Capítulo 8

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Dorian tinha passado por três estágios diferentes de cansaço nas últimas duas horas. De "em um nível preocupante de sono", para "a um passo perigosamente pequeno de dormir", e o último: mortalmente entediado.

Quando o último homem enfim saiu pelas portas, o rei ficou surpreso por não ter caído para trás e levado a cadeira com ele. Antes que pudesse se levantar, sair daquele lugar por cinco minutos, ou fazer qualquer outra coisa, sua magia se agitou, e ele não precisou que os cabelos branco-prateados surgissem na porta para saber que Manon entraria na sala.

Ele piscou e o sono pareceu desaparecer tão rápido quanto tinha chegado. Talvez Dorian devesse deixar a bruxa encostada em uma parede, encarando todos com um olhar ameaçador durante as próximas reuniões. Com certeza o tédio não seria mais um problema.

— Eu nunca vi você parecer estar se divertindo tanto. — Manon murmurou, fechando a porta atrás dela.

— Quão divertidas são as suas reuniões?

Ela não respondeu, mas fez uma careta que deixou a resposta evidente.

— Abraxos está melhor? — Dorian perguntou.

Ele se lembrava de ela ter dito que a serpente alada não tinha descansado o suficiente na noite anterior, logo antes de ser dispensado. O rei engoliu em seco, tentando tirar o gosto azedo da boca. Ele passou horas em claro quando chegou no próprio quarto, tentando calar os pensamentos incessantes que preencheram o espaço vazio trazido pelo silêncio, até finalmente conseguir dormir.

— Sim. E eu tenho certeza de que os seus jardineiros me odeiam agora.

Ele sorriu, observando a janela com o canto dos olhos. Alguns metros abaixo, Abraxos estava balançado alegremente o rabo coberto por espinhos de ferro.

— Acho que eles estavam tão entediados quanto eu antes de ter uma besta desse tamanho de olho nas flores.

Os olhos dela brilharam com diversão, e Dorian quase caiu para trás de fato, quando ela deixou uma pontada de carinho transparecer ao olhar para Abraxos. Foi tão surpreendente e hipnotizante quanto o momento em que ela riu no restaurante.

O rei nunca a viu dar uma risada sincera antes. E queria ouvir aquele som outra vez. Ele achava que Manon não podia ficar mais bonita do que quando estava irritada, mas descobrira que não chegava nem perto de como ela ficava quando sorria. E do mesmo modo que segundos depois ela fechara a cara de novo, antes que ele pudesse olhar melhor, os olhos dela voltaram ao normal, e o sentimento não estava mais ali.

Ela ergueu as sobrancelhas, notando a atenção dele.

— O que foi?

— Nada. — Dorian disse, piscando e desviando o olhar. Se ela percebesse a frequência com que o rei a encarava ele não conseguiria nem inventar uma desculpa decente. Ele se levantou, dando a volta na mesa para mais perto de onde ela estava.

— O que você veio fazer aqui — perguntou, com curiosidade genuína. Ele não esperava vê-la tão cedo, não até estar livre das obrigações do dia.

Manon passou os olhos pelos mapas antigos nas paredes, com tanta atenção nos pedaços antigos de papel e tecido que o fez se perguntar se ela estava pensando nos desertos.

— Nada. Yrene Towers me chamou para almoçar com ela.

Dorian sorriu. É claro que tinha chamado.

— E você não quer?

— Não é isso. Eu não — ela se interrompeu e fez uma pausa um tanto demorada. Toda vez que a bruxa fazia aquilo, parecia que a curiosidade dele era fogo e ela estava tentando apagá-la com óleo. — Ela parece gostar de mim. Não entendo bem o motivo.

𝐌𝐀𝐍𝐎𝐑𝐈𝐀𝐍- 𝐖𝐀𝐑 𝐎𝐅 𝐇𝐄𝐀𝐑𝐓𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora