Capítulo 12

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O vento cantava para Manon. Melodias baixas, sussurros entre frestas, potente de onde vinha do norte, mas não passava de uma brisa quando chegava a ela. O restante de varanda em que estava era uma parte perigosa e instável das ruínas, e uma das que ela mais gostava.

A rainha sabia a mensagem que os ventos carregavam. Sabia porquê vinham do norte, porquê tentavam alcançá-la. E, pelos passos que sua audição aguçada encontrou na base do castelo, eles não eram os únicos. Manon deixou o impacto passar por seu corpo quando pulou no primeiro andar depois de passar por um buraco na parede, sentiu a dor nos pés se dissipar conforme chegava onde Petrah estava.

O rosto dela estava emoldurado por fios cor de mel que escaparam da trança, como se o vento tivesse ido até ela também. A Sangue Azul a recebeu com uma reverência curta.

— Tem alguma coisa para reportar? — Manon perguntou. Dali ela não tinha a vista da cidade que a varanda oferecia, mas aquela altura, ela já a conhecia por inteiro.

Sabia que três casas estavam prontas, que famílias estavam vivendo ali. Que as bruxinhas brincavam nas ruas enquanto suas mães tentavam mantê-las longe das construções, e da última vez que a rainha passara por ali, vira as janelas e a frente das casas cobertas de grama e com flores despontando.

Uma futilidade, uma coisa humana, teria sido o primeiro pensamento dela. Mas era um tipo de beleza, algo diferente de destruição. Talvez aquelas bruxas estivessem apenas encontrando o que precisavam para começar de novo. Manon talvez devesse tentar o mesmo.

— Não exatamente. — Foi a reposta. A bruxa levantou a sobrancelha quando ela hesitou. Tinha consciência do quanto Petrah tinha começado a pensar duas vezes antes de falar com ela. Com um suspiro, ela voltou a  falar. — Os humanos não são os únicos que estão falando sobre a festa em Terrasen. Meu clã está. As Crochans e Pernas Amarelas também.

Ela não falou sobre o clã da própria Manon, mas não precisava para que ela soubesse que estavam incluídas. Não era a primeira vez que o assunto era levantado, e talvez fosse esse o motivo da aflição dela.

— Você sabe o que eu quero dizer. Isso não é um capricho, ou uma festa humana idiota. Não é apenas para os outros reinos que estará mandando uma mensagem se não for.

Ela sabia que sim. Tinha mantido o reino isolado por cinco meses, e sabia que poderia fazer o mesmo pelos próximos anos se quisesse. Mas não seria bom para nenhum dos lados. Era evidente o quanto as coisas aceleraram com o ouro que chegara, e ela não poderia utilizar o trabalho duro e a exaustão para evitar os próprios sentimentos eternamente. Deixar de ir não seria justo com ninguém. Nem com ela mesma.

— Ainda estou tentando descobrir como celebrar o fim de uma guerra que não acabou para mim. — Manon respondeu em voz baixa. Então inclinou a cabeça para o castelo, depois para a cidade cheia de destroços. — Eu iria por vocês. Irei por você se for preciso. Mas você pode garantir que nenhuma delas se importou quando eu fui para Adarlan? Que elas não se importariam se eu viajasse para uma maldita festa e as deixasse aqui?

Os olhos azuis de Petrah se acenderam com tranquilidade e determinação, e Manon viu os resquícios da herdeira que ela conhecera por anos despontarem. Ela não a reconhecia com frequência, mas por outro lado, a rainha também não poderia estar mais distante de ser a bruxa que Petrah conhecera.

Ela sentiu os ecos da pessoa que fora esperando alguma besteira dramática sobre a Deusa que não existia mais, mas o que a Sangue Azul disse não tinha nada a ver com aquilo.

— Você não olha para a sua cidade, não é? Não de verdade.

Antes que a rainha pudesse responder, ela saiu andando, na direção da praça além dos muros caídos do castelo. Ela não teve muita opção além de segui-la, com a irritação como uma coceira na garganta. 

𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora