privacidade, se já não o tivesse feito.
Eu ficava sinceramente feliz por Finnick ter se adaptado tão bem à Califórnia em tão pouco tempo, embora, segundo ele, eu não conseguisse fazer o mesmo.
Bem, ele não podia dizer que eu não estava tentando.
Observei Peeta em seus jeans escuros e os braços cobertos pela jaqueta do Lynx, que, como se não pudesse ser diferente, tinha um cigarro pendendo entre os dedos. Eu sorria toda vez que me recordava de como nos conhecemos. Era engraçado pensar ao que minha expressão de desconforto quando o vi havia nos trazido hoje.
Tentei voltar a prestar atenção no assunto dos meus amigos novamente, o que não aconteceu. Não porque, mais uma vez, ele levou toda a minha concentração. O rapaz que estava aqui há apenas duas semanas e já era visto como privilegiado por todos por ter conseguido uma bolsa no meio do último semestre.
Olhei para o par de tênis brancos em seus pés, os jeans justos e escuros que abrigavam as mãos em seus bolsos, as mangas do casaco azul elevadas como se o clima estivesse insuportavelmente quente, embora estivéssemos finalizando a temporada de Inverno. Os olhos acinzentados carregavam o característico ar de confiança que se percebia na maioria dos rapazes ali, entretanto, tinham seu toque especial. Os fios castanhos eventualmente alinhados, provocando um contraste com sua pele clara e lábios cheios. Estudioso, dedicado, atraente. Não era difícil cair por um cara como ele.
Gale Hawthorne poderia ser o príncipe encantado de qualquer garota.
Porém, tudo o que eu sabia sobre ele até agora era muito pouco para servir de início à uma conversa, e mesmo que não fosse, a minha coragem não marcaria presença para fazer-me aproximar de um cara desses.
Observei seus fios curtos e escuros sendo desajeitados pelo vento, e ponderei como um cara poderia ser tão admirável. Porque, caramba, Gale Hawthorne era o tipo de cara que eu poderia contemplar por horas inteiras e não me cansar.
Bem, eu não era a única.
— Interessante, não? — ouvi alguém questionar atrás de mim. Olhei para o lado e encontrei Peeta inexpressivo, fixando os olhos em algum ponto à nossa frente.
— O que é interessante? — perguntei, tentando localizar seu ponto de visão.
— Isso, Morena. — ele apontou para frente, retirando o gorro de lã escura que protegia seus fios da neve. — Como um cara pode abalar um campus inteiro apenas por ser um maldito bolsista sortudo.
Observei a onda de fumaça que sua expiração provocou no ar gélido por conta da baixa temperatura.
— Estou percebendo algo que não deveria? — provoquei, sorrindo.
— Não. Apenas não entendo que tem de tão impressionante nisso. Quer dizer, o cara parece ser o Super-Homem ou o que?
Eu ri, notando seu rolar de olhos demonstrar seu desconforto.
Não era de hoje que as coisas pareciam ter mudado. Eu havia percebido o incômodo que a chegada de um novo aluno havia provocado nos rapazes. Era algo como sentir seu espaço sendo invadido ou ter de dividir as garotas com mais um, segundo os garotos. Afinal, se tratando de um cara como Gale, talvez eles teriam alguns motivos para se preocupar. Mas também não haveriam razões para não surgir uma amizade entre eles ali. Não deveria demorar muito para eu ver Gale entrando no time de basquete ou rugby.
— Você devia ir falar com ele. — sugeriu Peeta, de modo súbito, trazendo o corpo para mais perto do meu.
— Eu acho que não. — respondi, lembrando das nem sequer dez palavras que devíamos ter trocado durante as aulas. — Eu já falei com ele.
Ele riu, desconvencido.
— Não, Morena. Você devia realmente ir falar com ele.
Virei-me para encara-lo no mesmo instante em que seus lábios assopram a fumaça vinda do cigarro em seus dedos. Os desafiadores olhos azuis voltaram-se para mim, como se quisessem reforçar suas últimas palavras. Peeta podia ser extremamente persuasivo quando queria.
— Eu não posso falar com ele. — disse por fim, desviando os olhos dos seus.
— Porque não?
— Porque não consigo.
Mesmo sem estar vendo-o, afirmaria com todas as letras que ele ameaçou a sorrir.
— É claro que consegue. Do que precisa, afinal?
De coragem.
— Esqueça, Peeta. — suspirei impaciente. A maldita conversa que não queria ter com ele sobre isso, não nos levaria à lugar algum.
— Se a timidez ou algo do tipo é o seu problema, talvez eu possa ajudar você.
Por mais que eu quisesse encerrar o assunto, senti minha mente ponderar.
De algum modo, Peeta sabia que esse era o problema, e estava dizendo que tinha a solução.
Bem, é claro que ele sabia.
Conviveu uma amizade de sete meses e meio com a garota mais introvertida que alguém poderia conhecer. A garota que cresceu fechada, sob a proteção dupla do pai e do irmão mais velho, que mal podia sair de casa para se divertir. E que consequentemente acabou por ser a garota que sempre dependeu da atitude dos garotos para alguma interação, ou que raramente tinha o impulso de falar com eles por conta própria. Eu sempre fui esse tipo de garota, e duvidava que Peeta conseguisse mudar algo relacionado a isso agora.
Mesmo assim, seu olhar confiante me dizia que ele estava disposto a insistir.
— Como você pensa em me ajudar? — questionei, deixando a curiosidade falar mais alto. Peeta sabia usar as palavras à seu favor.
— Talvez eu consiga fazer você perder esse medo de se envolver com quem não conhece. — respondeu de forma sugestiva. — Se você quiser.
Eu não sabia o quão evidente era que Gale havia despertado algo em mim, mas Peeta percebera. E não era apenas isso que me incomodava. Eu não sabia ao certo o que era, e Peeta estava me oferecendo algo improvável de mais. Quer dizer, desfazer a timidez de uma pessoa não era uma coisa simples, afinal.
— E porque você quer fazer isso?
Ele sorriu.
— Você é uma garota incrivelmente linda, Morena, além de malditamente esperta. Merece o cara que quiser, e não devia deixar algo como a timidez atrapalhar isso. Eu posso tentar te ajudar, não é mesmo?
Suspirei, ainda incerta sobre o assunto. Eu poderia aceitar, não poderia? Amigos se ajudam, e Peeta estava disposto a tentar eliminar a garota tímida de dentro de mim. Minha mente não encontrou motivos para recusar.
Não havia motivos para não tentar, certo?
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The Right Way
RomanceSão Francisco, Califórnia. Tendo que transferir-se junto com seu irmão que acabara de repetir o último ano do colegial, Katniss deixa a adorável Londres para estudar em um Internato na Califórnia. A britânica que era considerada doce e tímida, acabo...