Capítulo 3

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As constelações mudaram após dois dias de viagem.

A noite que havia coberto Manon como um manto marcava o fim do segundo dia, e ela sabia que Forte da Fenda não estava longe. Eles chegariam em algumas horas, no próximo pôr do sol se continuassem naquele ritmo.

Era estranho ter apenas a canção do vento e o barulho constante das asas de Abraxos em volta dela, e nada senão silêncio além disso. Aquilo trouxe para a Rainha um alívio sem fim.

Ali, a solidão não era só uma sensação que a atormentava, era real, e Manon podia abraçá-la, deixar que a dor viesse com ela. Era sufocante se sentir sozinha quando havia tantas pessoas em volta.

Manon colocou a mão sobre o peito, sentindo os estilhaços do que um dia fora seu coração baterem em resposta. Ela sabia que não haveria ninguém quando olhasse para trás, mas olhou mesmo assim. E seu peito se apertou, não importava quantas vezes tivesse feito exatamente a mesma coisa desde que Abraxos se lançara no ar.

Após tanto tempo na cidade das bruxas ela finalmente tinha sobrevoado suas terras, e o que vira deixara Manon em choque. Toda a terra ao redor do rio tinha se tornado verde, diferente de como estava quando tinham chegado após a guerra, a areia já não era a maioria, estava apenas nas partes mais distantes das nascentes.

Mas aquilo já havia ficado para trás. Abraxos voava com tranquilidade por cima da floresta de Carvalhal, da qual estiveram longe por tanto tempo. Logo chegariam a Adarlan, e Manon sabia que aquele pequeno mundo onde ela não era uma Rainha, em que poderia ser somente uma bruxa seguindo o vento desapareceria tão rápido quanto tinha surgido. Aquilo não deveria parecer tão ruim. Ela nunca foi somente Manon. Nunca quis ser.

A Rainha podia ver as horas passando como areia escorrendo em uma ampulheta, e quando o último grão caísse ela estaria se encontrando com ele.

A bruxa não tinha realmente pensado no que encontrar Dorian implicaria. Ela não pensara o suficiente em nada daquilo, e esperava não feito a coisa errada ao deixar o reino. Não era como se a decisão tivesse surgido do nada,  no entanto. Havia uma certeza, do tipo que ela não conseguia explicar, de que ela precisava ir para Forte da Fenda. Manon diria que era um aviso da Deusa de Três Rostos se Aelin Galathynius não a tivesse mandado diretamente para o inferno com as outras divindades de Erilea.

Deitando-se na sela, ela deixou o olhar viajar até o Senhor do Norte. Manon não sabia o que faria quando encontrasse Dorian. Ou o que os dois eram depois de tantas coisas não ditas que deixaram de resolver.

Na verdade, aquilo ela sabia. Os dois não eram nada. Nunca foram.

Ainda assim ela tinha pedido para que ele ficasse. Ainda assim Dorian a abraçara na varanda. Ainda assim ele ficara vermelho quando Yrene Towers disse que os dois deveriam se casar. E Manon não tinha dito que não.

Grunhindo baixo, ela cobriu o rosto com as mãos. Aquilo parecia um inferno de complicações, e era a última coisa de que ela precisava, ou que deveria se preocupar. Ela não ia se casar com Dorian. Aquilo não era sequer uma possibilidade. Chegava a ser ridículo até mesmo pensar sobre.

Abraxos se virou para ela, os olhos escuros pareciam brilhar de curiosidade. Ou talvez fosse o reflexo da lua.

— O quê?

Ele bufou, inclinando a cabeça para ela. Como se estivesse perguntando o que foi?

— Isso não é da sua conta.

Em um momento Manon estava deitada. No outro, Abraxos se inclinou e as costas dela estavam no ar, antes de baterem bruscamente de volta na sela. A bruxa sibilou.

𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora