Capítulo 10

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Dorian Havilliard estava cercado por um calor sufocante, do tipo que nunca sentira antes. E no segundo seguinte, não estava mais. A frieza do vazio entre um espaço e outro era estranha, e, nos poucos segundos em que permaneceu nela, foi um alívio. Até aparecer na areia de novo, alguns metros a frente de onde estava antes.

— Pensei que você estivesse cansado. — Manon debochou, do mesmo ponto de onde o estava observando pelos últimos minutos.

O calor não parecia incomoda-la, mas quanto mais o sol subia no céu, mais ela se inclinava na direção do ar fresco em volta dele.

— Foi difícil demais aprender isso para não fazer o tempo todo. — ele respondeu.

Durante todo o tempo em que esteve em Terrasen, Dorian dividira os dias entre treinar com Fenrys, ficar com Aelin quando ela dizia que ele estava dando mais atenção para o lobo do que para ela, e apagar por horas. Ele sentiu falta do castelo cheio no momento em que pisou no próprio castelo. A mudança de voltar para os corredores silenciosos de Adarlan fora brusca como um choque de temperatura.

Manon inclinou a cabeça, deixando transparecer a curiosidade que às vezes ela direcionava para a magia dele.

— Como é? Estar em um lugar e aparecer no próximo?

O rei se aproximou dela, estendendo a mão e esperando enquanto ela hesitava, antes de dar um passo adiante e deixar que ele envolvesse sua cintura. Quando desapareceu, ele sentiu os braços da bruxa se apertarem em volta dele, como um lembrete estranho no corpo de que ele ainda existia, em um lugar onde não deveria existir nada. A respiração dela estava acelerada quando os dois surgiram perto de Abraxos, que virou de um lado para o outro até encontrar a direção onde estavam e inclinar a cabeça, confuso.

O rei se afastou para conferir se ela estava bem.

— Isso... — ela se interrompeu, então deu um passo para trás, balançando a cabeça. — Eu não sei explicar. Não é um lugar onde você deveria ficar por muito tempo.

— Eu sei. — Ele sentia a estranheza naquele ambiente, o quanto não era natural, e o bom senso era maior que a curiosidade de entender o que era aquele espaço. Dorian se perguntava quão pior era viajar entre um mundo e outro.

Manon chamou Abraxos e virou na direção da cidade, sem precisar dizer que era hora de voltarem. No caso do rei, para conhecer por terra o que tinha visto enquanto voava.

— Não tivemos problemas com seu povo durante o último mês. — a rainha disse, lembrando-o do motivo — ou desculpa — para estar ali. — Exceto por um idiota que achou que era uma ideia aceitável flertar com uma bruxa e chamá-la de prostituta quando ela o ignorou. Não posso dizer que ele saiu inteiro.

Ele suspirou. Poderia ter sido pior. Esperava que o cretino tivesse se assustado o suficiente para manter a boca fechada.

— Vamos para lá amanhã?

Dorian quase revirou os olhos quando ela confirmou com a cabeça.

— Por que toda vez que estamos juntos nós gastamos a maior parte do tempo viajando?

— Tem alguma coisa que você preferia estar fazendo?

O sorriso que apareceu no canto da boca dele não precisava de mais explicações. A bruxa semicerrou os olhos para o rei e inclinou o rosto, medindo as horas pela posição do sol.

— O jantar será daqui a pouco. As fogueiras devem estar sendo acesas.

Os dois saíram do espaço atrás das últimas tendas e se aproximaram das fogueiras na beira das ruínas, de onde bruxas apareciam sem parar a cada minuto que passava. E apesar de não ter a habilidade de prever o futuro, Dorian tinha a impressão de que sabia como a cidade se tornaria, cheia, colorida, e vibrando com vida.

𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora