Capítulo 27

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Narração de Dominick

Terça feira, 7 de abril.

Estava deitada em uma espreguiçadeira, lendo um bom livro de suspense e mistério e tomando suco de melancia enquanto tentava de todas as formas conseguir um bronzeado sob o sol forte. Ainda ria das mãos bobas de Jason passando protetor solar fator sessenta em minha pele sensível.

- Jay, acho que você já passou protetor solar no meu bumbum três vezes - disse, desconfiada.

- Nick, isso aqui é enorme e uma das minhas partes favoritas no seu corpo - ele dizia, reprimindo o riso - e ela requer muito cuidado. Fora que é enorme! Vai que eu esqueço alguma parte?

Dei risada mais uma vez ao me lembrar, até que me chamou:

- Linda.

Abaixei o livro, pousando-o na mesinha redonda ao meu lado e olhei para ele, tirando os óculos escuros. Estava na piscina, debruçado na borda. Seus olhos de cor azul pareciam brilhar sob a luz do sol.

- Sim?

- Você está aí faz tanto tempo - ele disse e a persuasão já se formava em sua voz -, está fazendo uns quarenta graus, a piscina está geladinha... vem dar um mergulho comigo.

- Minhas condições não permitem que eu faça isso - respondi. Fora que seria um baita de um mico, pensei.

- Porém eu não ligo pra isso - Jason continuou -, vem logo.

Suspirei e me coloquei de pé. Sentei-me na borda da piscina, colocando cuidadosamente os pés na água gelada que me causava arrepios constantes. Uma delícia.

- Não vai entrar? - perguntou, colocando-se entre minhas pernas.

Mas antes que eu respondesse, Jason se impulsionou para cima e em milésimos de segundo me puxou para o fundo da piscina. Meu corpo entrou em estado de choque. Estava atordoada em meio ao turbilhão de pequenas bolhas enquanto a agonia de estar sufocando me consumia. Tentava de todos os modos ir para a superfície em busca de ar, mas eu afundava mais a cada movimento. Eu precisava de ar. Necessitava. Não aguentaria mais dez segundos lá embaixo e foi quando minha vida começou a passar diante dos meus olhos. Ouvia a voz de uma criança chamando por sua mãe enquanto uma pequena menina se afundava na piscina. Algo naquela menina me fez arrepiar. Era como se ela fosse eu, eu sentia que ela era parte de mim. Ar. A calmaria já começava a substituir minha agonia e minha visão ficava cada vez mais turva. Ar. Sentia o fundo da piscina em minhas costas até que um borrão passou por mim e senti seus braços me contornando e me puxando para a superfície.

Quando a luz do sol bateu sobre mim eu sabia: ainda estava viva. Mas me senti grogue, ainda estava sufocando e o sol me cegava.

- Nick! - Jason gritava e sua voz parecia vir debaixo da água. - Nick, acorda!

Colocou-me em algo duro, na borda da piscina talvez e se colocou sobre mim. Seus olhos eram puro pavor e desespero. Medo.

- Nick, pode me ouvir? - perguntou.

Mas não consegui responder, a água entalada em minha garganta não deixou que minha voz passasse. Jason apertou minhas narinas e juntou seus lábios aos meus. Não era um beijo, parecia, mas não era. Era respiração boca a boca. Ele soprou o ar para os meus pulmões uma, duas, três vezes e parou para me olhar, enquanto batia em meu rosto.

- Vamos, Nick, não faz isso comigo... me diz que eu não fiz isso contigo! - ele gritou em desespero.

Mais uma vez, soprou o ar para os meus pulmões e imediatamente comecei a tossir, cuspindo água sem parar e em fim consegui puxar uma boa quantidade de ar. Era como se o ar dele fosse adrenalina. Vida. E de certa forma, pra mim, enquanto ele estivesse respirando eu estaria bem.

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