Capítulo 11

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O som ritmado de batidas que parecia estar ecoando por cada parte da cabeça dela começou do nada. O que quer que estivesse em seu sonho se transformou e se concentrou no barulho, ficando mais e mais alto, perdendo o ritmo das batidas... Até acordar Manon. Ela levou um momento a mais do que deveria para reconhecer os arredores do quarto de Dorian, que estava xingando e se levantando.

Ela piscou, percebendo que o som não tinha parado e vinha da porta. Alguém estava batendo no quarto do rei no meio da noite e com um pouco de pressa, o que não podia significar nada de bom. Manon começou a prender o cabelo em uma trança e ouviu sem esforços a conversa quando ele abriu a porta.

— Desculpe incomodar, majestade. Foi Lorde Westfall quem me mandou. Ele pediu para avisar que Lady Yrene entrou em trabalho de parto.

Manon parou no meio da trança. Ela não deveria estar surpresa, quando vira Yrene no dia anterior — ou apenas algumas horas atrás, ela não fazia ideia — a barriga da curandeira parecia prestes a explodir. Mesmo assim, a criança já estava lá há nove meses, poderia ter esperado até o amanhecer para acordar o castelo inteiro.

Dorian bateu a porta e voltou, parecendo dividido entre animação e o mesmo pensamento dela sobre o horário. No fim, o primeiro ganhou.

— Você vem?

Ela não se esforçou para responder, apenas terminou a trança e calçou os sapatos. Os dois desceram apressados até o quarto de Chaol e Yrene. O lorde estava sentado em uma cadeira no corredor, batendo o pé compulsivamente e um pouco pálido. Ele pareceu aliviado quando os viu.

— Não consegue andar? — Dorian perguntou, puxando uma cadeira que estava perdida ao lado.

— Não muito bem, com Yrene assim. Não quero me esforçar demais.

— Ela vai ficar bem.

Ele fez que sim com a cabeça e voltou a bater a perna. Após alguns minutos agonizantes, a porta se abriu e Chaol levantou de repente, surpreendendo a curandeira que apareceu na soleira.

— Lady Yrene está chamando o senhor. O bebê está chegando.

Dorian apertou o ombro do amigo, que assentiu antes de pegar a bengala e entrar no quarto, batendo a porta um segundo depois. Manon se sentou na cadeira vazia, os dois em silêncio, esperando. Certo tempo passou, o suficiente para o assento ficar desconfortável e seus ombros começarem a reclamar da falta de movimento, então os grunhidos de Yrene se tornaram gritos. O rei estremeceu ao lado dela, e até a bruxa ficou tensa com os sons estridentes vindos do outro lado do quarto. Era um pouco perturbador.

— Me lembre de nunca engravidar. — ela murmurou, depois de a curandeira soltar um grito tão alto que sua voz falhou no fim. A voz abafada de Chaol surgiu então, tentando tranquiliza-la.

— Sem querer acabar com as suas esperanças, mas acho que não posso, majestade.

Ela parou de ouvir os sons ao redor por um instante. Odiou ouvir aquela palavra vindo de Dorian, que a chamara de bruxinha sem nem conhecê-la, depois de dividirem a cama, quando ainda era líder alada, depois de se tornar rainha. Ela não tinha mudado para ele, talvez uma das únicas coisas em que não tinha mudado, e gostava daquilo.

Manon estava consciente dos deveres que a coroa implicavam, mas aquele era um que ela preferia ignorar por enquanto. Talvez voltasse a pensar sobre aquilo daqui a algumas décadas. Um século talvez.

— Isso não me impede de ignorar a questão por enquanto, majestade.

A conversa foi interrompida quase por intervenção divina, quando os dois notaram ao mesmo tempo que o quarto fechado ficara em silêncio total. Dorian ajeitou a postura, se concentrando no que estava acontecendo do outro lado, e felizmente esquecendo o assunto por um momento. Então, não mais que um segundo depois, o som de um choro atravessou o quarto e chegou ao corredor.

𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora