Capítulo 2

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Manon não sabia dizer se haviam se passado horas ou apenas segundos desde que entregaram a ela o envelope que encarava.

Cada bruxa sentada ao redor da mesa observava sua Rainha na cabeceira. Aguardando. Petrah contraiu os dedos, como se pudesse cortar a tensão presente no ar com as unhas.

Todas estavam daquele modo desde que Anya, uma das Crochans que vigiava as fronteiras da cidade, havia recebido um mensageiro, que trazia uma carta de um dos últimos acampamentos que permaneceram espalhados pelos desertos.

A maioria das bruxas em Erilea havia voltado para a cidade de Rhiannon Crochan. A cidade que agora era dela.

Passaram-se meses desde que a última mensagem chegara, e o selo prensado no papel não pertencia a nenhum dos acampamentos com os quais Manon se comunicara, embora Glennis o tivesse reconhecido. Mas o que realmente preocupava a Rainha e aquelas que tinham se tornado parte de seu conselho, era a localização de onde a mensagem viera. Há apenas um dia de voo do reino de Ansel de Briarcliff.

As últimas coisas que Manon queria, ou poderia lidar com, eram problemas com o reino vizinho. Em momento algum nos meses que se seguiram elas tiveram problemas nas fronteiras, ou com humanos no geral. Os poucos que se aventuravam pelas terras das bruxas eram comerciantes passando por suas rotas e que trocavam seus produtos por feitiços crochans e armas feitas pelas Dentes de Ferro.

Bronwen começou a bater os dedos na ponta da mesa, a própria imagem do esgotamento de paciência. Não foi difícil interpretar a mensagem silenciosa que ela passava para Manon.

Abra essa porra logo.

O som da cera partida do selo era o único dentro dos limites da tenda, além das respirações agitadas das bruxas. Manon não demorou para ler a carta, mais curta do que ela esperava. Ainda assim, apesar da simplicidade da mensagem, ela se viu relendo mais de uma vez o que estava escrito ali, pela primeira vez em muito tempo sem sentir nada além de surpresa.

— Majestade?

Lentamente, ela ergueu os olhos dourados para os rostos que a encaravam com curiosidade.

— Há uma jazida de ouro ao norte da fronteira com o reino de Ansel. — explicou Manon. A expressão de cada uma na sala refletiu o que ela estava pensando. As riquezas das terras que Brannon Galathynius dera a Rhiannon, perdidas durante os anos da maldição. Riquezas das quais elas definitivamente precisavam. — E talvez não somente de ouro. A líder do acampamento acredita que as minas que encontraram possam se espalhar por quilômetros.

A bruxa aguardou enquanto seu pequeno conselho absorvia a informação. Petrah começou a discutir em voz baixa com a Pernas Amarelas ao seu lado. Glennis deu a Manon um sorriso reconfortante, que afastou a preocupação recente de seus olhos azuis claros. Como se ela pudesse ver as coisas voltando para os eixos.

Aos poucos, a atenção da sala se voltou para a Rainha, acompanhada de uma pergunta que ela não conseguia se impedir de odiar.

— O que vamos fazer, majestade?

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Manon observava, do alto de uma duna, a cidade se esvaziar aos poucos.

O rio que a percorria agora já estava quase em seu nível normal, e dali era possível ver algumas flores brancas crescendo em seu entorno. Assim como a grama rala surgindo entre a areia abaixo de suas botas. As bruxas se dirigiam ou para suas tendas, já melhores organizadas, ou para as grandes fogueiras, pontos brilhantes na noite que caía cada vez mais rápido.

Olhando a quantidade de bruxas, Manon se perguntava como ela enviaria pessoas para as jazidas e ainda deixar o suficiente para ajudar na reconstrução da cidade. A resposta não foi difícil de encontrar: ela não iria. As obras já demoravam mais do que o suficiente.

𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora