˗ˏˋ ↳ 24 Aʟᴡᴀʏs ᴛᴏɢᴇᴛʜᴇʀ

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 Sábado de manhã e o cinema não estava tão lotado quanto durante a semana pela parte da manhã, geralmente as pessoas pegavam sessões a noite ou no fim da tarde, odiava esses turnos porque tinha que interagir e ser educada com pessoas que não queri...

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Sábado de manhã e o cinema não estava tão lotado quanto durante a semana pela parte da manhã, geralmente as pessoas pegavam sessões a noite ou no fim da tarde, odiava esses turnos porque tinha que interagir e ser educada com pessoas que não queriam interagir e não eram educadas. Nos meses trabalhando aqui já vi de tudo, minha colega de trabalho levando uma baldada de pipoca na cara, Cedric saindo de uma sessão todo vomitado por uma criança, pessoas tentando entrar na fila sem terem pagado o ingresso, uma das nossas funcionárias perdendo a cabeça e mandando uma idosa se ferrar.

Arrumei algumas coisas do balcão já me preparando para ir embora, tirei o chapéu de pirata que estava usando e pousei o tampa olho sobre o balcão. Trabalhar lá com essas fantasias acabou sendo algo bom para mim, todos elogiavam como minhas cicatrizes de maquiagem eram bem feitas, nunca desmenti e apenas retribuía o elogio.

— Esses merdas! — Cedric vociferou jogando um envelope sobre a superfície de madeira, dei um pulo assustada. — Eu não acredito, baixaram quase duzentos dólares do meu último trabalho! — O rapaz apoiou os cotovelos no balcão e suspirou passando os dedos entre os fios de cabelo.

— O que? Como assim? — Perguntei pegando o envelope, tinha apenas uma nota de cem dólares e uma carta de esclarecimento, até mesmo meu envelope veio com duzentos e isso porque não fiquei o resto da noite no drive. — Por que você não reclama sobre isso?

— E arriscar perder meu emprego? Nem morto! — Cedric levantou as mãos irritado e respirou fundo. — Eu sou guardião legal das minhas duas irmãs, trabalho de segunda à sábado aqui de manhã e tarde, trabalho durante a semana a noite como garçom e nos domingos como Uber. Não vai dar para continuar se ficarem baixando meu salário assim...

Torci o canto dos lábios me sentindo mal com aquilo, não sabia que a vida do rapaz era tão difícil, sempre achei que sua mania de controle e perfeccionismo fosse um traço de sua personalidade e não uma obrigação.

— E seus pais? — Perguntei receosa encolhendo os ombros. — Não podem te ajudar? — O olhar que Cedric direcionou até mim foi estranho, como se tivesse decepcionado.

— Pai preso e mãe em estado vegetativo há dois anos pela surra que levou dele. Eu só... Só não tenho com quem contar. — A última parte saiu baixo e com um tom pesado de angústia em sua voz, o vi arrumar a postura e fechar o envelope com todo cuidado do mundo, por um momento o chefe perfeccionista que conheci veio a tona.

— Pode ficar com meu salário e extra do drive. — Retirei os envelopes da bolsa e entreguei em direção a ele, vi seu olhar receoso e balanceei a cabeça negativamente. — Já viu com que carro eu chego no trabalho? Realmente não preciso de dinheiro.

— Não sinta pena de mim, a vida pode ter me dado uma surra mas minha história é sobre superação. — Cedric pegou os envelopes limpando o nariz com as costas da mão, vi as luzes do teto refletir em seus olhos e somente nesse percebi que ele estava chorando, não sabia se era de tristeza ou gratidão. — Obrigada Aya, obrigada mesmo. Você não é uma má pessoa.

Legado Kreese  - Cᴏʙʀᴀ KᴀɪOnde histórias criam vida. Descubra agora