Capítulo 36

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Lauren pov’s



Eu poderia jurar que, naquele momento, até mesmo os movimentos de rotação e translação da Terra haviam parado. As partículas de poeira haviam parado no ar, o vento cessara, a respiração das pessoas, assim como elas mesmas, pararam.
 
Durante muito tempo, correntes me envolveram, prendendo-me e forçando-me a fazer o que os outros queriam e ser quem eles esperavam que eu fosse. Outras vezes fui controlada por sentimentos irracionais, ainda sim sendo manipulada. Mas agora...
 
As correntes que me prendiam e me impedir de fazer o que eu realmente queria estavam se quebrando e dessa ação uma nova Lauren surgiu.
Eu.
 
Finalizei a mensagem e olhei para o celular em minhas mãos. Obrigada Sofia, pensei. Obrigada por finalmente me fazer entender... Entender que eu era livre para fazer o que eu quisesse e o que eu mais queria, e como queria, era ficar ao lado da pessoa que eu amava.
 
–Lauren? –Ao longe eu ouvi o chamado de Ally. Ela me olhava com preocupação. Eu deveria explicar a ela naquele momento que as minhas lágrimas não eram de tristeza, muito pelo contrário. Após meses perdida, eu finalmente havia me encontrado.
 
–Estou indo Ang. Obrigada pela conversa. –Levantei, caminhando em disparada para fora da sala. Enquanto corria, esbarrei em algumas pessoas, derrubei objetos, tropecei. Não me importei. Em meio a dor de perdas e separações, eu sorria. Não, eu não estava zombando de alguma coisa. Eu estava simplesmente sorrindo por que eu conseguia ver o que aconteceria no futuro e era muito bom.
 
O tempo estava nublado e uma garoa fina caia. Peguei um taxi em frente a empresa, indo até o apartamento de Cameron. Encontrei na bolsa as chaves reserva que eu ainda tinha e novamente me felicitei por nunca ter devolvido. Eu rezava para que ele não tivesse convocado a policia ou algo assim para vigiar os arredores de sua casa, ou feito alguma besteira. A idéia de Cameron cometendo suicídio era o meu maior temor. Ele estava arrasado por tudo o que acontecera e num momento de aflição como esse poderia recorrer a isso.
 
Cheguei a um tempo perigosamente curto. Também pudera, pressionei o taxista, prometendo-lhe uma quantia maior caso fosse mais rápido. Erick me olhou assustado, talvez nem tivesse me visto sair em disparada pela manhã e estranhava o fato de eu estar chegando.
 
Eu não cumprimentei o porteiro de tão apressada que estava. Com as chaves da mão, quando cheguei ao andar de Cameron, abri a porta lentamente, não querendo chamar a atenção. O apartamento estava escuro, as cortinas das persianas da sala fechadas. Eu me preocupei com o silencio sepulcral que nem a chuva do lado de fora quebrava, temendo que tivesse chegado tarde demais.
 
Para o meu alivio, ao passar pela porta do quarto dele, ouvi um choro alto demais. Cameron, ao menos, não havia feito nenhuma besteira. Fiz menção de abrir a porta, mas parei. Eu precisava me preparar, afinal, entrar agitada do jeito que eu estava poderia prejudicá-lo, assustá-lo. Fui para o meu antigo quarto, procurando ser o mais silenciosa possível. Necessitava de um banho e tão logo entrei no banheiro para me higienizar, duvidas tomaram minha mente.
 
O fato de eu estar ali, prestes a me entregar a Cameron de corpo e alma, perdoando-o com todo o meu coração, não significava que ficaríamos juntos. Cameron poderia não querer estar ao meu lado por alguma razão, achando que, talvez, eu estivesse agindo novamente por pena. Muitos poderiam chegar a mesma conclusão, levando em consideração que a força motriz para o meu ato foi o último pedido de Sofia. Mas não era esse o caso. Eu o fazia por que Sofia, em toda a sua sabedoria, abriu os meus olhos e me permitiu enxergar com mais clareza do que enxerguei toda a minha vida.
 
Após o banho, pretendia vestir o que encontrasse no closet, ou talvez não vestisse nada. Ao dar uma olhada naquele espaço, detectei uma grande e bonita caixa escondida. Ah, é claro! Aquele fora um dos muitos presentes que Sofia me dera. No entanto, naquela caixa havia algo mais especial. Foi o lingerie branco, lindo, que ela me dera para usar em minha primeira noite. Lembrar daquele dia não era nada saudável, mas procurei enterrar as lembranças ruins e melancolia provenientes daqueles acontecimentos infelizes e me ligar no presente e, por que não, no futuro.
 
Vesti a peça lentamente, achando-me bonita como há semanas não me sentia. Parecia bobagem pensar que, dali a alguns instantes, aconteceria algo tão necessário e casto como se fosse de fato a minha primeira vez.
 
Quando, por fim, eu acabei de me arrumar, olhei para a porta e esperei.


The ContractOnde histórias criam vida. Descubra agora