034. As Maldições Imperdoáveis

84 13 0
                                    

      Havia se passado dois dias desde o choro de Sirius na Torre da Astronomia. Nem ele nem Anne voltaram a falar daquela tarde.

       Eles estavam saindo da aula de Herbologia. Anne estava há quase um minuto em uma batalha, entre avisar ou não. Mas antes que pudesse tomar alguma decisão, Sirius disse:

— Hoje temos aula com ele. Anne, como anda a sua vida?

— Boa tentativa, menino Black! Como você está?

— Com medo. Muito medo.

— Hey! Eu tô aqui, Sirius. Sempre. Sempre aqui.

      Sirius sorriu e passou o braço pelos ombros de Anne.

— Eu também. Tô sempre aqui, menina Snape.

      Eles entraram na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas e se sentaram juntos. Eles pegaram seus exemplares de As forças das trevas: um guia para sua proteção, e esperaram anormalmente quietos. Não tardaram a ouvir os passos sincopados de Moody que vinha pelo corredor e que, ao entrar na sala, parecia mais estranho e amedrontado que nunca. Seu pé de madeira em garra aparecia ligeiramente por baixo das vestes.

— Podem guardar isso — rosnou ele, apoiando-se na escrivaninha para se sentar —, esses livros. Não vão precisar deles.

      Os alunos tornaram a guardar os livros nas mochilas.

      Moody apanhou a folha de chamada, sacudiu sua longa juba de cabelos grisalhos para afastá-los do rosto contorcido e marcado, e começou a chamar os nomes, seu olho normal percorrendo a lista e o olho mágico girando, fixando-se em cada aluno quando ele respondia.

— Certo, então — concluiu ele, quando a última pessoa confirmara presença. — Tenho uma carta do Prof.Lupin sobre esta turma. Parece que vocês receberam um bom embasamento para enfrentar criaturas das trevas, estudaram bichos-papões, barretes vermelhos, hinky punks, grindylows, kappas e lobisomens, correto?

      Houve um murmúrio geral de concordância.

— Mas estão atrasados, muito atrasados, em maldições — disse Moody. — Então, estou aqui para pôr vocês em dia com o que os bruxos podem fazer uns aos outros. Tenho um ano para lhes ensinar a lidar com as forças das...

— Quê, o senhor não vai ficar? — deixou escapar Rony Weasley.

      O olho mágico de Moody girou para se fixar em Rony; o garoto ficou extremamente apreensivo, mas, passado um instante, o professor sorriu – a primeira vez que Sirius o via fazer isso. O efeito foi entortar mais que nunca o seu rosto muito marcado, mas de qualquer forma foi um alívio saber que ele era capaz de um gesto amigável como sorrir. Rony pareceu profundamente aliviado.

— Você deve ser filho do Arthur Weasley? — disse Moody. — Seu pai me tirou de uma enrascada há alguns dias... é, vou ficar apenas este ano. Um favor especial a Dumbledore... um ano e depois volto ao sossego da minha aposentadoria.

      Ele deu uma risada áspera e então juntou as palmas das mãos nodosas.

— Então... vamos direto ao assunto. Maldições. Elas têm variados graus de força e forma. Agora, segundo o Ministério da Magia, eu devo ensinar a vocês as contramaldições e parar por aí. Não devo lhes mostrar que cara têm as maldições ilegais até vocês chegarem ao sexto ano. Até lá, o Ministério acha que vocês não têm idade para lidar com elas. Mas o Prof. Dumbledore tem uma opinião mais favorável dos seus nervos e acha que vocês podem aprendê-las, e eu digo que quanto mais cedo souberem o que vão precisar enfrentar, melhor. Como vão se defender de uma coisa que nunca viram? Um bruxo que pretenda lançar uma maldição ilegal sobre vocês não vai avisar o que pretende. Não vai lançá-la de forma suave e educada bem na sua cara. Vocês precisam estar preparados. Precisam estar alertas e vigilantes. A senhorita deve guardar isso, Srta. Brown, enquanto eu estiver falando.

     Lilá levou um susto e corou. Estivera mostrando a Parvati o horóscopo que aprontara por baixo da carteira. Aparentemente o olho mágico de Moody podia ver através da madeira, tão bem quanto pela nuca.

— Então... algum de vocês sabe que maldições são mais severamente punidas pelas leis da magia?

      Vários braços se ergueram hesitantes, inclusive os de Rony e Hermione. Moody apontou para Rony, embora seu olho mágico continuasse mirando Lilá.

— Hum— disse Rony sem muita certeza —, meu pai me falou de uma... chama Maldição Imperius ou coisa assim?

— Ah, sim — disse Moody satisfeito. — Seu pai conheceria essa. Certa vez, deu ao Ministério muito trabalho, essa Maldição Imperius.

      Moody se apoiou pesadamente nos pés desiguais, abriu a gaveta da escrivaninha e tirou um frasco de vidro. Três enormes aranhas pretas corriam dentro dele. Moody meteu a mão dentro do frasco, apanhou uma aranha e segurou-a na palma da mão, de modo que todos pudessem vê-la.

      Apontou, então, a varinha para o inseto e murmurou "Imperio!".

      A aranha saltou da mão de Moody para um fino fio de seda e começou a se balançar para a frente e para trás como se estivesse em um trapézio. Esticou as pernas rígidas e deu uma cambalhota, partindo o fio e aterrissando sobre a mesa, onde começou a plantar bananeiras em círculos. Moody agitou a varinha, a aranha se ergueu em duas patas traseiras e saiu dançando um inconfundível sapateado.

      Todos riram – todos exceto Moody.

— Acharam engraçado, é? — rosnou ele. — Vocês gostariam se eu fizesse isso com vocês?

      As risadas pararam quase instantaneamente.

— Controle total — disse o professor em voz baixa, quando a aranha se enrolou e começou a rodar sem parar. — Eu poderia fazê-la saltar pela janela, se afogar, se enfiar pela garganta de vocês abaixo...

— O que você tá fazendo? — Murmurou Sirius.

— Há alguns anos, dois Comensais da Morte, Alice e Regulus Black, haviam colocado muitos bruxos e bruxas a serem controlados pela Maldição Imperius. — disse Moody, — Foi uma trabalheira para o Ministério separar quem estava sendo forçado a agir de quem estava agindo por vontade própria.

       Sirius se encolheu quando todos os Lufanos e Grifinorios o olharam. Por baixo da carteira, Anne segurou sua mão com força.

"A Maldição Imperius pode ser neutralizada, e vou-lhes mostrar como, mas é preciso força de caráter real e nem todos a possuem. Por isso é melhor evitar ser amaldiçoado com ela se puderem. VIGILÂNCIA CONSTANTE!", vociferou ele, e todos os alunos se assustaram.

— Idiota! — Resmungou Sirius.

      Moody apanhou a aranha acrobata e atirou-a de volta ao frasco.

— Mais alguém conhece mais alguma? Outra maldição ilegal? Qual? — perguntou Moody, seu olho mágico dando um giro completo para se fixar em Neville Longbottomda Grifinória.

— Tem uma, a Maldição Cruciatus — disse Neville, numa voz fraca, mas clara.

      Moody olhou Neville com muita atenção, desta vez com os dois olhos.

— O seu nome é Longbottom? — perguntou ele, o olho mágico girando para verificar a folha de chamada.

      Neville confirmou, nervoso, com a cabeça, mas o professor não fez outras perguntas. Tornando a voltar sua atenção à classe, ele meteu a mão no frasco mais uma vez, apanhou outra aranha e colocou-a no tampo da escrivaninha, onde o inseto permaneceu imóvel, aparentemente demasiado assustado para se mexer.

— A Maldição Cruciatus — começou Moody. — Preciso de uma maior para lhes dar uma ideia — disse ele, apontando a varinha para a aranha. — Engorgio!

      A aranha inchou. Estava agora maior do que uma tarântula.

      O professor tornou a erguer a varinha, apontou-a para a aranha e murmurou:

— Crucio!

      Na mesma hora, as pernas da aranha se dobraram sob o corpo, ela virou de barriga para cima e começou a se contorcer horrivelmente, balançando de um lado para outro. Não emitia som algum, mas Sirius teve certeza de que, se tivesse voz, estaria berrando. Moody não afastou a varinha e a aranha começou a estremecer e a se debater violentamente...

— Pare! — gritou Hermione com a voz aguda.

      Moody ergueu a varinha. As pernas da aranha se descontraíram, mas ela continuou a se contorcer.

— Reducio — murmurou Moody, e a aranha encolheu e voltou ao tamanho normal. Ele a repôs no frasco. — Dor — explicou Moody em voz baixa. — Não se precisa de anjinhos nem de facas para torturar alguém quando se é capaz de lançar a Maldição Cruciatus... ela também já foi muito popular.

"Certo... mais alguém conhece alguma outra?"

      A mão de Hermione tremia levemente quando, pela terceira vez, ela a ergueu no ar.

— Sim! — disse Moody olhando-a.

— Avada Kedavra — sussurrou a garota.

      Sirius e Anne apertaram com força as mãos um do outro.

— Ah — exclamou Moody, outro sorrisinho torcendo sua boca enviesada. — Ah, a última e a pior. Avada Kedavra... a maldição da morte.

      Ele enfiou a mão no frasco e, quase como se soubesse o que a esperava, a terceira aranha correu freneticamente pelo fundo do objeto, tentando fugir aos dedos de Moody, mas ele a apanhou e a colocou sobre a escrivaninha. O inseto começou a correr, desvairado, pela superfície de madeira.

      Moody ergueu a varinha.

— Avada Kedavra! — berrou Moody.

      Houve um relâmpago de ofuscante luz verde e um rumorejo, como se algo vasto e invisível voasse pelo ar – instantaneamente a aranha virou de dorso, sem uma única marca, mas inconfundivelmente morta.

      Várias alunas abafaram gritinhos.

      Moody empurrou a aranha morta para fora da mesa.

— Nada bonito — disse calmamente. — Nada agradável. E não existe contramaldição. Não há como bloqueá-la. Somente uma pessoa no mundo já sobreviveu a ela e está sentada bem aqui na minha frente. — Olhou diretamente para Harry Potter

O Filho de Regulus Black: Sirius BlackOnde histórias criam vida. Descubra agora