Capítulo 1

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Narração de Jason

Segunda feira, 2 de março

A culpa ainda me deixa louco.

Sangue... tanto sangue e não para de vir a minha mente.

Se um dia ainda vou esquecer aquela cena eu não sei, mas sei que ela está me matando e se tem algo que seja pior do que a visão de Dominick esparramada no pé das escadas, em cima de uma poça de sangue e inconsciente, é o fato da vida que foi perdida.

Isabella.

Céus... se eu estivesse lá... esse é o pior de tudo.

A morte de uma criança inocente causada por um motivo que se quer sabemos e, talvez, nunca saberemos. Não quero acreditar que Dominick se jogou como alguns médicos e investigadores especulam, isso seria o cúmulo. Ela nunca faria isso, mas sei que, bem no fundo de mim, uma parte diz que pode ser verdade.

Meu coração se aperta com o pensamento.

Ela não fez isso, repreendo-me.

O difícil é que só descobriremos quando ela acordar.

- Jason - Cindy me chama em voz baixa e como se lesse meus pensamentos, diz: -, pare de se culpar.

Desvio lentamente o meu olhar de Nick para Cindy e a olho nos olhos.

Não digo nada, mas sei que o olhar que enviei a ela já foi o suficiente para convencê-la - eu acho.

A culpa é minha.

- Se eu estivesse lá - murmuro alguns segundos depois -, nada disso teria acontecido. Eu teria a protegido.

- Jason, ela se jogou - diz Stephany, entrando na conversa e tentando me convencer de algo que supõem, mas também não é a única que tenta fazer isso.

Não!

Balanço a cabeça negativamente.

- Eu me recuso a acreditar - murmuro, voltando novamente meu olhar para Nick. Deitada na cama, pálida e impotente, imóvel, nenhuma expressão... meu coração novamente se aperta. - Nick não é assim. Se ela não quisesse a Bella, ela me contaria. Ela...

- Nããão!

Um grito brutal e cheio de medo.

Por um instante, meu coração chega a parar e meu cérebro se recusa a acreditar, mas é ela. Foi ela que gritou. Nick.

Os olhos se abrem. Cinzentos e tempestuosos. Puro terror e confusão. Sem brilho. Sua respiração entrecortada faz seu peito subir e descer rapidamente. Ela olha para os lados em estado de alerta, provavelmente procurando entender onde está ou o que está fazendo ali.

- Meu Deus... - pego sua mão e entrelaço seus dedos aos meus por impulso - Nick, fique calma. Está tudo bem agora.

Nick me encara, olhando-me de cima a baixo. Os olhos ainda cobertos de terror e confusão. Ela solta a sua mão da minha e, com a voz fraca e rouca, faz uma pergunta. Uma única pergunta que faz todo o meu mundo aos cacos que se reconstrói aos poucos se dizimar até virar pó:

- Quem é você?

Apenas três palavras acompanhadas de uma interrogação no fim. Três palavras que me atingiram como uma facada no peito. A conclusão é lógica e me deixa incrivelmente pior do que já estava. Ela não se lembra.

- Nick... - murmuro com a garganta seca - não se lembra de mim?

Ela continua me encarando, assustada como um ratinho na presença de um gato extremamente feroz e ainda mais confusa. Então ela olha para todos a sua volta. Um por um. Cindy, Stephany e eu novamente.

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