Capítulo 4

89 4 0
                                    

Narração de Dominick

Quarta feira, 4 de março

Acordo com uma forte dor na cabeça. Até parece que levei uma surra com um taco de beisebol. Levo a mão até a parte de trás da minha cabeça, mas me interrompo ao sentir uma leve e suave respiração nela.

Então percebo uma mão em minha barriga, abaixo dos meus seios e dentro da minha camiseta.

Meu Deus!

Viro-me lentamente, tirando a mão do meu abdômen e vejo Jason, dormindo tranquila e pesadamente. Os cabelos ruivos bagunçados estão brilhando a luz fraca do sol de inverno que entra por pequenas frestas nas cortinas. Meio receosa, eu os toco. São lisos e macios, como senti da vez em que o beijei na sala de estar.

Nossa, o beijo...

Ele beija tão bem. Sabe me acompanhar e aquilo, de certa forma, me fez sentir algo, como uma lembrança tentando atravessar a parede maciça que impede que eu tenha acesso ao meu passado, fora aquela sensação... nossa, a sensação. Era como se eu realmente fosse desejada, querida. Amada. Ele me ama, isso ele faz questão de deixar claro com palavras e gestos como não desistir de mim, mas será que é tudo verdade mesmo? Ou ele está mentindo para que eu me entregue, ele me use e depois me descarte como se eu fosse uma qualquer? Isso é o que tem me deixado tão mal ultimamente. Será que posso mesmo confiar nessas pessoas que dizem serem meus amigos e meu antigo namorado? Sendo ou não, eles são o que me restam agora. Sei que Jason não é nenhum santo, ninguém é. Sei que ele já foi muito pegador, mas será que quer apenas algo rápido comigo?

São tantas as perguntas sem respostas que acabo soltando um suspiro.

As pálpebras de Jason tremem de leve antes de se abrirem, revelando seus olhos penetrantes e com íris incrivelmente azuis. Ele abre um sorrisinho pra mim.

- Bom dia - murmura.

- Bom dia - murmuro.

- Está brava comigo? - ele pergunta.

- Por que eu estaria? - pergunto de volta.

- Bem... eu dormi com você de novo - ele sussurra, como se estivéssemos num lugar com mais pessoas e não pudessem ouvir nossa conversa.

- Você apenas dormiu - sussurro -, pelo menos eu espero que seja isso.

- Já disse que não vou tocar em você até que recobre a memória - ele murmura. - Pode confiar em mim.

- Eu confio - murmuro. - Em quem mais eu confiaria?

Jason sorri.

- No seu pai.

Franzo a testa.

- Meu pai ainda está vivo?

- Não te contei? - pergunta Jason. - Está sim. Ele está em Nápoles. Estou apenas acertando algumas coisas nos trabalho para te levar até lá por uma ou duas semanas.

- Sério? - pergunto.

- Claro - ele toca o meu rosto com a ponta dos dedos quando vai colocar alguns fios rebeldes do meu cabelo atrás da minha orelha. - A visita a lugares que você costumava ir está em primeiro plano na minha lista. Você amava muito o seu pai, talvez ele te conte algumas coisas que possam ajudar.

- Jason, sei que quer me ajudar, mas tudo isso está te dando muito trabalho e custando muito caro - murmuro. - Sei que dinheiro não é problema pra você, mas... isso não é legal da minha parte.

- Nick, estou investindo o meu dinheiro em algo essencial, a minha vida e como eu te disse, você é a minha vida - diz Jason, acariciando minha orelha e me proporcionando uma ótima sensação de conforto. - Estou fazendo isso por você, isso é verdade, mas é por mim também. Quero que lembre das coisas boas que já viveu. Até das ruins. E de mim.

Possua-meOnde histórias criam vida. Descubra agora