A capa vermelha da Rainha das Bruxas ondulava com o vento que chegava a cada pôr do sol. Àquela altura, sentir a mudança de temperatura era um costume, mas os humanos que andavam para lá e para cá a alguns metros de onde as bruxas estavam acampadas ainda reclamavam.
Três deles estavam olhando para ela, desconfiados. Manon permaneceu imóvel, e eles não duraram muito antes de desviar o olhar. O resto foi mais esperto e não se atreveu a fazer o mesmo. Não estavam na quantidade ideal de pessoas, mas eram mais do que ela esperava. E ainda restavam duas serpentes aladas para chegar, então por enquanto a bruxa estava presa ali, naquele acampamento esquecido pelo resto do mundo.
As Crochans que mandaram a carta sobre o ouro pareceram satisfeitas em tê-la ali, especialmente quando ela chegou com Bronwen ao lado. A prima ficou tão surpresa quanto Petrah por Manon ter pedido que fosse até ali com ela, mas não se opôs.
O som de passos esmagando a areia começou como um ruído distante, então ficou mais alto e mais próximo, até parar de repente quando Bronwen apareceu ao seu lado. Nenhuma das duas disse nada inicialmente, observando os tons de laranja e rosa no céu caírem aos poucos para lilás.
— Quando você disse que iria para Adarlan, eu não esperava por isso. — a voz dela quebrou o silêncio de um jeito que pareceu errado, como se tivesse interrompido um espetáculo que exigia toda a atenção de quem o assistia.
Manon a olhou pelo canto dos olhos, sem saber se queria entrar naquela conversa. Mas no ponto em que estavam, ignorá-la parecia tão ruim quanto.
— O que você pensou?
Bronwen deu de ombros e manteve os olhos fixos em sua frente quando continuou.
— Que você fosse ver o rei.
A bruxa piscou, sem acreditar que teve mesmo que ouvir aquilo.
— Você acha que eu voei por metade de Erilea para isso? — Não foi preciso muito esforço para que a indignação ficasse evidente em sua voz, apesar de não ser totalmente mentira. — Fui ver as serpentes aladas que os cavaleiros do continente sul estão treinando.
— Você acha que isso vale o nosso tempo, que precisamos de mais?
Manon não estava surpresa com a insinuação de que não sabia o que estava fazendo vindo dela, mas isso não a deixou menos irritada. Ela pensou seriamente em mandá-la pegar a coroa e tentar governar em seu lugar. Pelo menos Bronwen teve a decência de não dizer mais nada sobre Dorian.
— Sim, para as bruxinhas. E para aquelas que eu sei que perderam as suas.
A prima piscou como se tivesse enxergado um lado que não tinha percebido antes.
— Petrah perdeu uma antes da guerra. Ela ainda sente falta dela.
— Keelie. Eu sei. — Manon sussurrou, parecendo deixá-la surpresa por saber daquilo. Quase perder Abraxos a fez entender o sofrimento da sangue azul mais do que ela gostaria.
As duas voltaram a ficar caladas. Era a conversa mais longa que tinham em meses, e a bruxa não sabia como continuar, ou se queria.
— Qualquer que tenha sido o motivo, é bom que você tenha ido. Eu consigo ver às vezes, como a cidade será. Como o castelo ficará quando for construído. — O rosto dela se contorceu de dor de repente, e Manon não esperava que o golpe que atingira Bronwen tão profundamente arrancaria um pedaço dela também. — Queria que Rhiannon pudesse ver.
Pareceu erguer um muro entre as duas. Aquele nome. Ela sofria todos os dias por suas Treze não terem a oportunidade de conhecer os desertos, e se esquecia de que a Crochan sofria da mesma forma, por outra pessoa. Manon mal tinha se perdoado completamente por aquilo, e se perguntava o quanto Bronwen a perdoara. Ainda assim, ela estava atrás dela, dia após dia.
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𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒
Fiksi PenggemarCinco meses após o fim da guerra contra os Valg, uma Rainha feita de ferro tenta reconstruir seu reino no oeste, enquanto o luto e a dor da perda a consomem. Um Rei com gelo nas pontas dos dedos e magia que um dia foi infinita tenta lidar com a culp...