Capítulo 21

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Narração de Jason

Domingo, 29 de março.

E ali está novamente o corpo dela. Jogado no chão como quando caiu da escada, só que sem o sangue.

A culpa novamente está me deixando louco, correndo-me por dentro como veneno de rato, me matando aos poucos enquanto observo o corpo sem vida de Dominick. O meu veneno é vê-la nesse estado. Pálida. Imóvel.

Eu realmente não queria estar vivo. Não mereço isso, mas talvez estar preso dentro da cova que eu mesmo cavei para nós seja o meu castigo por ter sido tão tolo. Lembro-me vagamente de quando viemos parar aqui. Nick dormindo tranquilamente na cama enquanto eu a observava. O meu único anjo disponível no momento, já que Virgine tirou Tyler de mim quando descobriu que tentei alertar Dominick naquele hotel e a beijei, logo após sairmos da academia. Então um grupo de cinco homens vestidos com roupas inteiramente negras e portando armas, acompanhados de Joe e Virgine entraram no quarto pela varanda. Tentei reagir, entrando em uma luta corporal com Joe quando ele ameaçou injetar algo em Nick com uma seringa, mas não funcionou. Joe acabou me eletrocutando com uma arma de choque e só tive vislumbres de Nick levando um soco tão forte que apagou.

Não há ninguém que eu mais odeie nesse mundo do que Virgine McAlister e Joe Voltolini. Desejo com todas as forças torturar aqueles dois até a morte só por terem tocado um dedo em Tyler. Mas infelizmente não sou capaz de fazer nada no momento. Estou fraco. Sou um fraco. Não fui capaz de proteger a minha própria família e agora Nick e eu estamos aqui. Presos num lugar que nem se quer sabemos onde fica, sem notícias de Tyler e dos nossos amigos. Ainda me lembro de ter enviado uma mensagem para Robert com os últimos minutos de bateria do meu celular. Espero que ele tenha entendido.

Desde que Virgine apareceu em meu escritório para me comunicar do fato de que Joe está novamente à procura de Nick e que estavam com Tyler na mira e o matariam se eu não me mantivesse longe de Nick, a única coisa que eu realmente me importei foi tentar manter os dois fora de perigo e pra isso eu estava - e ainda estou - à disposição de tudo, até dar a minha própria vida. Acabei indo na onda de Virgine e a beijei quando vi Nick chegando na hora do almoço. Foi a única ideia que tive para que ela tivesse um motivo para me odiar e não ter ideia alguma do que estava acontecendo. Meu maior erro foi ter deixado Adam se aproximar de Nick, pois ele sempre esteve ao lado de Virgine e Joe. Eu me odeio por esses fatos a cada milésimo da minha vida, pois agora não sei como Tyler está e Nick, que pode estar morta.

Eu me arrasto até Nick pela terceira vez no dia - e já é noite, sei disso apenas pela janelinha com grades no alto de uma das paredes de tijolos sem reboco. É realmente difícil andar quando se está a três dias vivendo apenas de água. Levo minha mão até seu pescoço onde sinto sua pulsação. Fraca e sem ritmo. Ela está por um fio. A pele está muito mais pálida que o normal e gelada.

- Nick... - tento acordá-la mais uma vez, mas já perdendo as esperanças - acorda, Nick.

Mas pela primeira vez, ela dá um sinal. Os olhos ligeiramente se movem dentro das pálpebras, que tremem suavemente.

- Jason... - ela murmura, como se tivesse chorando.

Céus... a voz dela parece tão assustada que meu coração se retorce. Ela vai me odiar pra sempre quando descobrir o que está acontecendo. Vai me odiar tanto que vai ser capaz de querer me matar.

- Nick - eu a chamo novamente -, pode me ouvir?

Os olhos se abrem de uma vez, arregalando-os e eles me fitam confusamente e logo observam o lugar a nossa volta. Então se voltam novamente para mim.

- Onde estamos? - pergunta com a voz tão baixa que quase acredito que tenha sido coisa da minha imaginação. Sinto-me tão aliviado por ela estar viva e parecer bem.

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