Capítulo 7

335 27 41
                                    

O barulho constante das rodas da carruagem contra o paralelepípedo das ruas fazia Manon se perguntar como os humanos aguentavam passar tanto tempo dentro de caixas fechadas toda vez que precisavam se locomover. Aquela ainda era grande, ela tinha certeza que qualquer um com menos dinheiro que o rei precisaria lidar com um espaço ainda menor. A bruxa olhou para o céu noturno pela janela. Ela nem conseguia se lembrar de como tinha passado os anos em que a magia desaparecera presa no chão. Dorian não parecia se importar.

— Sinto muito se não tem espaço para uma serpente alada nas ruas. — ele brincou, observando-a do banco em frente a ela.

Manon deu de ombros.

— Tanto faz.

— Você parece estar prestes a ter um ataque e arrancar as portas com as unhas.

A rainha suspirou, se recostando no banco e finalmente desviou o olhar o para ele.

— Bruxas não foram feitas para isso. — disse ela, fazendo um gesto vago para o espaço fechado.

A carruagem avançou pelas ruas que a cada metro ficavam mais largas e organizadas, enquanto o silêncio que se instalara há pouco tempo voltava a pairar entre eles.

Forte da Fenda estava melhor do que parecia. Dorian começou a falar sobre a cidade assim que os dois saíram pelos portões do castelo, e ela deixara. Manon não sabia o motivo de ter aceitado sair para ver a capital. Se queria ver com os próprios olhos a destruição que Erawan causara, ou porque ter passado o dia inteiro sozinha, sufocando tudo o que a tinha atormentado durante a noite não fora uma boa ideia.

De qualquer forma, mesmo que se isolar aparentemente não fosse a melhor opção, ela preferia permanecer em silêncio, deixar que ele falasse e apenas escutar. E o rei parecia feliz em fazer aquilo. Em mostrar a cidade e falar sobre ela. Talvez ele não tivesse ninguém para conversar sobre aquilo, uma vez que estava cercado de pessoas que moravam na cidade e lidavam com ela todos os dias.

Quando passaram por uma ponte acima de um dos canais do rio Avery, Manon acompanhou a vista da extensão da água que descia até os vestígios de uma parte de Forte da Fenda em que ela reparara voando com Abraxos. Parecia tão deserta quanto a cidade dela.

— O que tinha ali? — a bruxa perguntou, gesticulando na direção das ruas quase sem prédios. 

— Eram os cortiços. Quase todos os prédios estavam perto de desmoronar e caindo aos pedaços, o ataque foi a gota d'água. Era a parte mais fácil da cidade de destruir, então foi a que mais sofreu danos. Além disso, era onde a maior parte das pessoas estavam. — Ele se inclinou para perto da janela, parecendo olhar não para as ruas vazias, mas algo além delas. — Vou fazer o que já deveria ter sido feito há muito tempo e construir algo melhor lá.

Poucos minutos atrás, uma garotinha tinha acenado para a carruagem. A preocupação estava clara na voz de Dorian quando ele indicara as pessoas que não tinham onde morar ainda. Várias vezes. Era um problema que ambos compartilhavam, então. Ela imaginava que já houvesse probreza em Forte da Fenda antes e que os problemas com a guerra só a tivessem piorado.

Mas na maioria dos rostos, mesmo os que não tinham casas, ela não encontrara remorso ou ódio quando a carruagem elegante do rei passou. Apenas esperança, confiança de que ele os ajudaria, embora Manon não fizesse ideia do que ele tinha feito para inspirar aquilo nas pessoas. Ela se perguntava se aquela esperança dava forças para Dorian, ou se ele a achava tão sufocante quanto era para ela.

As casas iluminadas por postes de cada lado pareciam cada vez mais elegantes, até a carruagem entrar em uma avenida onde foram substituídas por lojas que em sua maioria estavam fechadas, e diminuir a velocidade.

𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora