Forte da Fenda, cinco meses após o fim da guerra
Dorian Havilliard observava as árvores do bosque que contornava o castelo, onde os galhos, uma vez mortos, se tornavam cada vez mais verdes. Com poucas semanas de primavera, qualquer resquício do inverno havia desaparecido, e cada dia de sol parecia tirar um peso de suas costas. O rei nunca odiara tanto a neve na vida.
Conforme o sol se tornava mais alto no céu, os sons da cidade chegavam até ele pelo vento. As obras, lentas e travadas por conta do frio de Forte da Fenda agora se encaminhavam, reestruturando rapidamente a capital.
Dorian não conseguira ver a destruição causada pela invasão das bruxas até chegar na cidade quando a guerra acabara, cinco meses atrás. Ele teria continuado sem conhecer a gravidade da situação, se pudesse. As casas danificadas, a quantidade de pessoas sem ter onde viver, de crianças que haviam perdido seus pais. Todas eram responsabilidade dele.
Além de todas as outras tarefas que tinha como governante: reestabelecer os acordos comerciais com outros reinos, reuniões com dezena de pessoas que olhavam para ele, procurando soluções para todos aqueles problemas. Ter passado uma vida se preparando para aquilo não tornava as coisas fáceis. Isso sem contar as partes da magia que Dorian não conseguia controlar.
Por um momento, a coroa dourada na cabeça do rei pareceu ser feita de chumbo.
Eram tantas coisas para lidar e a que mais lhe parecia difícil de resolver era a própria mente. Ele não conseguia afastar os pesadelos que o acordavam no meio da noite, a culpa que carregava quando pensava em seu pai ou a sensação irremediável de estar completamente sozinho.
Aquilo podia não ser totalmente verdade quando Chaol e Yrene estavam sempre por perto — tirando o curto período em que ficaram em Anielle —, e Aelin não deixara de enviar cartas. Mas ela tinha um parceiro, tinha seu primo e sua corte. A curandeira e o antigo capitão da guarda tinham sua própria família e um bebê que chegaria em breve.
Tudo que Dorian tinha eram sonhos com uma rainha de cabelos brancos que estava tão quebrada quanto ele.
As poucas notícias que chegavam dos desertos eram vagas, vindas de comerciantes que falavam das planícies verdejantes surgindo onde antes só havia areia. Ninguém falava sobre o que estava acontecendo no Reino das Bruxas, talvez ninguém soubesse.
Gelo dançou nas pontas dos dedos do rei. Pensar em Manon Blackbeak com os olhos tão vazios, carregando o peso de um reino destruído nas costas era algo que ele detestava. Dorian se perguntava se ela se sentia tão sozinha quanto ele.
— Algum motivo particular para você estar posando dramaticamente a luz do sol?
O frio deixou rapidamente as mãos dele quando Chaol interrompeu seus pensamentos. Ele se virou, surpreso por não perceber que o antigo capitão da guarda havia entrado na sala de reuniões e estava separando papéis sobre a mesa, com uma leve carranca no rosto.
— Algum motivo particular para você parecer ter chupado um limão no café da manhã?
Chaol levantou as sobrancelhas, substituindo parcialmente a irritação pelo humor.
— Para começar, estou desde que o sol nasceu com o nariz enfiado em documentos que você deveria estar lendo.
Dorian bufou, sentando-se na cabeceira da mesa para ajudá-lo com o que precisariam para a reunião.
— Você não é pago para fazer o meu trabalho?
— Vou começar a exigir uma taxa de indenizações pelos danos mentais que está me causando.
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𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒
FanfictionCinco meses após o fim da guerra contra os Valg, uma Rainha feita de ferro tenta reconstruir seu reino no oeste, enquanto o luto e a dor da perda a consomem. Um Rei com gelo nas pontas dos dedos e magia que um dia foi infinita tenta lidar com a culp...